sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Tem dias em que a arquibancada vira trincheira

Não tem nada mais desagradável no futebol do que a violência entre os torcedores. Esses poucos encrenqueiros estragam a diversão da imensa maioria quando resolvem transformar a festa que deveria ser uma partida numa batalha campal. Eu fico extremamente constrangido em comemorar gol em dias que há mortes antes dos jogos. Não tem clima. A mais importante das finais não está acima de uma vida.

A principal razão para a violência no futebol é que existe um tipo de torcedor cujo maior prazer é brigar. É esse o objetivo dele quando resolve se filiar a uma organizada. O animal quer testar o poderio de seu grupo contra os rivais. Ele quer encher a boca para dizer " a minha galera trucida a sua". Esse tipo de raciocínio é incompreensível para as pessoas normais. Mas Freud deve saber explicar.

Lembro que em 2005 eu fui assistir a um treino do Flamengo aqui em Brasília. Fiquei na arquibancada com cerca de mil torcedores de uma organizada que vieram do Rio. Os caras passaram o treino inteiro cantando. Só que as músicas não eram de incentivo ao Flamengo. Eram de provocação às outras torcidas cariocas - que, diga-se de passagem, não tinham nenhum integrante ali perto para ouvir os insultos. Quer dizer, esse pessoal pode até gostar de futebol, mas, em primeiro lugar, eles gostam mesmo é de sangue.

Não adianta limitar o número de torcedores visitantes no estádio - como parece que vai ser a solução adotada pelas autoridades - porque as brigas agora não se restringem às cercanias da arena de jogo, elas acontecem em qualquer lugar da cidade. No último fim de semana, por exemplo, um torcedor do Atlético foi assassinado por cruzeirenses num ponto de Belo Horizonte que não fica necessariamente perto do Mineirão. Fazer um jogo só com a torcida do mandante além de empobrecer o espetáculo não vai diminuir os conflitos entre os bárbaros.

Torcedores do Brasil inteiro deveriam se espelhar nos do nordeste. Lá o futebol é encarado com intensa paixão, mas de forma saudável. O que a torcida do Sport fez nessa semana foi simplesmente tocante. Não só lotou o aeroporto de Recife para se despedir dos jogadores que iriam estrear na Libertadores contra o Colo-Colo, em Santiago, como estava também na capital chilena para recepcionar o elenco. E quando o Sport voltou para casa, com a vitória histórica na bagagem, lá estavam outra vez milhares de aficcionados para ovacionar Paulo Bayer, Ciro e cia. Isso me comoveu. Vou torcer desesperadamente para os pernambucanos nessa Libertadores.

Porque o triunfo do Sport será também o triunfo do futebol visto como fonte "apenas" de entretenimento, de emoções e de graça. Do futebol que nos leva a morrer por nosso time, mas de forma exclusivamente metafórica.

Um comentário:

Guilherme Sousa Rocha disse...

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