quinta-feira, 11 de junho de 2009

As notas do jogo

Jogo da seleção sempre tem nota para os jogadores. Eu, que sempre quis fazer isso, resolvi não perder mais tempo:

Júlio César: 7,5. Não foi exigido e não teve culpa no gol. Talvez devesse ter colocado um homem a mais na barreira, que só teve quatro jogadores, número pequeno para uma falta frontal e, ainda por cima, cobrada pelo Cabañas.

Dani Alves: 8,5. Apoiou com eficiência e compôs bem a defesa. Deixou bem claro que tem muito mais habilidade do que o Maicon, além de enxergar melhor o jogo. É também a melhor opção que o time tem para as bolas paradas.

Lúcio: 8,5. Esteve muito raçudo, como sempre, e implacável na marcação, como de costume também. Não obstante, nas vezes que se aventurou no ataque criou boas jogadas. Isso já é mais raro.

Juan: 7,0. Me dói dizer, mas percebi um começo de instabilidade no desempenho dele. Fez a falta que originou o gol do Paraguai depois de tomar um drible do Cabañas. Fiquei com a impressão de que a velha segurança do Juan pode estar no começo do declínio. Talvez tenha sido só impressão. Espero.

Kléber: 7,0. Entrou com a clara intenção de preencher o espaço defensivo pela esquerda e não comprometer. Não comprometeu e preencheu o espaço. Mas é pouco para um jogador de seleção.

Gilberto Silva: 4,0. Não toma a bola de ninguém, é lento, só dá passe para trás, isso quando não entrega a bola para o adversário. Não dá para entender o que continua fazendo ali.

Felipe Melo: 9,0. O melhor do jogo. Parece que veste a camisa da seleção há seis séculos e não há seis jogos. Um maestro. Vide a postagem abaixo.

Elano: 5,0. A exemplo de Gilberto Silva, não jusitifica a presença no time. Qual é a função dele? Não vejo o Elano desarmar os adversários nem criar jogadas para o Brasil. E quando pega a bola, faz um passe burocrático. Hernanes já!

Kaká: 8,0. Infelizmente não é um craque. Dizer isso me dói também. Não podemos contar com o Kaká para armar, porque ele não tem a habilidade e a visão de jogo para isso. O negócio dele é correr em direção ao gol. Ontem errou passes, principalmente no primeiro tempo, mas no segundo deu duas arrancadas que o redimiram. Ponto positivo: Kaká é inteligente e tem personalidade para chamar o jogo e tentar resolvê-lo. Não se esconde. "Mete os peitos" .

Robinho: 8,0. O gol foi bonito e não era uma bola fácil. Mas o Robinho errou alguns passes e não soube dar continuidade a alguns bons contra-ataques no segundo tempo. Duas bolas que deveria ter tocado para o Kaká, preferiu a jogada individual e prejudicou o ataque.

Nilmar: 7,0. O gol e mais nada. Mas vale a pena continuar investindo nele. (Ainda que o Pato seja melhor.)

O monstro da camisa nº 5

Amigos, estou abalado pelo que fez Felipe Melo no jogo da seleção. É tamanho o meu assombro que acho difícil até de encontrar palavras, mas se disser que ontem tive a impressão de ver o Gérson em campo acho que não estaria exagerando.

Em tempo: nunca vi o Gérson jogar. Só que imagino que os volantes de classe sejam todos parecidos entre si. Desarmam com eficiência e sem faltas, pegam bem na bola, têm um passe refinado, chutam de fora e, sobretudo, correm com elegância.

Dois lances do Felipe foram geniais. O passe para o gol, claro, e uma trivela que ele dá na bola virando o jogo da esquerda para a direita, no pé do Dani Alves. Que trivela! Quis abraçar meu irmão naquela hora, de tanta emoção, mas ele jé estava abraçando meu outro irmão.

Felipe Melo é uma inteligente descoberta do Dunga. Ou seria do Jorginho? Prova de que alguém na comissão técnica realmente acompanha o futebol mundo afora e não se prende apenas aos jogos dos grandes times. E mais: que alguém lá sabe identificar um grande jogar quando vê um pela frente. Quem diria!

Hoje ouvi comentaristas dizerem que o Felipe firulou em alguns lances e que estava seguro até demais. Quer dizer, poderia ter sido mais brucutu. Não dá para entender. Será que o Dunga também pensa assim? Ontem ele deu uma esbravejada depois de um toque um pouco mais rococó do volante. Era só o que faltava: quando uma das invenções do Dunga finalmente dá certo, ser sacada do time por excesso de habilidade.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O futebol não morreu

Tem alguns velhos saudosistas que adoram dizer que o futebol perdeu a graça. Que de 82 pra cá ninguém mais se interessa pela seleção. Como se a geração deles fosse a única com o direito de torcer. Velhotes, lamento, muita gente ainda gosta do bom esporte bretão, mesmo depois da aposentadoria do Zico. Aqui está a prova. Amigos que há muito não se veem encontram um tempo em suas atribuladas rotinas para trocar ideias sobre times, jogadores e campeonatos. Tudo por e-mail, o que também deve ofender o bom saudosista, deprimido até hoje com o fim do telégrafo.

Amigo 1:Com Kaká no Real, o campeonato italiano fica cada dia mais sem graça. A insossa Inter, a decadente Juventus e o envelhecido Milan.

Fetão, que futebol é esse que andam vendo? Os comentaristas falaram maravilhas da atuação do Brasil contra o Uruguai.


Amigo 2:O Kaká tem tudo para se afundar no Real. O time é muito bagunçado, o Flamengo da Europa. Mas boto fé no técnico novo, aquele Pellegrini. Ele fez o Villareal voar baixo há duas temporadas, quem sabe consegue pôr ordem nos merengues.

E talvez o próximo campeonato italiano seja atraente. Com Pato no Milan, Diego na Juventus e possivelmente Felipe Melo na Inter, nós, brasileiros, teremos motivo para assistir aos jogos. Se esses jogadores resolverem destruir, então fica melhor ainda.

Felipe Melo, aliás, não chega a me ofender no meio-campo da seleção. Acho até que o cara merece uma vaga de titular. GIlberto Silva não.Eu escalaria assim: Felipe Melo de primeiro volante, Elano de segundo, Diego e Kaká.

Gostei do Brasil contra o Uruguai, com a ressalva de que o time deles é muito fraco e de que o Brasil só jogou no contra-ataque. Quando precisa furar uma retranca, a seleção se complica. É porque falta jogador criativo e inteligente. Kaká é uma flecha, não um cérebro. Hoje fica 0x0. E não entendo a discussão Pato ou Nilmar. Ninguém vê futebol. Pato é muito melhor.


Enquanto conversas como essa continuarem sendo travadas por puro prazer e com todo o ardor da alma, o futebol sobreviverá.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A notícia que abalou o Brasil (e o mundo)

Nunca vou me esquecer do 25 de maio de 2009. E da sensação de vazio que me deu quando vi na TV anunciarem a ida do Obina para o Palmeiras. Parecia que ele nunca iria sair do Flamengo, parecia que iria se aposentar lá, ganhar um busto de bronze, virar nome do futuro CT, do futuro estádio. Mas agora, sem mais nem menos, o Brasil é surpeendido com a notícia de que o casamento entre o Obina e o rubro-negro acabou. O que será de ambos daqui para frente?

Talvez o Palmeiras obtenha alguma vantagem nessa negociação, porque pode ser que o Obina faça alguns gols por lá, hipótese que não deve ser descartada, como também não deve ser descartada a hipótese de que ele não faça gol nenhum. Fora isso, são irreparáveis os danos para o jogador, para o Flamengo e para o futebol brasileiro.

Obina deixa o clube e a torcida que o transformaram em um mito. Ao vestir outro uniforme, enfraquece a imagem que conquistou no imaginário do torcedor brasileiro. Já o Flamengo perde o maior símbolo que teve depois da era Romário. E o futebol brasileiro perde o personagem mais folclórico que apareceu na década. Longe do Flamengo, Obina é só mais um centroavante atrapalhado.

Por toda a graça que trouxe para os gramados, torço pelo Obina. Tanto que em 2007, quando ele rompeu os ligamentos do joelho fazendo um gol contra o Vasco, eu fiquei triste a ponto de pensar que trocaria de bom de grado a minha rótula com a dele.

Para a lenda não morrer, dois cenários seriam ideiais. No primeiro, Obina faz o gol do título do Palmeiras na Libertadores, ou então no Mundial interclubes, contra Manchester ou Barcelona. No segundo, Obina, que até agora não fez gol em 2009, continua sem marcar até o fim do ano e terminara a temporada como único artilheiro "virgem" do Brasil. Viraria santo. Obina, o Imaculado.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dunga, mais uma vez, faz lambança

A nova convocação da seleção brasileira tem a mesma característica básica de todas as outras feitas na Era Dunga. É capenga. O treinador gosta de dizer que pauta o trabalho pela coerência, razão pela qual não faz mudanças radicais no time. A coerência de Dunga é insistir nos erros. A esse tipo de atitude os dicionários dão outro nome, menos nobre.

A principal falha é a lista de convocados para o meio-campo: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Josué, Júlio Batista, Kaká, Ramires e Anderson. Quem deles se notabiliza por armar o jogo? Onde está a criatividade, o drible, a inteligência? Fora o Kaká, os outros sete são jogadores rigorosamente comuns. Gilberto Silva e Josué, aliás, são menos que isso, são abaixo da média. Esse não é um meio-campo para a seleção brasileira. Se me disserem que não temos nada melhor para pôr no lugar, então a crise em nosso futebol é seríssima e talvez seja a hora de decretar falência técnica.

A ausência do Diego é imperdoável e a do Hernanes também. Dunga parece ter aversão à técnica e ao requinte. É próprio dos brucutus temer a habilidade. Ela pode ameaçar o modelo mecanizado e pragmático que o técnico impõe à seleção.

Com esses convocados de meia-tigela Dunga parte para enfrentar a sequência de jogos mais difícil que já teve à frente do time. Pelas eliminatórias, Paraguai dentro de casa e Uruguai em Montevidéu. Em seguida, a Copa das Confederações na África do Sul. Vai ser talvez a última chance dele balançar no cargo. Se o Dunga sair ileso do mês de junho, será inevitável: vai para a Copa do ano que vem, com toda a sua coerência.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Barcelona: um espírito

O Barcelona, mesmo quando não é brilhante, emociona. No jogo de ontem contra o Chelsea não foi o carrossel das últimas partidas, mas procurou o ataque o tempo todo, pouco ligando se jogava fora de casa. Isso, no futebol de hoje, é coisa para loucos. Há certa carência de loucura no mundo.

Falamos de um time que deu vida à utopia. Graças ao Barcelona, caiu a falácia de que espetáculo e resultado são objetivos inconciliáveis. O estrago causado pela derrota do Brasil em 82 é aos poucos reparado pelas glórias do time catalão. O Chelsea representa exatamente oposto - era fundamental que não triunfasse. Ontem o sonho subjugou a realidade; a fantasia, o pragmatismo.

A seleção brasileira poderia se inspirar nesse exemplo, mesmo porque tem à disposição os jogadores mais hábeis do mundo. Mas o time desperdiça, ano após ano, a oportunidade de encantar e fazer história. Prefere colecionar empates e vitórias pouco convincentes. Dunga chama a isso "o futebol moderno". Falta ao treinador, mas não só a ele, a várias pessoas do nosso tempo, em todos os campos de atividades, um pouco do Espírito Barcelona. Uma força que nos impele a buscar o sublime, mesmo que isso nos coloque ainda mais próximos do fracasso. Eis um exemplo: numa aula da faculdade, o professor, defendendo o pragmatismo e o pé-no-chão na atividade artística, perguntou:

- Por que tentar, a cada trabalho, fazer a obra de nossas vidas?

E um aluno, talvez a mesma pessoa que escreve estas linhas, respondeu:

- Porque pode ser a última.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Enfim, justiça!

A crônica, quando quer, é muito eficiente em rotular personagens do futebol. Nem sempre com o bom senso que tanto lhe caracteriza. Alguns jogadores e técnicos recebem pechas injustas. Mas sabemos que nisso não há maldade.

Cuca, por exemplo. Estava prestes a entrar para a história como o rei dos vices, o grão-perdedor. Não se levava em conta o fato de que para perder finais é preciso chegar até elas, o que dá trabalho. Também ignorava-se (ou esquecia-se, porque sabemos que lapsos de memória podem acometer também as melhores mentes) que o Botafogo, antes da chegada do Cuca, estava cada vez mais firme no seu papel de mero coadjuvante do futebol nacional. E que foi, graças ao técnico, recolocado no mapa. Mas isso também parecia não ter importância e a própria torcida alvinegra fez questão de deixar claro que, longe de gratidão, tem mesmo é ressentimento do Cuca.

O título do domingo fez justiça a um técnico competente que vinha sendo perseguido. Além do mais, o Botafogo aguentaria ser tri-vice; Cuca, não. Seria demais para um homem só.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Virou bagunça, mas está legal

Com o golaço do Ronaldo no jogo de ontem contra o Santos, fica sacramentada de vez a bagunça no atual futebol brasileiro. Fora do campo ela já imperava há tempos. Agora grassa também no gramado.

Não pode ser sério um campeonato em que um sujeito com aquela exacerbação física faça os gols que fez. Já foi difícil de engolir quando Ronaldo marcou de cabeça contra o Palmeiras, logo ele que nunca foi de cabecear. Depois veio aquela arrancada do meio do campo, em que o pesado atacante deixou o zagueiro do São Paulo, Rodrigo, comendo poeira, e ainda chegou antes do goleiro para dar um toque sutil para as redes. Ali o surreal já tinha se estabelecido. Mas aí veio o dito gol contra o Santos. Um absurdo total.

Quer dizer, a gente achava que o futebol praticado no Brasil tinha um certo nível, uma certa qualidade, mas fica provado o contrário. É várzea mesmo, das grossas. Se Ronaldo procurava um lugar para voltar a se divertir jogando bola, fez a opção certa. Só falta o churrascão na beira do campo.

Longe de mim reclamar de tudo isso. Quanto mais longe do alto rendimento e do profissionalismo estiver nosso futebol, melhor. Bonito é o folclore, é a paixão do torcedor. Qualidade técnica, se tiver, é bem-vinda, mas não essencial.

Por isso, eu, que não gosto do Ronaldo, estou começando a ficar fã. O futebol no Brasil vem passando por um momento meio chato, em que foi infectado pela busca da eficiência, dos resultados, pela mentalidade dos gerentões modernos. Gente séria e sem-graça. O Ronaldo apresenta um caminho alternativo: propaganda de cerveja, badalação, descaso com o preparo físico e gols no fim de semana.

Coisas assim fazem a gente rir do futebol. Atletas certinhos e times impecáveis, como querem os paladinos da eficiência, não arrancam risadas do público, no máximo aplausos. E aí viraria campeonato alemão. Ou então, tênis.

domingo, 29 de março de 2009

Bota o Pato

Mantra do momento: "Dunga, bota o Pato". Não consigo entender como é que até agora ele não virou titular da seleção. Jovem de 20 anos, está na sua segunda temporada no Milan, a primeira como titular, e é o artilheiro do time na Série A, com 14 gols. Está a cinco do goleador da competição, que tem 19. Faz gol jogo sim, jogo também, e por isso deixou os consagrados Inzaghi e Shevchenko esquecidos no banco de reservas.

Mas não são só as estatísticas. O Pato é um finalizador único no futebol mundial. Domina todos os segredos do arremate: vai bem de cabeça, chuta forte com as duas pernas, bate de primeira, por cobertura, com efeito. Prova do que eu estou dizendo é o primeiro gol dele pela seleção. Naquele amistoso contra a Irlanda, em que o goleiro rebateu mal a bola e o Pato, com um toque apenas, colocou por cobertura de fora da área. Ali estava escrito: "o rapaz tem faro".

Por algum motivo incompreensível, torcida, treinador e imprensa ainda não veem o Pato como jogador consolidado. Nessas últimas semanas falaram em Keirrison e até numa volta de Ronaldo para a seleção. Como se não tivéssemos um centroavante pronto para 2010. No fundo, acho que pouca gente realmente assiste futebol no Brasil. A maioria opina do nada.

Na cabeça do Dunga deve passar aquele raciocínio: "tenhamos paciência com o garoto, vamos deixá-lo amadurecer". O que o Elano fez na vida que o Pato ainda não tenha conseguido? Ou o Maicon? Ou o Gilberto Silva? A lógica do Dunga, na verdade, é a seguinte: os brucutus são homens de confiança. Já os habilidosos representam um perigo para a autoridade do técnico. Eles são irreverentes e desobedientes demais

Nosso atual camisa nove, o Luís Fabiano, infelizmente já deixou o auge da carreira para trás. E até a Copa ainda leva um ano, o que significa que a decadência pode se acentuar. Já o Adriano, em tese o reserva imediato, não deveria nem ser convocado. Perdeu-se completamente na carreira.

Assim que o jogo de hoje começar, na altitude de Quito, também eu começarei um ritual lá em casa. "Bota o Pato, bota o Pato..." Ele foi o que de melhor apareceu no ataque brasileiro depois do Ronaldo. Não vale a pena ser desperdiçado.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O alambrado

Faz um tempo que eu não simpatizo com o Ronaldo, o Fenômeno. Precisamente desde 2003, quando, na minha opinião, ele começou a atrapalhar a seleção brasileira. Já ali tinha se tornado um jogador fora de forma e descompromissado com a própria carreira. Mas mesmo assim permanecia intocável no ataque do time. E o Luís Fabiano, que comia a bola na época, esquecido na reserva. Ronaldo sempre foi protegido da imprensa e dos dirigentes.

Estou longe de achar o Ronaldo um mito do futebol, que é como ele vai entrar para a história. É o típico caso do jogador que tem muito mais marketing do que competência. O que não significa que tenha sido mau centroavante, pelo contrário. Foi acima da média em certos momentos de sua carreira, principalmente nos anos de 96, 97 e 98. Mas nunca teve a genialidade de outros colegas de posição, contemporâneos dele, como o Romário e o Henry. Além disso, o Rivaldo foi mais importante na conquista de 2002 - outro ponto em que a história fará injustiça.

Antipatias à parte, gostei do gol que ele fez contra o Palmeiras. Gostei principalmente da comemoração e da derrubada do alambrado. Quando uma cena dessas aconteceria nos estádios europeus? Ronaldo mostrou que está disposto a, enfim, relaxar jogando futebol. Divertir-se como um garoto na pelada. Desde muito cedo na carreira ele foi cobrado por resultados e por um desempenho sempre impecável. Na copa de 98, por exemplo, não era mais que um adolescente e tinha um país todo pra carregar nas costas. Parece que agora o Ronaldo quer brincar com o esporte. Escolheu o Brasil para essa nova e última fase da carreira.

Sinceramente, se ele conseguir trazer para os jogos o mesmo espírito lúdico que despertou ao comemorar o gol no alambrado, com se estivesse na várzea, ou nos românticos tempos do cachorro com lingüiça, como diria o Felipão, terá dado talvez a sua maior contribuição para a história do nosso futebol. Ronaldo, ainda que involuntariamente, pode reatar o futebol brasileiro com suas raízes: pouco profissionalismo, muita descontração. Torçamos por ele.

domingo, 1 de março de 2009

No futebol e na vida

Um dos clichês mais chatos dos cronistas esportivos metidos a poetas é insistir no futebol como um pequeno universo mágico no qual estão contidos todos os mistérios da existência. Usam sempre aquela frase, "no futebol, como na vida...". Já cansei de ler e ouvir isso por aí. O que esses comentaristas querem é atribuir um ar de grandeza ao trabalho deles. "Eu não falo apenas de futebol, eu falo do universal". Como se escrever "apenas" de futebol fosse pouca coisa.

Mas hoje é dia de dar o braço a torcer e pedir licença aos filósofos da crônica esportiva para usarmos um pouco de sua sabedoria. Porque vendo o jogo do Botafogo contra o Resende, naquele Maracanã emocionante de tão lotado, o que me passou pela cabeça foi o seguinte: no futebol, como na vida, tudo o que as pessoas querem é uma chance para se deixar iludir.

Sabemos muito bem que a final de hoje representa pouquísimo ou quase nada para a história do Botafogo. Um título da Taça Guanabara, atualmente, equivale mais ou menos ao de um torneio de verão, daqueles de tiro curto, que servem só para aquecer os tamborins para o filé mignon da temporada. Ainda se a partida fosse contra um dos grandes rivais, alguma euforia era justificada. Mas do outro lado do campo estava o inexpressivo Resende, um adversário tão fraco que em nada poderia contribuir para tornar o jogo interessante.

Por isso foi surpreendente ver 75 mil botafoguenses cantando no Maracanã. Entendi que, no fundo, o torcedor só quer um motivo, mínimo que seja, para mostrar o orgulho que tem do seu time. Isso é bonito, é como dizer: "eu te amo, mesmo sabendo que seus feitos não valem tanta coisa assim".

Não há dúvida de que os botafoguenses estarão insuportáveis ao longo da semana, comemorando a Taça Guanabara como se tivessem levado a Copa do Mundo. Vai ter gente falando que o time é um dos favoritos para o Brasileiro. Paciência. Alguns deles até sabem que há uma dose de exagero nisso tudo, mas mesmo assim se permitirão viver a fantasia, enquanto ela durar. Pode ser só até o próximo jogo.

Essa foi uma boa lição, ganhei o domingo. Às vezes a gente acha que é ridículo se entregar ao devaneio, que a realidade deve ser encarada com o máximo de rigor e racionalidade. Não surpreende cotidiano ser um fardo para a maioria de nós. Talvez seja hora de nos consentirmos um pouco mais de ilusão. No futebol e na vida.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tem dias em que a arquibancada vira trincheira

Não tem nada mais desagradável no futebol do que a violência entre os torcedores. Esses poucos encrenqueiros estragam a diversão da imensa maioria quando resolvem transformar a festa que deveria ser uma partida numa batalha campal. Eu fico extremamente constrangido em comemorar gol em dias que há mortes antes dos jogos. Não tem clima. A mais importante das finais não está acima de uma vida.

A principal razão para a violência no futebol é que existe um tipo de torcedor cujo maior prazer é brigar. É esse o objetivo dele quando resolve se filiar a uma organizada. O animal quer testar o poderio de seu grupo contra os rivais. Ele quer encher a boca para dizer " a minha galera trucida a sua". Esse tipo de raciocínio é incompreensível para as pessoas normais. Mas Freud deve saber explicar.

Lembro que em 2005 eu fui assistir a um treino do Flamengo aqui em Brasília. Fiquei na arquibancada com cerca de mil torcedores de uma organizada que vieram do Rio. Os caras passaram o treino inteiro cantando. Só que as músicas não eram de incentivo ao Flamengo. Eram de provocação às outras torcidas cariocas - que, diga-se de passagem, não tinham nenhum integrante ali perto para ouvir os insultos. Quer dizer, esse pessoal pode até gostar de futebol, mas, em primeiro lugar, eles gostam mesmo é de sangue.

Não adianta limitar o número de torcedores visitantes no estádio - como parece que vai ser a solução adotada pelas autoridades - porque as brigas agora não se restringem às cercanias da arena de jogo, elas acontecem em qualquer lugar da cidade. No último fim de semana, por exemplo, um torcedor do Atlético foi assassinado por cruzeirenses num ponto de Belo Horizonte que não fica necessariamente perto do Mineirão. Fazer um jogo só com a torcida do mandante além de empobrecer o espetáculo não vai diminuir os conflitos entre os bárbaros.

Torcedores do Brasil inteiro deveriam se espelhar nos do nordeste. Lá o futebol é encarado com intensa paixão, mas de forma saudável. O que a torcida do Sport fez nessa semana foi simplesmente tocante. Não só lotou o aeroporto de Recife para se despedir dos jogadores que iriam estrear na Libertadores contra o Colo-Colo, em Santiago, como estava também na capital chilena para recepcionar o elenco. E quando o Sport voltou para casa, com a vitória histórica na bagagem, lá estavam outra vez milhares de aficcionados para ovacionar Paulo Bayer, Ciro e cia. Isso me comoveu. Vou torcer desesperadamente para os pernambucanos nessa Libertadores.

Porque o triunfo do Sport será também o triunfo do futebol visto como fonte "apenas" de entretenimento, de emoções e de graça. Do futebol que nos leva a morrer por nosso time, mas de forma exclusivamente metafórica.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Falar mal de quem agora?

Faz muito bem para a saúde de um país ter inimigos públicos. Alguém que cumpra a nobre função de bancar o para-raio da frustração e da indignação nacional. Isso une as pessoas, nos faz irmãos. E permite que a sociedade encontre sempre um bode expiatório para seus males.

Esse papel historicamente coube aos políticos. Mas tem ficado cada dia mais sem graça enxovalhar as excelências. A classe política, em mais um golpe de mestre, resolveu ela mesma execrar seus membros comprovadamente corruptos e prevaricadores, privando o populacho de tão sublime prazer. O caso do deputado do castelo, por exemplo. O partido resolveu desfiliar o sujeito antes mesmo que desse tempo da gente se indignar com a história, ir para as ruas com faixas de protesto, cantar Vandré a plenos pulmões. Peraí! E a nossa primazia consagrada de esculachar todos os políticos e seus partidos? Até isso querem nos tirar.

Outro que sempre serviu de Judas no sábado de Aleluia é o técnico da seleção. E desde que o Dunga assumiu estávamos muito bem servidos nesse ponto. Não faltava motivo para falar mal, extravasar nosso descontentamento, aplacar nossa fúria. Aquela incompetência parecia inesgotável, um prato cheio para todas as antipatias. Mas olha o que a seleção fez ontem! Assim não dá.

Foi a melhor partida do Brasil desde 2006. Um futebol de dar gosto, com toque de bola vistoso, dribles, criatividade, marcação inteligente, até parecia... a seleção brasileira! Quase todos os jogadores foram bem. O caso mais intrigante, no entanto, foi o do Felipe Melo. Ele nunca tinha jogado pela seleção e era inimaginável que um dia sequer passasse perto de ser convocado. Escondido nos rincões do futebol europeu - teve passagens por equipes sem expressão da Espanha até se transferir para a Fiorentina -, foi lembrado pelo Dunga para o amistoso contra a Itália. Ninguém entendeu nada. Pois Felipe Melo não só foi convocado, como entrou de titular. E pior: jogou muito.

Portanto está ficando constrangedor falar mal do Dunga. Só nos dois últimos jogos, a seleção fez 6 a 2 em Portugal e 2 a 0 na Itália. Se as coisas continuarem assim, o brasileiro vai ter que procurar outra pessoa para espicaçar, e urgentemente. Ou pelo menos até o próximo jogo das Eliminatórias.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Política e futebol

Até então eu estava me importando muito pouco, ou quase nada, com os chiliques do governo italiano na interminável novela Cesare Battisti. Não que eu tenha sido favorável à decisão de mantê-lo aqui, sob asilo político, achei até que o Tarso Genro foi no mínimo deselegante com o nosso país amigo. Se a Itália, república democrática e soberana, vê motivos em prender o homem, e se é inegável que ele matou pessoas, por que não despachá-lo? Mas, sinceramente, não cheguei a me comover com o tema, a ponto de defender com unhas e dentes este ou aquele ponto de vista.

Até que a política resolveu enfiar os seus bedelhos no futebol. Isso sim é desegradável. Hoje autoridades italianas sugeriram que o amistoso entre a seleção deles e a nossa, marcado para o dia 10, fosse cancelado. Pode? Chamem o embaixador deles de volta, isso é legítimo. Envolver o futebol no meio, aí não. Política e esporte não devem se misturar. O esporte é um espaço sagrado de congregação mundial, onde os povos põem as diferenças de lado em nome de uma paixão comum, nem que seja por noventa minutos, e, eventualmente, os trinta da prorrogação.

Lembram, por exemplo, quando o Santos do Pelé fez um amistoso no Líbano e o país, que estava em guerra, teve um dia de trégua só para assistir ao jogo? Ou a memorável pelada entre judeus e soldados alemães em plena segunda guerra mundial? Ou o Brasil x Haiti, quando as estrelas Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e cia. levaram um pouco de alegria para a combalida cidade de Porto Príncipe?

Por essas e por outras o esporte deve ser preservado dos tentáculos da política. Sabemos o quanto isso é difícil, e é por isso mesmo que vale a pena lutar para que ambos mantenham a maior distância possível um do outro. Agora, não dá para negar que o amistoso contra a Itália, que tinha tudo para ser mais um jogo insosso - como têm sido os confrontos entre seleções internacionais nos últimos anos - ganhou tempero graças aos recentes atritos diplomáticos. E já que se chegou a esse ponto, o melhor é aproveitar para tirar chacota com a cara dos italianos. Imaginem a cena: o Robinho faz uma jogada daquelas, mete umas canetas nos zagueirões duros, deixa o Materazzi estatelado no chão, aplica o da vaca no Buffon e empurra de letra para o gol vazio. Na comemoração, tira o uniforme da seleção para mostrar ao mundo inteiro a camisa que ele veste por baixo, estampada com a foto do Battisti e os dizeres " eô, eô, o Cesare é um terror". Seria demais.