terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma questão nacional

Um novo craque brasileiro desponta para o mundo do futebol. É Amauri, o monstro da Juventus de Turim. No clássico de domingo, contra o Milan, quem foi pra ver Pato, Ronaldinho ou Del Piero teve uma surpresa. Viu Amauri, seus dois golaços e mais passes e dribles desconcertantes.

Amauri é mais um desses que a gente nunca assistiu jogar em time brasileiro. Aos vinte e sete anos de idade, construiu toda a carreira na Europa mesmo. Temporada passada defendeu o Palermo da série A italiana. Jogou bem e as atuações lhe renderam a transferência para a Juventus. Em 2007 já se falava no nome dele, a imprensa da Itália especialmente. Mas nós, brasileiros, não dávamos muita importância. Nossa prepotência no futebol nos impede de dar atenção para alguém que se destaca no Palermo e não começou a carreira no Flamengo ou no Corinthians, por exemplo.

Mas Amauri se mostra maior que qualquer preconceito. Ele não sofria com o ataque dos críticos. Pior, sofria com a indiferença. Ninguém falava nele. Amauri é como se não existisse para o noticiário esportivo brasileiro. Domingo, podemos entender assim, Amauri nasceu para o nosso futebol. Muito prazer.

Só lamento que talvez tenhamos sido apresentados tarde demais. É possível que Amauri nunca venha a, enfim, fazer parte do futebol brasileiro. A federação italiana de futebol já namora o jogador. Amauri, que nunca atuou pela nossa seleção, pode se naturalizar italiano para defender a azzurra. Quem pode condená-lo? Ele tem vinte e sete anos, sua carreira até outro dia era mergulhada no mais absoluto anonimato, é natural que a possibilidade de defender uma seleção, a pouco mais de um ano para a Copa, lhe mexa com a cabeça. E quanto ao patriotismo, é bom lembrar que a seleção do Brasil nunca deu mostras de se interessar por Amauri. O enjeitado procura quem o valoriza.

Por isso levanto aqui uma bandeira. Dunga, convoque o Amauri. E é pra já, porque os italianos estão ávidos por naturalizá-lo. Eles não vão perder um só segundo e lançarão mão de todas as seduções e vantagens que o país da bota pode oferecer. Sugiro que a CBF marque um amistoso relâmpago para as próximas semanas, um Brasil e amigos do Ronaldo que seja, só para o que o Amauri seja convocado. De forma que ele não poderá atuar por nenhuma outra seleção do planeta.

Essa sim é uma questão pela qual vale lutar. Nesse final de ano, é um míope político e social aquele que se preocupar com a crise financeira e seus reflexos na economia interna. O Brasil tem que se concentrar em Amauri. Ou então, em 2010, vai ter motivos de verdade para entrar em recessão - moral.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Estrategista das sombras

Não é por ter ganhado o título ontem, é por tudo que mostrou ao longo da carreira que o Tite seria uma alternativa interessante para o lugar do Dunga. Ele já provou não é simplesmente um desses técnicos gauchões, como o Mano Menezes, Adílson ou o próprio Dunga, que montam times mordedores, raçudos, mas sem inspiração. Com o Tite a história é diferente. As equipes dele sabem o que fazer com a bola no pé e, apesar de defenderem com competência, têm vocação ofensiva. Ideal para o reerguer futebol brasileiro.

Este atual Inter é o melhor time do país. Teria levado o campeonato brasileiro se não tivesse demorado tanto tempo para terminar de montar o elenco. Por merecimento, é o campeão de 2008. Se algum técnico deve sair consagrado do torneio, este é o Tite.

Eu me lembro de um caso, quando ele era treinador do Corinthians, lá por 2004. À noite o noticiário esportivo trouxe a seguinte informação: no último treinamento antes de enfrentar o adversário do fim de semana, Tite faz coletivo entre titulares e ninguém. Eram onze contra zero. Não se tem notícia, em todo o futebol mundial, antes ou depois daquele dia, de tática sequer parecida. Foi quando eu vi que ali havia um treinador diferenciado. Alguém que soube trazer para o futebol a eterna batalha entre o homem e o nada.

domingo, 23 de novembro de 2008

Do outro lado da savana

Por ter passado a semana inteira repetindo que o Vasco ganhará do São Paulo, fui acusado de fanfarronice. Alegam os detratores que minha estratégia é prever um resultado praticamente impossível para o caso de, se por milagre, ele vier a acontecer, eu emerja como um visionário do futebol. E, se o resultado não se concretizar, tudo bem, ninguém esperaria mesmo que fosse diferente e assim minha imagem permaneceria intacta. Só que eu não preciso apelar para um plano tão mesquinho como esse.

Digo que o Vasco vai derrotar o São Paulo não baseado em achismos ou bravata, mas em argumentos. Quais sejam: São Januário vai estar lotado e a torcida vascaína é uma dessas poucas no Brasil que empurram o time para frente, fazendo que mesmo o mais limitado dos jogadores consiga extrair de si alguma força para contribuir com o time; o Vasco está deseperado para fugir do rebaixamento e é notório que clube grande à beira da zona de degola joga com empenho multiplicado; o Renato Gaúcho é um técnico inteligente e não custa lembrar que foi um time comandado por ele, o Fluminense, que impôs ao São paulo a derrota mais doída da temporada até aqui, a das quartas de final Libertadores; e, finalmente, o Vasco, apesar da fragilidade da defesa, tem alguns bons atletas do meio para frente e que são capazes de decidir a partida, como o Lenadro Amaral, o Mádson, o Alex Teixeira e o Wágner Diniz. Além de tudo isso, devemos lembrar que o São Paulo não é mais o rolo compressor das últimas duas temporadas. Pelo contrário, tem se mostrado uma equipe muito irregular.

Portanto, não me venham dizer que emito opiniões sem fundamento. Uma das minhas lutas é contra a superficialidade nos comentários sobre futebol, não seria eu próprio a contribuir ainda mais com ela.

Ao longo de toda a semana, ao defender o Vasco, ouvia de todos os interlocutores que eu estava apostando na zebra. Ao final do jogo de hoje, vocês verão que, o tempo todo, estive do outro lado da savana: o do leão.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Será?

A esta altura o título do São Paulo parece fato quase irremediável. Ainda mais levando em conta o histórico recente do time paulista, o grande bicho-papão desta década no futebol brasileiro. Mas a rodada do final de semana botou nuvens escuras no céu tricolor. Apesar da vitória convincente contra o Figueirense, o São Paulo viu dois rivais diretos crescerem no retrovisor: Flamengo e, principalmente, Grêmio.

Esses são os concorrentes mais temíveis que o São Paulo poderia encontrar na reta final do campeonato. Isso porque cariocas e gaúchos são, dos times da ponta, os que têm os jogos teoricamente mais fáceis nas últimas rodadas. Além disso, vêm embalados pelo furor da torcida e pelas boas vitórias obtidas no domingo. A do Flamengo, contra o Palmeiras, foi daquelas para botar fogo no time.

Não é demais lembrar que o São Paulo ainda pega Vasco e Fluminense, dois grandes desesperados para fugir do rebaixamento. Aposto que essas partidas custarão valiosos pontos para o atual líder.

O campeonato de 2008 foi o mais acirrado da era dos pontos corridos. Mas depois de muita disputa, oscilações e alternância de posições, o campeão parecia ter despontado. Faltando míseras três rodadas, uma nova surpresa se esboça. E o que todo fã de futebol está se perguntando Brasil afora nesta segunda-feira é se o São Paulo chegará mesmo ao hexa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Chora o futebol

Algumas verdades sobre os rumos que vem tomando o Campeonato Brasileiro precisam ser ditas. Principalmente para abrir os olhos do torcedor para o terrível cenário que se desenha. Vamos a elas.

O São Paulo não pode ser campeão. Seria a catástrofe completa, o pior dos mundos, o fim do futebol. A própria torcida tricolor, se tem o mínimo de apreço ao esporte, deve torcer para seu time não terminar o torneio na ponta. O São Paulo sepulta tudo aquilo que o futebol brasileiro demorou anos para construir, o improviso, a desorganização, a irreverência, a irresponsabilidade, a malandragem, a peraltice, a ironia. Em suma, a graça.

O pior nisso é que o torcedor reflete exatamente as características do time. E se o São Paulo continuar ganhando títulos todo o ano, lamentavelmente sua torcida tende a aumentar. Cada criança que escolhe ser são-paulina e não corintiana, palmeirense ou flamenguista, contribui um pouco mais para a tristeza do futebol brasileiro.

Um são-paulino a mais no mundo representa um torcedor a menos nos estádios, porque sabemos que eles não são lá muito afeitos a ver o jogo in loco. Representa também o fim dos gritos de guerra nas arquibancadas, porque também é notória a falta de verve poética dos tricolores. Isso sem falar na extinção dos jogadores que falam errado, dos dirigentes canastrões, dos técnicos churrasqueiros, do pagode na concentração, da provocação ao adversário.

Poderíamos ficar o dia inteiro aqui listando os malefícios da ascensão do São Paulo.

Os torcedores tricolores gostam de se vangloriar dizendo que seu time, graças a todos os títulos que vem papando, é o Bayern de Munique do Brasil. Minha opinião não é diferente. O São Paulo me passa exatamente essa imagem: a de um time alemão.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Márcio Braga tem razão

Levando em conta que o cameponato brasileiro termina dia 7 de dezembro, o Flamengo tem pouco mais de um mês para organizar a comemoração do título. É pouco tempo. Uma festa dessas proporções dá trabalho, exige atenção com cada pequeno detalhe, de forma que, como bem lembrou o presidente Márcio Braga, é bom o pessoal do cerimonial lá na Gávea já ir providenciando os preparativos.

Depois da retumbante goleada desta noite, contra o Coritiba, nem os rivais têm dúvidas de que o Flamengo chegará ao hexa. O time jogou com muita consciência e equilíbrio. Curioso, mas foi preciso voltar à formação usada por Papai Joel, com quatro volantes, para que o Flamengo voltasse a ter uma exibição segura. O velho mestre da prancheta sabia o que estava fazendo.

Jogando no mesmo posicionamento da temporada passada, Íbson reencontrou o futebol, essa foi a segunda melhor notícia da noite. A primeira não é bem uma notícia, é mais uma confirmação: Obina, de fato, é um craque. Com os dois jogadores voltando aos seus melhores dias e mais o Kléberson, o Toró, o Marcelinho Paraíba e os dois laterais, o Flamengo vai voar baixo nas últimas sete rodadas. Ninguém segura.

Mesmo porque os rivais estão dando sinais de que não agüentarão o tranco. O São Paulo, numa partida tão melancólica quanto o dilúvio que castigava o Morumbi, venceu o Vitória por magérrimos 2 a 1, com dois gols de bola parada e aproveitando falhas infantis da defesa baiana. O jogo do Grêmio eu não vi, mas, pelos melhores momentos, deu para perceber que o Sport não chegou ao empate por pouco. Ambos, Grêmio e São Paulo, perdem na próxima rodada.

E o Palmeiras e o Cruzeiro vão perder no sábado.

Apenas uma questão me inquieta no momento e talvez os leitores poderão opinar a respeito. Na festa do hexa, o Flamengo deve optar pelo tradicionalismo do samba, pela pegada do funk ou os dois?

Picos e vales

Torcer para o Flamengo é passar, de um dia para outro, da profunda tristeza para a euforia suprema. Não há meio termo. Veja o exemplo do Obina: ou é tratado como craque, ou como uma negação. Oscilar entre o céu e o inferno é a sina do clube.


Depois da derrota para o Atlético, dramática e aterradora, o título parecia impossível e a vaga na Libertadores uma linha fina no horizonte. Muito flamenguista já tinha desistido do campeonato. Ouvi um dizer: "agora é preparar o time para o ano que vem". O fim parecia ter chegado. Mas bastou ganhar do Vasco e ver a distância para o Grêmio cair a quatro pontos para a euforia voltar a tomar conta da torcida e do time.


Hoje, contra o Coritiba, o Flamengo joga seu futuro no campeonato. Se vencer, fica mais vivo do que nunca. Ainda mais porque Grêmio e São Paulo têm jogos difíceis e, mesmo jogando em casa, correm risco de perder pontos. Em caso de derrota, no entanto, o abatimento cai de vez sobre a equipe, e aí vai ser difícil recuperar. Tudo bem que no Flamengo do desânimo para o extâse é um pulo , mas a montanha-russa emocional tem limite.

O maior motivo para ganhar hoje: o Maracanã precisa continuar temido pelos adversários. Pelo bem da mística de que o Flamengo não perde com o apoio da torcida, urge dar uma surra no Coxa hoje, varrendo da memória as recentes patinadas em casa. E aí é só cuidar da festa do hexa, como bem lembrou nosso presidente.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um Palmeiras e São Paulo para os anais

O clássico paulista de ontem foi um presente e tanto para quem gosta de futebol. Talvez a melhor partida disputada este ano no país. Todos os elementos que fazem um grande jogo foram contemplados: boas jogadas, emoção, rivalidade, expulsões, estádio cheio e evidentemente, gols. Muita gente acha que os jogos da Europa têm qualidade técnica superior aos disputados aqui. Isso nem sempre é verdade e o Palmeiras e São Paulo do domingo apresentou uma riqueza futebolística que é difícil encontrar até nas mais badaladas ligas do mundo.

Desde os primeiros minutos cada bola era disputada com uma disposição fora do comum, de ambos os lados. Não há duvida que nesta temporada a maior rivalidade no futebol paulista foi entre Palmeiras e São Paulo, muito graças às cotoveladas e ao gás no vestiário. Somando a tensão entre os rivais com o peso que a partida representava para a tabela de classificação, não era de surpreender que o jogo fosse, no mínimo, emocionante.

O pênalti para o São Paulo logo no início, falta ingênua do Léo Lima, foi determinante para o rumo que a partida tomou. Assustado com o gol, o Palmeiras passou a procurar deseperadamente o empate. Já o São Paulo, escolheu fechar-se na defesa para explorar o contra-ataque. Pensou pequeno o tricolor e esse foi seu maior erro. Não dá para, num clássico, o time recuar e passar a depender exclusivamente de contragolpe tão cedo, antes da metade do primeiro tempo. Isso traz o adversário pra cima, o jogo vira quase um ataque contra defesa. De tanto martelar o Palmeiras acabou conseguindo o empate, que era para ter vindo já no primeiro tempo, quando o travessão e Rogério Ceni impediram os gols de Alex Mineiro e Kléber, respectivamente. O empate no final do jogo foi um prêmio para o time que persistiu e um castigo para o que se dava por satisfeito.

No lado do Palmeiras, destaque para o Kléber, incansável e brigador, além de habilidoso. Tem vaga para ele na seleção. No São Paulo, me dói dizer, brilhou o Rogério, que além de ter feito gol impediu outros do adversário.

No duelo dos técnicos, o Vanderley se saiu melhor. Soube suprir a expulsão do seu melhor jogador e principal articulador de ataque, Diego Souza, sacrificando um dos três zagueiros para povoar o meio-campo, com a entrada de Evandro. Depois, no segundo tempo, deu ainda mais consistência para sua intermediária, substituindo Léo Lima por Pierre e liberando um pouco mais os laterais e os demais meio-campistas para chegar ao ataque. Por fim, colocou o Denílson enfiado, para abrir espaços. Isso sufocou o São Paulo. Muricy, por sua vez, errou ao trocar Hugo por Éder Luiz, porque enfraqueceu o meio-campo, que era onde o jogo estava se decidindo. O Éder é bom jogador, mas para o arremate, lá na frente. O que o São Paulo estava precisando no momento era de alguém para trocar passes, fazer a bola rodar, gastar o tempo.

Excelente partida, mau resultado para ambos os times. Faltando oito rodadas, não dá nem para dizer se um deles tem assegurada pelo menos a vaga na Libertadores. O São Paulo não é o bicho-papão dos anos anteriores. O Palmeiras não é a máquina que dava pinta de ser no início da temporada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Erros de ontem

O Jô não deveria ter começado de titular. Aliás, não era nem para ser convocado.

O meio-campo com Josué, Gilberto Silva e Elano, além de medíocre, é covarde. Qualquer um que entenda o mínimo de futebol sabe que, com um trio desses, o Brasil não vai ter saída de bola com qualidade e nem chegada de elementos surpresa no ataque.

Quando o Mancini entrou, era para ter saído o Gilberto ou o Josué. Quando o Juan machucou, o certo seria ter colocado o Alex no lugar, recuando assim um dos volantes para a zaga. O Brasl não precisava de dois volantes de ofício no segundo tempo do jogo de ontem. O que estava faltando era ataque, não defesa.

Erram o Dunga e alguns comentaristas quando dizem que a seleção não ganha porque não tem raça. Suor é importante, mas não substitui a habilidade. Do que adianta um jogador extremamente voluntarioso que não sabe o que fazer com a bola no pé? E como cobrar velocidade de um time cujo meio-campo foi preparado para destruir e não para armar jogadas?

E, finalmente, o maior erro cometido na noite-madrugada de ontem: ter ficado acordado para assistir ao jogo da seleção.

O pesadelo não tem fim

Quando o Kaká fez o primeiro gol contra a Venezuela e correu para abraçar o Dunga cometeu um grande engano. Selar as pazes com o treinador não significa demonstrar apoio publicamente. Os jogadores não são ingênuos e sabem que grande parte da penúria pela qual passa a seleção é responsabilidade direta do técnico. É o Dunga que convoca mal, escala mal e treina mal o time. Kaká, talvez o mais lúcido e inteligente do elenco, sabe disso. Por que então o abraço?

Sempre que, no futebol, alguém quer se referir ao exemplo de jogador crítico e independente, lembra do Gérson. Dizem que ele costumava reunir o time depois da preleção do técnico para dar orientações do tipo "rapaziada, vamos fazer tudo diferente do que ele falou". Quanto tem de verdade nas histórias do Gérson é difícil medir. Mas a idéia que elas passam serve de inspiração para o atual momento da seleção. Se é evidente que o Dunga não tem a mínima condição de tocar o time, é preciso que um jogador, um líder, assuma o papel de chefe da equipe. Ou vai ficar olhando o barco afundar sem fazer nada?

É importante não confundir postura crítica com motim. Jogador não pode fazer corpo-mole para tentar derrubar técnico. Mas deve conversar com ele se acha que a equipe tem algum problema tático ou técnico. Não é falta de profissionalismo trocar idéias com o treinador buscando o melhor para o time. Pelo contrário, detectar falhas na equipe e não tentar nada para resolvê-las é omissão. E se o técnico, autoritário, não ouvir a opinião do elenco? Então o Gérson entra em ação.

O Kaká desponta a cada dia como o jogador mais capaz de discutir a seleção com o Dunga. Ele próprio já percebeu sua vocação para líder. Nota-se, nas entrevistas do meia, uma preocupação com o momento da equipe e uma vontade exemplar em ajudar a reverter o quadro. Tomara que ele assuma as rédeas. Só há esperança na seleção, a continuar sob o comando de Dunga, se os jogadores "insurgirem-se" contra as lambanças do técnico. Caso contrário, a desfiguração do time do Brasil e o distanciamento com a torcida vão continuar em franca evolução.

sábado, 11 de outubro de 2008

O importante é manter o metabolismo basal

Estou atolado em dor e não sei se algum dia consiguirei me recuperar. Minha maior preocupação no momento é ter forças para ao menos manter o corpo funcionando: respirar, comer e beber.

Dizem que depois da tempestade vem a bonança, mas nem todo mundo sobrevive à tormenta para gozar os bons dias. Estou entre os danados.

Passarei o resto da noite lendo Madame Bovary, a quem um confrade me apresentou recentemente, e, caso Ema encontre o amor, de repente me alivia um pouco o sofrimento.

Não se surpreenda se amanhã ou depois este blog mudar de nome para 'A Cortada', ou ainda, 'O Tapinha nos Companheiros no Meio da Quadra Após um Ponto".

domingo, 5 de outubro de 2008

Tudo na mesma

A rodada não serviu para alterar em nada a parte de cima da tabela. Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Flamengo e São Paulo, os cinco primeiros respectivamente, continuam exatamente como estavam na semana passada. Fato novo porém é que o grupo dos ponteiros começa a se destacar definitivamente dos que vêm atrás, graças ao intervalo de cinco pontos abertos com relação ao Coritiba, o time mais próximo dos líderes. A essa altura fica difícil imaginar que o título não vá para um dos integrantes do quinteto. Ainda mais que Botafogo e Inter, dois postulantes a vôos mais altos, dão pinta de que não terão fôlego para sustentar uma escalada na tabela.

Ontem o Palmeiras não jogou bem, saiu atrás no placar e precisou de que o Galo tivesse um jogador expulso para só então virar o jogo. Galo que, diga-se de passagem, é muito fraco. O São Paulo tão pouco empolgou, mas jogou o suficiente para vencer o Ipatinga fora de casa. Os resultados das quatro da tarde jogaram um peso enorme nas costas do Flamengo, que entrava em campo às seis sabendo que todos os rivais diretos tinham conseguido os três pontos na rodada. O Flamengo não decepcionou e fez dois a zero no Náutico, nos Aflitos, contrariando os prognósticos de quem achava que, a exemplo da semana passada, quando empatou com o Palmeiras, os recifenses engrossariam também para o lado dos rubro-negros.

Depois desse jogo difícil, o Flamengo tem três rodadas seguidas no Maracanã e, das dez rodadas restantes, joga fora do Rio em apenas mais três ocasiões. Isso coloca o Flamengo favoritíssimo, e não acho que minha visão esteja sendo turvada pela paixão de torcedor.

Continuo na minha: Palmeiras ou Flamengo serão os campeões. Lá embaixo, apesar de toda a lambança que vêm fazendo, acho que Vasco e Fluminense não caem. Tem muito time pequeno que está se esforçando para salvar os cariocas.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O Fluminense cava a própria cova

Cabeça de dirigente é um mistério. Todo mundo que acompanha o mínimo de futebol sabe que a troca do Cuca pelo Renê Simões não vai ajudar em nada o Fluminense, isso se não for atrapalhar, o que é bem mais provável.

Qual foi o grande trabalho do Renê à frente de um clube grande? O Fluminense, que nem tem um time tão ruim assim, está seguindo à risca a cartilha do rebaixamento. A mudança sucessiva de treinadores é um dos sintomas mais clássicos da equipe que se esforça para cair. Às vezes a ida para a segunda divisão acontece não devido à deficiências técnicas, mas graças a uma série de atitudes precipitadas tomadas por quem dirige o clube.

Uma vez na série B, no entanto, o Fluminense vai quitar uma dívida de honra com o futebol brasileiro, já que, na prática, subiu direto da terceira divisão para a primeira. O rebaixamento teria o mérito de conciliar o tricolor com a sua própria históra.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O leão e a raposa

Poderia ser mais uma do La Fontaine, mas não é fábula, é futebol. Cruzeiro e Sport fazem daqui a pouco o jogo mais esperado do meio de semana. É o encontro da raposa e do leão. O resultado da partida influencia diretamente a parte de cima da tabela. Se os mineiros perderem pontos em casa, começarão a ver suas pretensões de título e até mesmo de chegar à Libertadores seriamente ameaçadas. O pessoal que vem atrás na tabela não perdoa escorregões.

Tem muita gente dizendo que o Sport é, dos times de menor tradição, aquele que mais incomoda os grandes, mesmo quando joga fora de casa. Eu acho que esse é só mais um daqueles mitos do futebol que de tanto serem repetidos acabam aceitos como verdades absolutas. O que eu tenho visto do Sport é um time regular, nem bom, nem ruim. Plenamente condizente com o 11º lugar que ele ocupa na tabela. Só porque cansou de humilhar o Palmeiras nesta temporada não significa que tenha por hábito "beliscar os favoritos". Contra o Flamengo, por sinal, a postura do Sport foi de time pequeno e covarde, que ficou o jogo inteiro com os dez jogadores na defesa, apostando num gol de bola parada que aparecesse. Até conseguiu marcar num escanteio. Mas no final foi punido por atuar tão recuado, chamando o adversário para cima.

Por isso o Cruzeiro, mesmo alternando seus bons e maus momentos, e ainda por cima desfalcado do Wágner - um dos melhores meias do campeonato - é favorito para sair vitorioso do jogo de daqui a pouco.

O que não significa que eu não esteja torcendo desesperadamente pelo rubro-negro de Recife. O legal desse campeonato de pontos corridos é que além dos jogos do seu time, os dos concorrentes também ficam bastante interessantes, porque te envolvem indiretamente. Já que falei de fábula, não seria nada mal se a história de hoje tivesse o seguinte desfecho: a raposa, confiante de que sua esperteza e agilidade bastavam para sobrepujar o leão, tão lento e desengonçado, não percebeu que enquanto perdia tempo já contando a vitória como certa, seu inimigo ia laboriosamente preparando o golpe derradeiro. Quando deu por si, a pobre raposa já não tinha mais possibilidade de escapatória.

Um rossonero ressurge

Acabei de ver o jogo Milan x Zurique, pela copa da UEFA. O time do Milan, também nesta temporada, chama a atenção pela elevada média de idade dos jogadores. Mas, ao contrário dos anteriores, o atual elenco tem qualidade técnica. Isso porque Shevchenko e Ronaldinho, se não são mais jogadores no auge da forma, ainda oferecem mais ao futebol do que um Inzaghi ou um Ronaldo, por exemplo. Além disso, há uns bons jovens ali no Milan, como o Flamini. E uma promessa de craque, que é o Pato.

No jogo de hoje, na Suíça, Kaká começou no banco, poupado. O primeiro tempo não foi dos mais emocionantes, mas serviu para ver algumas tentativas de jogadas entre o trio ofensivo, formado por Ronaldinho, Shevchenko e Seedorf. O Seedorf, aliás, é um desses que contribui para a média de idade do time. Só que não perde a categoria, pelo contrário, parece que se aprimora a cada dia. Dizem que ele quer se aposentar no Flamengo. Eu acredito.

Quando o Kaká entrou, já na segunda metade da partida, o Milan naturalmente ganhou criatividade e começou a atacar com mais perigo. Até sair o gol, num cirúrgico toque por cobertura do Ronaldinho que deixou o Shevchenko na cara do gol para marcar. Aí me lembrei dos bons tempos de 2003, quando eu, então um secundarista em eternas férias (mesmo durante o período de aulas), comecei a assistir futebol internacional. Naquela época eu torcia para o Milan, porque o Kaká tinha acabado de se transferir para lá. Por tabela, acabei me afeiçoando a outros jogadores também, principalmente o Gatuso, o Seedorf, o Maldini e o Shevchenko. Passei boas tardes de quarta-feira tomando coca gelada e vendo o Milan na Champion´s League, achando uma maravilha aquele torneio que reunia tanto jogador famoso, lotava os estádios e era anunciado com a musiquinha clássica "the champions...." junto com a propaganda da Amstel (na época ainda não era a Heinekken a patrocinadora oficial).

O Shevchenko era um dos melhores centroavantes de então, seguramente figurava em qualquer lista top 3. Muito veloz e com uma finalização seca e forte, sem muita beleza, mas com elegância. Não tinha conversa com ele dentro da área. Vê-lo fazendo gol hoje novamente com a camisa do Milan e o próprio fato de eu ter, exepcionalmente, passado uma tarde de folga, me levou de volta a cinco anos atrás. Talvez por isso tenha me dado vontade de torcer com a antiga paixão para o rubro-negro de Milão. Na temporada 2008/2009 volto a ser um rossonero.

sábado, 27 de setembro de 2008

Enquanto o céu desabava

Antes mesmo de começar o comentário já vou pedindo desculpas por eventuais erros de gramática ou de coesão textual, é que a vitória heróica do Flamengo em cima do Sport me desorganizou um pouco o raciocínio. Acabei me emocionando demais, como na época em que ainda era menino. Os vizinhos que o digam. Para que o leitor tenha uma idéia, já faz uma hora que o jogo acabou e até agora ainda não consegui parar de rever os gols na internet.

Três motivos foram fundamentais para colocar essa partida no panteão das batalhas épicas. O dilúvio que não deu trégua o jogo inteiro. A virada nos últimos dez minutos. A torcida. Se bem que falar da torcida é chover no molhado. 40.000 pagantes num sábado frio e molhado no Rio de Janeiro. O São Paulo, que gaba-se de ter um número de torcedores em plena expansão, não colocou 40.000 no Morumbi em momento algum do campeonato. E nem vai colocar. Aliás, conversando sobre a disputa política nos Estados Unidos, um analista disse que o eleitorado democrata é que nem a torcida são-paulina: numeroso, mas não comparece às urnas. Achei que a analogia foi bem procedente.

Mas não gastemos mais o nosso latim falando de times abaixo de nós na tabela. Olhemos para cima. Eu sou daqueles que grita a plenos pulmões "eu acredito!", apesar da expressão já estar meio surrada no meio futebolístico. Não faz mal, porque ela passa a exata idéia do que se passa dentro de mim: eu acredito! Amanhã perderão o Grêmio e o Palmeiras, deixando o Flamengo a míseros quatro pontos do primeiro lugar com 11 rodadas por serem disputadas. Isso está com cheiro de hexa.

Para terminar, uma breve homenagem aos heróis, que afinal de contas, são os responsáveis por toda a alegria da nação vermelho e preta. Angelim, cirúrgico. Jaílton, quem diria, eficiente. Juan, incansável. Caio Júnior, corajoso. Paraíba, o maestro. Vandinho: aprendeu tudo com o mestre Obina. Assim vai longe esse menino.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A realidade mostra as fuças

Semana interessante em que algumas verdades começaram a vir à tona, cristalinas.

Primeiro o caso Zico. Depois de ser cogitado para o Chelsea, Manchester City e Newcastle, foi parar mesmo num time lá do Uzbequistão. Só aqui no Brasil para as pessoas acharem que ele já estava pronto para dirigir até a seleção. Aliás, o Zico é um desses sujeitos que vai gozar da eterna boa vontade da imprensa. Eu me lembro que, na copa de 2006, falavam que o Japão, dirigido por ele, iria dar um trabalho danado aos adversários. Terminou a fase de classificação em último colocado no grupo do Brasil. Depois, no Fenerbahçe da Turquia, o pessoal daqui aclamou Zico novamente como uma estrela da nova geração de treinadores. Principais feitos na temporada passada: caiu nas quartas da Champion´s League e ficou em segundo lugar no campeonato turco, competição que o time ganha ano sim, ano também. Tanto não deixou boa impressão para os lados de Istambul que os dirigentes do Fenerbahçe nem quiseram renovar seu contrato. O Uzbequistão é do tamanho exato do Zico treinador.

Agora, outro absurdo que se desfaz. Ousaram afirmar que o Pato não jogava bola. Só de ouvir tamanho despautério eu me contorcia. Ele é o melhor centroavante que apareceu no Brasil depois do Ronaldo. Muito melhor que o Adriano e pouco à frente do Luís Fabiano. Nas olimpíadas foi muito criticado, ficou a impressão de que toda a expectativa em torno dele tinha sido exagerada. Mas é claro que numa equipe armada por Dunga o centroavante vai naturalmente sair prejudicado. A bola não chega, o time não cria. Quem já viu um jogo do Pato, em que ele teve oportunidade de pegar na bola, sabe que o entusiasmo com relação ao seu futuro é justificável. Domina bem todos os fundamentos da finalização: cabeceia com precisão, chuta bem com os dois pés, forte ou colocado, além de ser veloz e inteligente. Para chegar a um Romário, faltava ter a mesma genialidade nos dribles curtos. Ainda assim, Pato é o que de melhor temos para os próximos anos no futebol mundial. Nas últimas três partidas do campeonato italiano fez três gols, um em cada, levando o Milan ao encalço dos líderes. Já botou o Shevchenko no banco de reservas. E deixa bem claro que não, não Dunga, o Jô não é melhor que ele.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Comentaristas ou leitores de tabelas?

Os comentaristas de futebol no Brasil não conseguem enxergar nada além do superficial. Aquilo que não saltar aos olhos na forma expressa de números, resultados de partidas e retrospecto das equipes escapa à análise desses profissionais. Por isso teceram tantas análises nas últimas semanas dando conta de que o Grêmio estava quase com a mão na taça e que, no máximo, seria alcançado pelo Palmeiras.

Nossos comentaristas são meros descritores de tabelas. Eles olham a classificação, vêem o Grêmio cinco pontos à frente do segundo colocado e afirmam: vai ser difícil segurar o tricolor gaúcho. Se tivessem prestado atenção aos jogos do Grêmio, perceberiam que, apesar das seguidas vitórias, o time é fraco. Ou pelo menos mais fraco que uns cinco concorrentes diretos ao título. Mas os analistas de futebol acham que a leitura do esporte se limita à perscrutar números.

Na hora de apontar o favorito ao campeonato, eles se esquecem, ou não têm capacidade, de levar em conta algumas outras importantes variáveis: o potencial técnico das equipes, mesmo que esse potencial ainda não tenha se traduzido em resultados; as virtudes e defeitos dos treinadores de cada time; a força ou a apatia da torcida quando se joga em casa; o comprometimento dos jogadores; a tabela que cada time terá pela frente até o final etc.

Por conta de tudo isso posto acima, eu sempre disse que o Grêmio não será o campeão. Não chega nem entre os quatro da Libertadores. Friamente raciocinando, o favorito é o Palmeiras. Mas também, talvez aí minha visão esteja um pouco turvada pelo fanatismo de torcedor, não descarto o hexa do Flamengo.

Caso eu fizesse essas previsões na TV, certamente iriam considerá-las sandices. "Olha a classificação!" "São sete pontos de diferença!" Talvez seja intransigência minha. Mas desconfio que, no futebol, a verdade transcende a lógica matemática.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O triunfo dos pontos corridos

Depois de uma semana chatíssima, em que o cardápio futebolístico foi praticamente reduzido aos jogos da seleção, finalmente o campeonato brasileiro voltou aos trabalhos. E a rodada do fim de semana foi irretocável, tanto em emoção, quanto em qualidade técnica.

Vou comentar os três jogos que vi:

Grêmio e Goiás - o imponderável acontece. Lá em casa todo mundo estava torcendo para a zebra. Eu e meu pai, na qualidade de flamenguistas; meus irmãos, um palmeirense e o outro são-paulino, e meu tio, cruzeirense. A família inteira envolvida na parte de cima da tabela. Mas sabíamos o quanto era difícil o Grêmio tropeçar em casa, ainda mais com o Olímpico apinhado de gente. O jogo começou e dava a impressão de que a goleada era questão de tempo. O time de Celso Roth atropelava. Martelou tanto que veio o gol. No primeiro tempo, fiquei positivamente impressionado com o Rafael Carioca, o tipo do volante que não esperaríamos encontrar em um time gaúcho. Desarma, toca bem a bola, chega como elemento surpresa. E quase não bate.

No segundo tempo, no entanto, o que era festa virou drama. Como explicar essas reviravoltas que o futebol dá? O Goiás, regido por Paulo Baier, fez inacreditáveis dois gols e colocou de luto um Olímpico preparado apenas para a alegria. Comemoram todos os outros times da tabela.

São Paulo e Flamengo - o provável acontece. O clima era de ufanismo. Milhares de rubro-negros invadiram o Morumbi empolgados com a boa fase do time. Acreditavam que era possível abater o tricolor paulista dentro do seu próprio covil. De certa forma, eu também fui levado pelo otimismo. Ao analisar o futuro do time no campeonato, já contava com os três pontos de ontem. Veio então, fria como o inverno paulista, a realidade. O São Paulo fez por merecer o dois a zero no placar. O que não significa necessariamente que o Flamengo tenha jogado mal. Há esperança para os lados da Gávea. Na vitória do tricolor, destaco Hernanes. Cada lançamento que ele faz torna ainda mais intrigante a permanência do Gilberto Silva no meio-campo da seleção.

Botafogo e Internacional - a sina se repete. Quanto mais perto da glória, quanto mais palpável é sonhar com o título, quanto mais confiante está a torcida, quanto mais afinado está o time, maior a chance do Botafogo colocar tudo a perder. Tem coisas que só acontecem... Agora, a culpa não é só do azar histórico. O Inter também tem parte nisso. A máquina colorada esteve impecavelmente azeitada na partida de ontem. Alex, Nilmar, D´Alessandro e, quem diria, o aplicado Guiñazu.

Foi uma rodada de várias decisões, para quem briga em cima e para quem está embaixo na tabela. E pensar que criticávamos o fim do mata-mata, achando que a emoção no campeonato acabaria na fórmula de pontos corridos. Pelo contrário, só tem aumentado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Bielsa e eu

O técnico do Chile, Marcelo Bielsa, que durante o período em que dirigiu a seleção argentina sabia muito bem armar o time para jogar contra o Brasil, quis repetir ontem a estratégia daqueles tempos. Pressionar a saída de bola, agredir o adversário, partir para cima. Só que, para azar de 'El Loco', entre jogadores chilenos e argentinos há um Atacama de diferença. Com o contra-ataque à disposição, ficou fácil para o Brasil matar o jogo.

Bielsa teve ainda um outro erro, no qual, confesso, também incorri. Ao escrever a coluna de ontem, profetizando uma indiscutível derrota do Brasil, esqueci de levar em conta a seguinte variável: o talento. Penso que com a comissão técnica chilena aconteceu o mesmo. É tão flagorosa a desorganização tática da seleção brasileira que fica difícil pensar em alguma outra coisa na hora de prever o desempenho do time. Mas o talento nunca deve ser subestimado.

Foi graças à inteligência e à habilidade de Luís Fabiano, principalmente, e de Robinho que o Brasil ganhou o jogo. Quem acha que a goleada de 3 a zero reflete um amadurecimento do treinador ou um avanço na organização tática do time está enganado. Basta lembrar como surgiram os gols. O primeiro, bola parada. O segundo nasceu de um chutão do Lúcio que o Luís Fabiano teve o mérito de dividir com o zagueiro e sair com a bola dominada. O terceiro tão pouco nasceu de uma jogada trabalhada. Trama bem armada mesmo, só uma, no início do jogo, naquela bela troca de passes entre Diego, Luís Fabiano e Robinho, que terminou com o chute fraco do camisa 11 nas mão do goleiro.

Dunga continua o mesmo despreparado de sempre. Dentro e fora de campo. Em cada nova coletiva para a imprensa o treinador deixa transparecer sua pouca cultura, sua miopia para assuntos do futebol e mesmo fora dele, sua falta de tato para lidar com os jogadores, jornalistas, para dialogar com o torcedor brasileiro.

A vitória de ontem foi uma ilusão. Cabem às mentes lúcidas do futebol não se deixarem enganar por ela.

Vai ser muito bonito se, na quarta-feira, mesmo com a vitória contra o Chile e já goleando a Bolívia, a torcida carioca entoar o canto já famoso no Mineirão: Adeus, Dunga. Adeus, Dunga.

domingo, 7 de setembro de 2008

Queira Deus: de hoje não passa

Houve um tempo em que as pessoas se reuniam na praça pública para assistirem a um criminoso, ou bruxo, ou herege, ou tudo isso ao mesmo tempo, queimar na fogueira. Com o passar dos séculos, a sociedade foi percebendo que programas assim carregavam uma carga de crueldade um pouco exagerada. Atenuaram-se as modalidades de condenação. Mas o espírito do pelourinho, a execração pública, esse continua latente nos cantos mais escuros de cada um.

Hoje à noite acompanharei o jogo da seleção como um romano que ia ao circo ver as feras se alimentarem. Metaforicamente, claro, porque sou avesso ao derramamento de sangue, salvo nos filmes e romances. O Dunga já causou mal demais ao futebol brasileiro. Da mesma forma como um vírus, infinitamente pequeno, é capaz de mater uma pessoa, o Dunga, anão até no nome, está conseguindo derrubar o gigante, que é a seleção. Uma reputação inteira construída graças ao suor e à genialidade de inúmeros craques colocada em risco pela insensatez de um homem que não consegue se livrar de sua mentalidade de volante brucutu. É preciso detê-lo. Que seja hoje à noite.

Por isso, saibam: depois de cada passe errado, de cada gol perdido, de cada lambança da zaga, eu estarei sorrindo. E vibrabrei como um chileno quando Valdivia e seus companheiros saírem de campo envoltos em glória. Vou saborear cada instante dos últimos minutos de Dunga à frente da seleção. Toda humilhação será pouca. Torço até para goleada do Chile.

Estou certo da derrota da seleção. Dunga, mais uma vez, se equivocou na escalação. Não é colocando três atacantes que se faz um time ofensivo. E quem vai levar a bola ao ataque? O meio-campo será formado por Gilberto Silva(!), Josué(!) e Diego. É pouco para fazer a ligação com o setor ofensivo. Somando a isso os péssimos laterias Máicon e Kléber, o Brasil também não conseguirá acertar na saída de bola. Com o meio inexistente, a seleção fica incapaz de trocar passes e ditar o ritmo da partida. Resulta daí que a zaga sofrerá constantes investida do Chile e que o trio de atacantes, Ronaldinho, Luís Fabiano e Robinho não vai ver a cor da bola ao longo dos noventa minutos.

A despedida de Dunga promete ser de gala. Um espetáculo para aqueles que, como eu, há muito já aguardavam por esse dia.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A polêmica da paradinha

As recentes discussões em torno da legalidade ou não da paradinha na hora de cobrar o pênalti pervertem uma máxima que há muito tempo vem sendo repetida no futebol. Ao contrário do que dizem por aí, a regra não é clara. Talvez eu fique famoso defendendo esse contra-jargão: "a regra é obscura".

Tanta discussão tem acontecido justamente porque o livro que dita as normas do jogo não é esclarecedor sobre a conduta do batedor da penalidade. Não fica certo o que pode e o que não pode fazer. Nesse vácuo institucional - expressão que importo das páginas políticas - prolifera o expediente da paradinha. O árbitro fica de mãos atadas, já que, a rigor, não se trata de uma irregularidade prevista em "lei".

O curioso é que toda essa comoção da crônica esportiva com relação à paradinha só ganhou corpo mesmo depois que o Marcos foi vítima de um pênalti batido assim. Enquanto o Alex Mineiro e outros jogadores cansavam de utilizar dessa estratégia, o assunto quase não era comentado na crônica esportiva. Foi preciso o goleiro-ídolo do Palmeiras ter caído no golpe para chamar a atenção das pessoas. E agora tem gente revoltada dizendo que a paradinha é uma deselegância, ainda mais quando "deixa um goleiro do porte do Marcão completamente vendido no lance".

Eu não acho que a paradinha seja deselegante, anti-ética ou demonstração de falta de caráter. Também não estou entre os que vêem nela mais uma manifestação do famigerado jeitinho brasileiro. A paradinha é mais um recurso do jogo, como o drible ou a cobrança de falta ensaiada, que pode ser usado para ludibriar o adversário. Sempre em busca da vitória, claro. Até onde se sabe, o esporte é feito justamente disso: oponentes desenvolvendo estratégias, dentro da regra, para tentar suplantar um ao outro.

Se assim não fosse, os dribles do Garrincha deveriam também ser condenados como anti-desportivos. O futebol não é como o tênis, onde um jogador se desculpa com o outro quando faz um ponto acidental, daqueles em que a bola bate na fita e morre sorrateira na quadra adversária. Ou alguém já viu um centroavante errar o chute, fazer o gol e ir prestar sua solidariedade ao goleiro? O futebol não é um lorde, é um moleque. É aí que está a graça.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Índiossincrasias

Em homenagem ao julgamento da Raposa/Serra do Sol, relembro aqui reservas que dão certo:

- Obina. Muito melhor no decorrer do jogo do que começando de titular. E quando entra no segundo tempo é quase certeza de gol. É um dos melhores reservas da atualidade.

- Denílson. Nada melhor do que aquelas pedaladas para incendiar os últimos quinze minutos de jogo. Ainda mais se o Palmeiras estiver ganhando. Pra cima deles!

- Aloísio. Ele resolve.

- Gil. Ali, na ponta esquerda, com o zagueirão já cansado...

- Thiago Neves, na seleção. Chuta de fora, faz tabela, dribla , bate falta. Dá injeção de ânimo no time. Ideal quando se tenta viradas improváveis nos últimos vinte minutos.

- Tartá. Pode parecer só mais um marrentinho carioca. Mas o treinador, com ele no banco, tem uma senhora carta guardada na manga.

- Inzaghi. De algum jeito a bola bate nele e o que seria um empatezinho frustante vira vitória heróica.

- E o maior reserva de todos: Roger, goleiro recém-aposentado. Ninguém conheceu como ele as quatro linhas - do banco.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Tomara que caia

Talvez a Olimpíada tenha rendido uma conquista à seleção brasileira muito maior do que a medalha de ouro: a saída do Dunga. Foram necessários dois anos de penúria para que finalmente a demissão do técnico virasse uma possibilidade concreta. Não precisava ter sido assim. A humilhante derrota de hoje poderia ter sido evitada. Dunga nunca deveria ter sentado no banco da seleção.

Agora, o pior dos cenários. Já imaginaram se o Brasil ganha a medalha de bronze e sobe no pódio olímpico com a Argentina ocupando o posto mais alto? E ter que ouvir o hino nacional dos hermanos! E o Riquelme abraçado com a bandeira! E o Mascherano! Perder da Bégica é o que de mais sábio pode ser feito no momento. Acelera a queda do Dunga e evita maiores constrangimentos na hora da premiação.

Para não dizer que eu não avisei: por que colocar o Pato só na hora que a partida apertou? Se o Sóbis não servia para ajudar a virar o placar, certamente não era o mais indicado também para começar o jogo.

Pensando racionalmente, a derrota foi boa. Principalmente para o futebol, como instituição. A Argentina tem que ganhar de vez em quando do Brasil, por mais que nos doa. Faz bem para a rivalidade. E, especialmente, serve para mostrar que jogar para frente não é uma atitude tão atrasada assim.

sábado, 16 de agosto de 2008

Dúvidas olímpicas

De quatro em quatro anos sou acossado pela mesma espécie de enigmas, esta semana tão instigantes que não têm me deixado dormir em paz. Ó gregos, só vocês devem ter as respostas!

- Por que os jogadores de vôlei a cada ponto vão se abraçar no meio da quadra? E por que alguns aproveitam esse momento para aplicar tapinhas em locais pouco convencionais do companheiro?

- Por que quem nunca assiste a esporte de repente aparece como um profundo conhecedor do assunto, versando de nado sincronizado a badmington?

- Por que as mães e as tias gostam tanto de Ginástica Olímpica?

- Por que sempre tem uma brasileira que cai da trave? E por que as chinesas nunca caem?

- Quem está dopado? Quem não está?

- Deveriam criar uma categoria só para a Ednanci?

- Quão melhor seria o mundo sem o futebol feminino?

- Cadê o Baloubet du Rue?

- O nome da goleira da seleção brasileira de handebol é aquele mesmo?

- Por que não te calas, Galvão?

- Por que todo brasileiro que ganha medalha teve uma vida sofrida e o que não ganha amarelou ou foi prejudicado pela arbitragem?

- Como é que nenhum jogador nunca desceu a mão no Bernardinho?

- Onde é que os russos do volêi de praia treinam? Na Sibéria?

- Que diabos significa carpado?

- Quantas vezes os repórteres vão usar a expressão ´espírito olímpico`?

E, finalmente:

- Alguém ainda cai nessa de que o importante é competir?

Dunga e a força da natureza

Contra todo o pensamento, contra toda a razão, contra toda a evolução da mente humana ao longo dos últimos séculos existe o Dunga, um neandertal, uma força bruta da natureza. Ele, que ao que tudo indica, não pensa, simplesmente age, movido pelos mais profundos instintos humanos, a exemplo de nossos longínquos antepassados.

O Dunga jogador era assim: se farejava a bola, dava carrinho; se tomava um soco, retribuía; se era contrariado, então aplicava uma cabeçada, como os bodes (lembram do episódio na Copa da França em que Dunga apresentou os argumentos de sua testa à de Bebeto?). O Dunga treinador não poderia ser diferente, porque afinal se trata da mesma pessoa. Como agora ele não está no campo de jogo, mas à beira dele, ao invés de manifestar sua selvageria através do contato físico, o faz por meio de declarações, modo como arma o time e alterações que faz durante a partida.

Hoje, contra Camarões, a costumeira primitividade de Dunga estava lá. Por que Sóbis e não Pato? E depois, quando tudo ia bastante mal, por que Jô e não Pato? Dunga implica com o talento, isso é típico dos seres embrutecidos. Pato foi substituído em todas as partidas da Olimpíada. O titular de hoje foi Sóbis, que não fez absolutamente nada até os dez minutos da prorrogação, quando estava prestes a ser substituído. Por que Dunga teve com Sóbis a paciência que não teve com o Pato? Em que aspecto do jogo Sóbis pode ser considerado melhor que o Pato? Dunga provavelmente não tem respostas a essas perguntas. Vai preferir dar uma cabeçada no microfone.

Mas o Brasil ganhou e avança para as semifinais dos Jogos, Dunga ganha sobrevida no cargo e, mundo estranho, corre sério risco de ganhar a inédita medalha de ouro para o Brasil. O que para mim só prova o seguinte: a natureza é muito poderosa. De nada adianta a razão, o pensamento sofisticado, o estudo, quando as forças elementares do universo, presentes tanto no jumento empacado como na fúria da tempestade, resolvem se manifestar.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Agora vai

Às vezes fico impressionado com a inteligência deste ícone social que é o torcedor de futebol. Não falo de qualquer torcedor, o sujeito comum que vibra com seu time, xinga o juiz e eventualmente quebra uma televisão depois do jogo de domingo. Não. Me refiro ao torcedor profissional, que é alguém muito mais ligado ao esporte. O torcedor profissional, por exemplo, encontra espaço na rotina atribulada do dia-a-dia para, numa terça-feira de manhã, protestar contra a má-fase do time durante o treino.

É a capacidade intelectual dessa classe que de vez em quando me embasbaca.

Hoje resolveram atirar um bomba no coletivo do Flamengo. É que o time não ganha a seis rodadas. Na certa pensaram: "só uma bomba resolve, vamos lá dar essa força". Deu certo no Japão, que precisou de Hiroshima e Nagasaki para se reerguer. Provavelmente, funcionaria também no Flamengo.

Sabem o que é mais triste nisso tudo? Esses mesmos mestres da pólvora são os que comandam as coreografias, as faixas e as luzes nas arquibancadas, que fazem da torcida do Flamengo uma das mais bonitas do futebol. Um Maracanã cheio de rubro-negros pode levar o sujeito às lágrimas. Mas é claro que torcedores profissionas não se satisfariam só com o espetáculo. Eles têm a necessidade de barbarizar também.

Um dos principais fatores responsáveis pela queda de produção do time tem sido a evasão de jogadores para mercados estrangeiros como, por exemplo, o Oriente Médio. Região que, aliás, ganhou reputação pelos incidentes explosivos. Nesse pormenor, pelo menos, a Gávea já não fica mais devendo.

domingo, 3 de agosto de 2008

O São Paulo de sempre; Botafogo, como nunca

O São Paulo foi a eficiência de sempre hoje contra o Vasco. Bateu em bêbado? É verdade, mas o fez com garbo. O triste da ascenção tricolor é que já estava anunciada desde o início do campeonato. Pelos lados do Morumbi eles têm a fórmula da vitória. Nem a ausência do Hernanes atrapalha. Danação!

E o Botafogo com o Ney Franco está recuperando o tempo que perdeu sob a batuta do Geninho. Aliás, Geninho é isso: perder tempo. Mais cedo ou mais você terá que demiti-lo, porque os resultados não virão. Surpreende que em tão pouco tempo o time já esteja reagindo. Será o Botafogo deste ano o que o Flamengo foi em 2007, o detentor da grande arrancada? Conseguirá livrar-se do estigma de eterno azarado? Tomara que não. Além do que, Ney Franco tem um séria deficiência: não sabe armar defesas. Seus times são ousados do meio para frente e vulneráveis na parte de trás. É o que chamariam, na doce linguagem do mar, "popa de menos".

Não rebaixar: uma esperança

Eu já sabia, só não queria acreditar. No Flamengo a glória anda lado a lado com a tragédia. O que num dia é alegria pode, sem maiores avisos, virar lamentação. Vida que segue.

Ano passado a reviravolta na vida do Mengo começou depois do Pan-americano. Quem sabe as Olímpiadas de Pequim não cumpram a mesma função? É certo que no período olímpico o Brasileirão dá uma esfriada e depois ressurge apresentando surpresas. Torçamos.

Não é possível que o Grêmio ainda seja o líder!

Veio em boa hora, falo como telespectador e torcedor, desviar a atenção um pouco do futebol. 2008 já acumula algumas decepções desagradáveis demais. O espírito olímpico vai servir para arejar a cabeça, esquecer dos Jaíltons, Cristians e Obinas que nos tem assombrado. Quando estréia a Dayane dos Santos mesmo?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Todas as fichas na Olimpíada

Fiquei em vias de me emocionar com a chegada da seleção brasileira em Hanói. Saber que um símbolo aqui da nossa terra viaja para um país tão distante, geograficamente e culturalmente, e ainda é recebido com absoluta devoção, fanatismo mesmo, mexe com meu patriotismo de ocasião. Isso mostra que, escorregões à parte, a seleção brasileira ainda preserva sua aura como o futebol mais fantasista do planeta. Fama conquistada graças principalmente à geração do Pelé e aos dois recentes títulos mundiais que, vencidos em menos de uma década, fizeram parecer que o Brasil é um rolo compressor.

Até quando essa reputação sobrevive ao Dunga? Mesmo não acreditando no treinador, a quem considero despreparado e instável emocionalmente, acho que talvez as Olimpíadas sirvam para que o trabalho dele comece a ganhar ares mais promissores. Explico o por quê: por obra do acaso ou por competência, o Dunga conseguiu reunir um bom plantel para os Jogos, especialmente para posições nas quais o time principal é carente, como as laterais e o meio-campo de contenção. Lucas, Hernanes e Anderson, se derem certo - e precisam dar - preenchem várias lacunas ao mesmo tempo. Melhoram a saída de bola, dão criatividade à intermediária, fortalecem o apoio ao ataque - sem enfraquecer a marcação - e conseqüentemente, conferem maior consistência ao time. Além disso, já que o Dunga entende que não é possível escalar o time com menos de três volantes, que pelo menos os três sejam esses, e não Josué, Gilberto Silva e Mineiro. Nisso tudo eu concordo com o companheiro Sousa Rocha(www.nacovadosdragoes.blogspot.com).

É claro que ainda não há base para prever, mas pressinto que o time da Olimpíada vai dar certo. E aí já projeto minha escalação ideal para o time principal: Júlio César, Rafinha, Lúcio, Juan e Marcelo; Lucas, Hernanes, Anderson e Kaká; Ronaldinho e Pato. O Kaká como homem de ligação entre o meio-campo e o ataque, exatamente como ele faz no Milan. O Gaúcho mais adiantado, mas sem posição fixa, porque um talento como ele não pode ficar limitado a uma faixa do campo. Robinho vai para o banco mesmo e junto com o Diego fica como arma para o segundo tempo.

Eu, que iria torcer contra o Brasil nas Olimpíadas, que era para ver se o Dunga caía de vez, agora desejo o sucesso do time. Tem muita coisa em jogo. Além da consolidação do promissor meio-campo, a volta por cima do Ronaldinho Gaúcho e o aceno com um esquema tático não tão covarde são outros ganhos que viriam na carona da medalha de ouro. Caso o Brasil fracasse, esses jovens jogadores podem ficar queimados e a comissão técnica deve continuar insistindo em jogadores ultrapassados e posturas defensivas demais. A Olimpíada, que até então estava com pinta de torneio insosso, fica bastante atrativa.

domingo, 27 de julho de 2008

Façanhas

O Flamengo conseguiu achar alguém que dê dinheiro pelo Sousa. A empreitada se compara a vender geladeira para esquimó. Mas, no frio da análise, infelizmente não posso deixar de lamentar. O Sousa não é nenhum, digamos, Obina, mas compõe elenco. Vai fazer falta. A não ser que tragam um bom substituto para seu lugar. Fiemo-nos na megalomania do Kléber Leite.

As façanhas do sábado não pertencem só ao Flamengo. Contra todos os prognósticos, o Ipatinga conseguiu fazer 1 a zero no Internacional, justo quando o colorado parecia ter decolado de vez. Bom para quem briga com os gaúchos na parte de cima da tabela; ruim para quem, como o Santos, patina do lodaçal das últimas posições.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ainda assim, paira a dúvida

Pode parecer que a goleada do Grêmio em cima do Figueirense ontem à noite e a consequente tomada da liderança são razões suficientes para calar aqueles que teimam em não acreditar no time gaúcho. Mas a mim o 7 a 1 não convenceu. O Grêmio é a lebre na corrida de cachorros. Puxa o ritmo para ser ultrapassada antes do fim.

A crítica já chegou mais ou menos a um consenso de que uma característica fundamental desse campeonato de pontos corridos são as oscilações que os times inexoravelmente apresentam ao longo da campanha. Os momentos de baixa, comuns aos 20 times, tendem a ser mais profundos e a durar mais quanto mais fraco for o elenco. É o problema do Grêmio. Assim que a maré ruim vier - e ela há de vir - deixará cicatrizes indeléveis.

(A palavra indelével aprendi na quarta-feira e não podia esperar mais para botar em prática)

O campeonato esquenta. Essa última rodada teve média de público de 19.500 pagantes, patamar quase da série A italiana. O torcedor, além de estar empolgado com a disputa, percebeu que, com a atual fraqueza técnica dos elencos, se não encher as arquibancadas o time não vai para frente. E fica provado também que aqui no Brasil a paixão pelos clubes é de um tamanho tal que não importa quem veste as camisas das agremiações, se é um craque, se é um perna-de-pau, o que conta é que o time do coração vai estar em campo.

Como diz meu pai, cujas habilidades de filósofo deixo a cargo do leitor avaliar: "Chegará o dia em que pagaremos ingresso para ver a camisa do Flamengo entrar em campo." Notem que ele se refere apenas à camisa, sem jogador algum para recheá-la. Dá-lhe, papai.

Atualizado às 17:31: Fui avisado de que a lebre na corrida de cachorros nunca é alcançada. Aliás essa é justamente a finalidade dela, manter os bichos em desabalada perseguição durante o trajeto inteiro, sem jamais deixar a correria cessar. Fato que estraga minha metáfora e dinamita por completo qualquer eventual interesse que eu poderia alimentar por essa modalidade esportiva.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Frustrações de quarta à noite

Na noite de ontem vivi um turbilhão de emoções. Alimentava então uma dupla expectativa: ser sorteado na mega-sena e ver o Flamengo massacrar a Portuguesa. O Flamengo empatou e a mega-sena ficou acumulada, o que de certa forma é um empate também, porque ninguém leva.

É cedo demais para dizer que o Flamengo é um cavalo paraguaio. Muitos dos recentes reveses do time, incluindo aí o de ontem, estão mais ligados a lances fortuitos do que a uma suposta incompetência. Contra a Portuguesa, por exemplo, tomou dois gols de pênalti e quando teve um marcado a seu favor não soube converter. Azar? Tem gente atribuindo a urucubaca à "maldição Marcinho", porque desde a saída do meia o Flamengo não ganhou mais. Eu prefiro acreditar na "maldição Tardelli".

Da rodada de ontem posso dizer ainda o seguinte: a vitória do Inter foi uma faca de dois gumes. Porque, se de um lado contém o ímpeto do São Paulo, do outro coloca o colorado cada vez mais na briga. Devemos temer a tríade Alex, Nilmar e D´Alessandro.

A rodada continua hoje. Flamenguistas, como eu, vão concentrar esforços para secar o Grêmio, que vai a Florianópolis pegar o Figueirense. Não tenho medo do clube gaúcho a longo prazo, porque ninguém tem o Celso Roth como técnico impunemente. Mas perder a liderança, por uma rodada que seja, joga uma pressão e uma desconfiança muito grande pra cima de qualquer time. O Flamengo e a torcida lutam deseperadamente, rodada após rodada, para evitar que o sonho desvie do caminho agora cada vez mais provável: o fim.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Outra vez o fantasma

O São Paulo conquistou mais do que respeito nos últimos anos - sua perfomance de rolo compressor nas temporadas recentes ajudaram-no a despertar principalmente o medo nos rivais.

Grande triunfo. Hoje, quando olham para trás na tabela e vêem o São Paulo no encalço, os outros times sentem-se como alguém que foge de assombração: mais cedo ou mais tarde o bicho vai pegar. E quanto mais se teme a tragédia iminente, mais forte ela fica. Não dá para escapar. É como areia movediça.

O São Paulo é um pesadelo, um fantasma, uma sina. Que o diga o Flamengo. O rubro-negro, mais do que ninguém nesse momento, deve estar sentindo os suores causados pela assombração. Na Gávea estas simples sílabas causam terríves sobressaltos: tri-co-lor.

O Flamengo e todos os outros na frente do São Paulo na tabela vão jogar as próximas rodadas contra os adversários em campo e o medo na mente.

Alguém precisa deter o São Paulo, sob pena da assombração ganhar cada vez mais e mais vulto, até o ponto de tornar-se invencível. Mas não é com medo que se combate esse tipo de terror. É com coragem. Aproprio-me aqui de uma estratégia já consagrada pela biologia de choque no que diz respeito ao encontro com tubarões. Diz a ciência que, ao toparmos com uma dessas feras no meio do oceano, devemos não nos intimidar, mas partir para cima num combate encarnecido e furioso. Só assim temos chances de sair com vida. O mesmo vale para tentar deter o São Paulo. O bicho pode parecer feio, até que lhe acertemos o primeiro soco no focinho.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ares de Milão

Nunca ninguém vai entender essa necessidade que tem o Barcelona de enxotar do clube seus principais jogadores. Catalães...

Ainda se o Ronaldinho Gaúcho fosse um caso perdido para o futebol, vá lá. Mas, para todos aqueles que acompanharam os campeonatos dos últimos anos, é no mínimo prudente desconfiar que ele ainda tenha algo guardado para o público. Digo público porque está claro que se trata de um artista.

Aliás, eu vi outro dia na internet que um dos períodos mais fecundos da carreira do Leonardo da Vinci foi na época em que ele viveu em Milão. Constam da fase milanesa, por exemplo, os clássicos A Virgem nas Rochas e A Última Ceia. Seriam os ares da cidade propícios à atividade criativa? Torço para que sim. Ronaldinho Gaúcho, inspirado, é o único jogador no mundo capaz de surpreender.

É preciso ainda fazer uma observação sobre a má forma física do craque. Jamais se deve comparar a barriga do Ronaldinho com a do Fenômeno. Uma é fruto da inatividade prolongada; a outra, da irresponsabilidade.

De imediato, já vejo uma grande vantagem do Gaúcho ter ido para o Milan. Lá, a probabilidade de formar um trio implacável com o Kaká e o Pato é muito grande. Bastaria para o Dunga apenas reproduzir a formação na seleção, sem precisar mexer em nada. O infalível ctrl c - ctrl v, única estratégia viável para técnicos, digamos, em fase de amadurecimento.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O sorvedouro

Este terrível período em que se abre a temporada de contratações no mercado europeu é mais que uma janela, como vem sendo denominado - trata-se antes de um sorvedouro. Uma boca maligna que de repente se abre sob os pés do desavisado e engole impiedosamente o que vê pela frente.

É medonho. Assistimos a um jogo do nosso time, as coisas correm bem, vamos dormir satisfeitos com o desempenho da equipe e esperançosos de uma boa campanha no campeonato. Na manhã seguinte abrimos os jornais e descobrimos que um de nossos jogadores prediletos foi contratado por um time de fora. E na semana seguinte dá-se o mesmo. E ainda na próxima, e na outra. O tormento dura até o dia trinta e um de agosto.

Nenhum time está livre desse mal.

Contudo há uma incongruência aí. Por que os clubes do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, não conseguem oferecer aos seus jogadores propostas mais atrativas financeiramente do que agremiações da Ucrânia, do Catar ou da Grécia, por exemplo? Os clubes daqui não conseguem desfrutar do aquecimento econômico do país. Talvez porque sejam mal administrados. Ou amaldiçoados.

Menos mal que, no futebol brasileiro, tudo vira folclore. Até os dramas. A tal janela, ou sorvedouro, como propomos aqui, está se consagrando como um elemento apimentador do campeonato. Comenta-se "ah, seu time está bem, mas será que sobreviverá à janela?". Ou ainda, "vamos mal das pernas, mas oxalá a janela deixe os outros times tão ruins quanto o nosso". A Janela, doravante grafada em maiúscula, virou mais um ente do futebol, mais ou menos nos moldes da Altitude.

Chegamos ao ponto em que o torcedor não só vibra com as vitórias do seu time, mas também com cada jogador que recusa uma oferta do estrangeiro. E, sobretudo, reza-se para que os euros ou petrodólares de além-mar apontem seus olhos cobiçosos sempre para o plantel do adversário. Jamais para o nosso. É quase uma torcida insana contra o destino. Nada mais futebolesco.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O preço da parceria

Fracassos do Palmeiras no campeonato estão vindo acompanhados da explicação de que muitos jogadores do time, os principais, inclusive, estão com a cabeça em futuros contratos com a Europa. De fato, tem gente contando as horas para pegar o primeiro avião rumo ao velho continente. Mas lembremo-nos que foi o próprio Palmeiras que assim o quis. Quando selou aliança com uma empresa de marketing esportivo no início da temporada, a diretoria tinha ciência de que um dos objetivos do parceiro era fazer dinheiro rápido, comprando atletas para o elenco e então vendê-los em seguida, assim que houvesse valorização do passe.

Conseguir bons jogadores para o time, mas ficar com eles por apenas quatro ou cinco meses, vale a pena? O ônus compensa o bônus? Ou o efeito colateral sobrepuja os benefícios do remédio?

Meu irmão, que é palmeirense e otimista, aprova o pacto com a Traffic. Para ele, enquanto caras habilidosos continuarem indo para o time, não faz mal nenhum que durem por lá apenas o período de algumas rodadas. O que importa é o elenco estar sempre reforçado. Quer um exemplo de que essa filosofia dá certo?, pergunta o sonhador, veja aí o título do campeonato paulista.

Devagar com o andor. Algumas ressalvas não podem ser ignoradas. Primeiro, esse tipo de planejamento destrói qualquer possibilidade do time criar ídolos. E a falta de um ídolo acaba distanciando a equipe da torcida, deixando mais fria a relação entre a arquibancada e o gramado. Acho que do ponto de vista comercial a carência de alguém que se possa identificar com a camisa do clube também causa certo estrago. Fora o Marcos, não tem ninguém de quem hoje se possa dizer "esse aí é a cara do Palmeiras".

Outro prejuízo decorrente da parceria, nos moldes como é conduzida, é exatamente a justificativa usada toda vez que o Palmeiras derrapa. Os jogadores ficam com a cabeça longe, nos futuros contratos, no futuro time. É natural que assim seja, mesmo porque a maioria encara o Palmeiras como um trampolim - o próprio time assumiu para si essa condição, a partir do momento que selou a aliança e concordou com seus termos.

E, por fim, e talvez o mais preocupante, seja isto: como fica o time depois que o parceiro for embora? O próprio Palmeiras está calejado da experiência que teve finda a era Parmalat. O rebaixamento para a segunda divisão em 2002, por exemplo, aconteceu nessa ressaca. O Corinthians, passada a euforia do primeiro impacto da MSI, ficou igualmente aos frangalhos e também foi rebaixado. Isso para ficarmos nos casos mais recentes.

Até aqui, na décima-primeira rodada do campeonato, o Palmeiras ainda é apontado como um dos favoritos. Isso graças aos jogadores que tem. Mas não convence e perde pontos fáceis. Conseguirá o time do Palestra Itália contornar as dificuldades? Entenderão os jogadores que, mais do que um trampolim, é a camisa de um dos maiores clubes do Brasil que eles defendem? De questões assim depende o curto-prazo palmeirense. Enquanto isso, vê a ponta da tabela mais distante a cada rodada.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Mistérios da meia-noite

A respeito do rendez-vous protagonizado pelos jogadores do Flamengo na madrugada de Belo Horizonte, não admira que o Marcinho tenha esbofeteado sua parceira, nem que o Tardelli tenha sido um dos convivas, nem que o Bruno fosse o anfitrião - apenas uma questão me inquieta: onde estava o Sousa que não tomou parte dos festejos?

A reserva de Obina não tem feito bem a esse garoto.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ibson fica

- Ibson fica.

Com essas doces palavras fui despertado na não menos doce manhã da terça-feira. Meu pai veio trazer a notícia. Eram 7 da manhã? Seis e meia? Não importa. Achei que ainda sonhava. Mas era a mais pura verdade.

Eu e meu pai não temos quase nada em comum, salvo alguns cromossomos e o Flamengo. É bonito quando o futebol une as pessoas. Um dia os céticos ainda vão dar o verdadeiro valor a esse esporte.

A permanência de Ibson é uma vitória para o Flamengo. Ele faz de tudo no jogo, da defesa ao ataque - e com categoria. O hexa amadurece.

Mas dizem que os alemães do Hertha Berlim não se dão por vencidos e vão fazer de tudo para levar nosso camisa 7. Isso significa que continua a luta. Tudo bem, ninguém disse que iria ser fácil. E quando chegar em casa já tenho uma conversa para puxar com o papai:

- E aí? Ibson fica?

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Lágrimas D. U.

Num jogo alucinante, em que o Fluminense foi absolutamente heróico e ficou a apenas um gol de conquistar o maior título da sua história, toda explicação que se tenta dar para o insucesso esbarra nisto: o futebol não tem lógica.

Por mais que os cientistas do futebol tentem traduzir em teses e sistemas os motivos que levaram à tragédia, mesmo que se esmerem em conferir um aspecto de causa e consequência a fatos imponderáveis, nunca conseguirão decifrar por quê um time que precisava fazer quatro gols, fez três em 55 minutos, teve outros 65 para marcar um golzinho que fosse e não conseguiu. Ou por quê três dos jogadores mais decisivos da equipe erraram na cobrança de pênaltis.

Explicações como: o time perdeu por causa do oba-oba do treinador; o esquema tático não foi o adequado; o juiz amarrou o jogo; o Fluminense não deveria ter poupado seus jogadores no Brasileirão etc. - tudo isso é simples demais, e insuficiente.

Quando a ciência não basta, apelamos para outra forma de conhecimento, a poesia. Por isso, peço emprestado o verso de meu compadre Lançarote do Lago, que traduz à perfeição o que aconteceu no jogo de ontem. Diz ele:

"O Maracanã também foi feito para chorar."

quarta-feira, 25 de junho de 2008

O mito de araque

Felipão, já faz um tempo, entrou para o hall dos intocáveis da nação. Nada arranha, nem suja, tão pouco ofusca sua imagem. Scolari resiste até mesmo à realidade dos fatos, nem sempre favoráveis a ele.

Nesses tempos de crise na seleção o nome do treinador é praticamente uma unanimidade. Ninguém lembra que, sob o seu comando, o time do Brasil passou pelos seus momentos mais deploráveis, dos quais a histórica derrota para Honduras é o apogeu. E mais, ninguém lembra que a seleção jogava muito mal na época que teve Felipão à frente, tão mal ou pior do que se apresenta atualmente. Puxem pela memória, companheiros. Relembrem o sufoco que foi o período entre julho de 2001 e junho de 2002.

Na própria Copa da Ásia a seleção ficou aquém do bom futebol. Foi campeã mais por mérito dos três erres (Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho) e pela fragilidade dos adversários do que pelo trabalho do treinador. Reclamamos da retranca do Dunga? Olha como o Felipão escalou o time no primeiro jogo do Mundial de 2002: Marcos; Cafú; Lúcio, Roque Jr. e Edmílson; Roberto Carlos; Gilberto Silva; Juninho Paulista; Ronaldinho, Rivaldo e Ronaldo. Meio-campo? Inexistia. Foi por isso que o Brasil só ganhou na estréia, da Turquia, porque o árbitro viu um pênalti a nosso favor e só não foi desclassificado contra a Bélgica porque um pênalti contra a gente não foi marcado.

Felipão ganhou a Copa. Mas nem por isso é um técnico acima de qualquer suspeita. O fato de ser uma figura simpática e querida do povo brasileiro não anula suas deficiências como treinador, e que são muitas.

Felipão anunciou, no decurso da Eurocopa, que estava contratado pelo Chelsea. Deu a declaração dias antes de Portugal, seu time até então, ser eliminado nas oitavas da competição européia. Se caso similar tivesse acontecido com um treinador da seleção brasileira, a imprensa daqui não perdoaria, fulminando frases como "ele já estava com a cabeça no campeonato inglês" ou "ficou fascinado com o dinheiro que vai receber". Como tudo isso sucedeu com Felipão, e na seleção portuguesa, ninguém disse nada. Eu nem acho que a atitude dele seja condenável, mas esse episódio dá a real idéia de que como as pessoas estão eternamente predispostas a construir uma imagem idealizada do Felipão.

Minha eterna batalha é contra os mitos que não justificam a idolatria que lhe devotam. Eu queria o Felipão para meu tio, professor ou vizinho. Jamais para treinar meu time.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Por um bem maior

Hoje à noite, torcer contra é torcer a favor.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O treinador cauteloso

Dunga

E seu cabelo arrepiado

Não é gel

É pavor.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ele dizia a verdade

Houve grande indignação dos jogadores e da comissão técnica do Corinthians por causa da declaração do Carlinhos Bala após o jogo da semana passada, na qual o atacante do Sport afirmava que aquele golzinho marcado pela sua equipe quase aos 45 do segundo tempo garantiria o título da Copa do Brasil para os pernambucanos.

O futebol, como se sabe, é um mundo onde as pessoas não podem emitir suas opiniões senão sob pena de serem acusadas de falta de humildade.

E se o Corinthians saísse campeão da Ilha do Retiro, resultado plausível, o discurso do time já estaria pronto. As provocações do Carlinhos Bala mexeram com os brios dos jogadores e lhes deram forças para buscar a taça.

Mas o campeão acabou sendo o Sport. Conseguiu exatamente o placar de que precisava. Um 2 a o ali, na conta do chá. O gol marcado no Morumbi foi fundamental. Carlinhos Bala, profeta, dizia a verdade.

Carlinhos Bala, aliás, a quem minha verve poética anseia por chamar de Charlie Bullet, foi o personagem da grande final de ontem. Por si só ele já é um protagonista em toda partida que entra, mesmo quando não faz nada. Mas ontem, além de agraciar o gramado com seu estilo ímpar, Bala ainda marcou um gol e provocou a expulsão de dois adversários. Não fez chover porque estragaria a noite de Recife.

Para o Corinthians 2008 acabou. A série B, na qual a equipe vai continuar passeando, arrastar-se-á modorrentamente até o fim. Não restou nada de emocionante que possa agitar a torcida até o término da temporada.

Foi pênalti em Acosta no finalzinho da partida? Foi. Mas era uma altura, dadas todas as circunstâncias que envolviam o jogo, em que o juiz só marcaria falta na área se saísse sangue.

Pesando tudo o que as equipes produziram, o Sport mereceu o título. E o Corinthians, enquanto cata os cacos, aprende a controlar a soberba. Em time de segunda, as expectativas devem ser de segunda.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um certo Ricardo Lucas

Ver o Dodô decidir uma partida é como topar com um duende. Uma surpresa sempre agradável. Mas ainda assim surpresa.

Quem hoje em dia, senão ele, seria capaz de não comemorar o terceiro gol do Fluminense, o de sua própria autoria? Dodô, abraçado pelos companheiros e ouvindo ao fundo a explosão na arquibancada fez cara de quem não via nada de mais naquilo tudo.

Talvez estivesse furibundo, porque, artilheiro dos gols bonitos, acabara de marcar um que até os pernas-de-pau fariam.

Estaria Dodô realmente indiferente? Não. Ele exultava por dentro. E por que a reação tão fria? Porque esse Ricardo Lucas ainda guarda um pouco da virtude que tanta falta faz aos atletas de futebol modernos: a marra.

Como parar o trovão?

Como deter o mar?

Como frear o tempo?

Existem forças contra as quais é inútil lutar. O Boca Juniors foi apresentado à mais terrível delas: o Maracanã.

Um estádio que, quando canta, dá medo, é um espírito.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Dos males, o menor

Dentro da sem-gracice que São Paulo e Fluminense representam para o futebol nacional, pelo menos passou para as semifinais da Libertadores o time que é capaz de trazer um mínimo de emoção ao torneio.

Com a bola rolando, acho até que o São Paulo é melhor. E o foi na partida da quarta-feira. Mas está longe de demonstrar um futebol que o credenciasse a ganhar o título. E, além disso, é de um pragmatismo insuportável. Com o Fluminense vivo no torneio, mantêm-se vivas também as probabilidades de partidas dramáticas, momentos inusitados e reações imprevisíveis.

Outro ponto importante: fica garantida ainda a permanência do Maracanã no torneio. Convenhamos, é mais que o Morumbi.

E sabem por que foi legal o Fluminense ganhar na quarta? Porque para o time e para a torcida realmente o que estava sendo disputado ali era o jogo da vida de todos eles. Toda uma história no futebol reduzida aos caprichos de noventa minutos. Por isso o Washington não conseguiu segurar o choro quando fez o gol decisivo. Por isso o Renato Gaúcho precisou assimilar o feito na solidão do meio-campo.

O Adriano não teria derramado uma só lágrima se tivesse feito o gol da classificação do São Paulo. E o Muricy, mesmo classificado, daria a típica entrevista ranzinza ao final da partida. No fundo, no fundo, a vitória representava muito menos para o São Paulo (clube e torcida) do que para o Fluminense. Ganhou quem mais queria.

Mas suspeito que tenha sido o último capítulo da euforia do tricolor carioca na Libertadores. Com o elenco que tem, que já nem é tão bom assim e ainda rende abaixo do esperado, o Fluminense é presa fácil para o Boca.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dois pesos, dois destinos.

Os adversários fazem piada do biotipo do Cabañas.

Cabañas faz dos adversários piada.

Ele é obeso. É justamente aí que mora o segredo.

Tal qual um planeta Terra que atrai a lua, Cabañas, com sua massa, faz a bola orbitar ao seu redor.

Mas não mantém a redonda perto de si por muito tempo. Prefere dispará-la contra o desafortunado goleiro. Um chute de Cabañas é a sentença do carrasco.

Ele já tinha vitimado o Flamengo na semana passada. Agora, o Santos. Outros virão.

Cabañas chega em benfazeja hora. Veio cobrir uma lacuna no futebol mundial: a dos artilheiros esféricos. Até outro dia o posto era ocupado por um centroavante que lembrava o estilo do paraguaio, Ronaldo. Arrisco dizer que, com a troca, o esporte não perde tanto assim em termos de genialidade técnica e ainda ganha muito em folclore. No final das contas, é o que importa.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Considerações do fundo do poço

Tem sempre um engraçado que mal vê futebol, mas não perde a chance de zombar dos outros: "Seu time, hein? Que vergonha!"

Esse tipo de boçal não sabe com que sentimentos está brincando.

Como não tenho coragem de me manifestar diante deles, ofendo a todos por escrito mesmo, com a máxima gravidade e todo o desprezo de minh´alma combalida: vão pentear macacos.

Por quê? Por quê?

Às vezes o futebol é a sua única alegria na vida.

Tem dias que até ele decepciona.

Nessas horas terríveis, o que fazer?

Uma atitude desesperada parece o único alento. Escolher um time de vôlei para torcer, decidir levar os estudos a sério, nunca mais assistir a uma pelada de várzea sequer. Calma. Não é preciso que cheguemos a resoluções extremadas.

Devem existir coisas mais importantes que o futebol. A vida não pára só porque seu time perdeu. Pense na beleza do mundo ao nosso redor. A rotina, o trabalho, o trânsito, as mesmas pessoas, os mesmos assuntos, o aquecimento global, a questão indígena.

Esta noite não conseguirei dormir. Talvez nem nas próximas. E é bem provável que em meus delírios de insone Deus apareça. Tomara. Preciso saber, de uma vez por todas, por que agrada tanto a esse senhor se divertir às minhas custas.

Fica, Papai Joel

Terceiro mandato? Nada disso. A população brasileira de fato está mobilizada pela permanência de um líder, mas não a do Lula e sim a do eterno Papai Joel Santana.

Joel assinou contrato para dirigir a África do Sul na Copa de 2010, deixando assim órfã toda uma nação. Ele se despede do Flamengo no jogo de hoje à noite, contra o América do México. Ninguém vai prestar atenção na partida. O foco estará à beira do gramado e nas arquibancadas. Lágrimas vão rolar.

Ou será que não?

Será que Joel está realmente preparado para noventa minutos de "Fica!, fica!"? Quão resistente é o coração deste homem? E se a torcida rubro-negra, notabilizada pela sua criatividade, inventar uma maneira impressionante de homenagear o ídolo? Joel não é de ferro.

Já imagino o técnico em prantos, correndo para o meio do gramado em pleno andamento da partida. A barriga balançando. Ninguém está entendendo nada. Joel tira um papel do bolso da calça, trata-se do contrato com a seleção africana. Num átimo, ele rasga o documento em centenas de pedacinhos, atirando, em seguida, a prancheta aos céus. A massa vibra. Toró e Obina correm para fazer montinho no professor.

A realidade, infelizmente, carece de fantasia.

O mais provável é que Joel consuma a passagem do cetro (do espeto) ao Caio - Homem-Fluído - Júnior. O ex-técnico do Goiás não tem nada a ver com o Papai. Mas não há nada que o ambiente da Gávea não resolva.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Esse trem desgovernado, o amor

Quantos erros cometemos apenas porque amamos demais!

Essas delicadas faltas são perdoadas por Deus, que fez o coração justamente para ser indomável. Infelizmente a sociedade não tem a mesma complacência.

O pelourinho moral, a guilhotina da exclusão, o cadafalso social - é o que espera aquele cujo único erro foi ter dado ouvidos ao amor.

Força, Ronaldo. Enfurnadas que estão em suas rotinas sufocantes, as pessoas acabam nutrindo uma inveja doentia por aquele que conseguiu romper as amarras do tédio. Bem-aventurado quem se entrega à paixão sem pensar duas vezes!

Pergunto: qual foi o pecado do pobre Ronaldo? Ele, que sucessivas vezes foi abandonado pelas mulheres de sua vida. Jovens deslumbrates que o Fenômeno tratou como verdadeiras rainhas, oferecendo a elas mimos e alegrias, mas que dele só queriam o dinheiro e a fama.

Ele, que mesmo tendo prestado serviços inestimáveis para o futebol, tornou-se, nos últimos anos, alvo de críticos maldosos que só pensavam em dilapidar sua carreira, alegando - absurdo dos absurdos - que o craque estava gordo.

E o que falar do destino, implacável, eterno algoz dos joelhos e músculos do camisa nove?

Iludido, ludibriado, difamado e contundido. O que sobra para um homem destes? Amar, certamente. Em doses cavalares, de preferência.

Qualquer criatura que um dia já sentiu o coração bater à vista do ser amado não pode condenar o Ronaldo. Deve antes se compadecer dele. O cupido não deixa escolha às suas vítimas.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Obina!

Manuel de Brito Filho. A prova de que todo ser humano só precisa se sentir amado para produzir bons resultados.

Quando chegou ao Flamengo, em 2005, o Obina era um jogador canhestro e, por isso mesmo, a torcida se desesperava toda vez que ele entrava em campo. Não dava um passe certo. Não chutava uma bola no rumo do gol.

E ainda vivia acima do peso. Resultado dos acarajés, segundo ele mesmo confessava.

A esperança dos flamenguistas era de que, um dia, como todo jogador atualmente, Obina acabaria recebendo uma proposta do futebol árabe ou da Coréia e finalmente deixaria a Gávea.

Meses se passaram e o Obina continuava lá. Seu futebol ficava pior a cada dia. A imensa barriga crescia a olhos nus.

O que fazer? - se perguntava a desesperada torcida. O que fazer?

Então alguém teve uma idéia: vamos idolatrar esse sujeito.

Soava insano. Mas que outra alternativa havia?

A essa altura, estávamos no inverno de 2006.

Foi quando, por puro acaso, sorte ou destino, Obina marcou dois gols na final da Copa do Brasil, contra o Vasco, levando o Flamengo ao título. Quem poderia prever?

Um canto começou a ser ouvido nas arquibancadas do Maracanã: "Ô, Obina é melhor que Eto´o/ Obina é melhor que Eto´o/ Obina é melhor que Eto´o, Ô"

Daí em diante, nada mais pôde segurar o artilheiro do acarajé.

Ele aprendeu a jogar futebol, agora dá bons passes, belos dribles, chutes certeiros e cabeçadas indefensáveis? Não. Ele perdeu peso, melhorou o condicionamento, está mais ágil? Não. O que mudou então? É que hoje Obina é um idolatrado.

Eu sou flamenguista. Um gol do meu time me deixa feliz. Um do Obina me dá ânimo para agüentar a semana.

Muitos torcedores de outros times acham que veneramos o Obina apenas por galhofa. A esses invejosos pergunto se não assistiram o jogo de ontem contra o Botafogo. Obina também faz gols. E ele nem precisa disso.

Termino aqui com um apelo a todas as entidades sobrenaturais que regulam o futebol, porque é sabido que elas existem. Quando estiverem com vontade de romper os ligamentos do joelho do Obina, como aconteceu em fevereiro de 2007, por favor, reconsiderem. Rompam os meus, que não sou profissional mas bato umas peladas vez ou outra e tenho joelhos que, diz lá o médico, aprontariam o maior estalo no momento da contusão.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Boca fumegante

Pra quem viu o jogo do Boca pela Libertadores na terça-feira ficou uma certeza: aquilo já transcendeu a categoria de time de futebol; na verdade, é um coração que corre, faz tabelas, ataca e defende.

Alimentado por que tipo de artéria? Pelas arquibancadas da Bombonera.

É preciso ainda citar um nome. Juan Roman Riquelme.

Somando a tudo isso o fato do Boca ter conseguido heroicamente sua classificação ao mata-mata da Libertadores, é quase irracional duvidar de sua capacidade de conquistar novamente o título.

Pior para quem atravessa o caminho da avalanche.

É possível detê-los? Claro. O coração tem seus triunfos, mas sucumbe à alma. A Bombonera pulsa, nós conhecemos um estádio que ama. Riquelme é craque; há, porém, os guerreiros.

No final, fica a estupefação do enorme quando descobre existir um maior ainda.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O regresso do cachorro com lingüiça

O futebol brasileiro está bem, porque cada vez mais se reaproxima da sua essência fundadora: a várzea.

Até algum pouco tempo atrás renegávamos essa gloriosa vocação. O Brasil fez de tudo para se livrar do estigma da pelada. Tentaram expurgar o amadorismo do nosso futebol.

Não conseguiram. Há forças universais, como o vento e o raio, também na sociedade. Impossível domá-las.

É claro que a tentativa de profissionalizar o futebol brasileiro partiu de algum gestor moderno. A esses paladinos da máxima eficiência, lanço a pergunta: que vergonha há em ser incompetente e trapalhão, se ao mesmo tempo for apaixonante e divertido?

O futebol é um brinquedo. Profissionalizá-lo é tão absurdo como profissionalizar a amarelinha, por exemplo.

O Felipão uma vez, comentando o futebol praticado no meio do século, usou o termo "a época em que se amarravam cachorros com lingüiça".

Esses tempos estão de volta.

Gás de pimenta no vestiário, erros absurdos da arbitragem, chulices compartilhadas entre as torcidas, bate-boca de jogadores, apagão no estádio. Só não somos a favor da violência - o resto é todo bem-vindo.

A mais bela demonstração de amadorismo e apego à várzea do fim de semana, no entanto, não foi nenhuma dessas pérolas listadas acima. O que enchou os olhos do amante do futebol cachorro com lingüiça, da pelada sensu stricto, foi a comemoração do Renato Silva no domingo, após marcar, aos 40 do segundo tempo, o gol que levou o Botafogo à final do Carioca.

Renato Silva, o clássico zagueiro brucutu, perseguido pela torcida, execrado pela crítica, grosso e trombador. Ó ironia. Ele nem acreditou que tinha feito o gol.Saiu vibrando como uma criança na várzea, um bebum na pelada do churrasco, um coitado que acorda às cinco da manhã para ir ao trabalho e descobre que é domingo.

Renato Silva, no próximo jogo, volta a ser Renato Silva.

Ele nunca chegará à seleção, não vai revolucionar a posição do zagueiro, nunca terá o nome ovacionada nas arquibancadas.

Mas sua contribuição ao futebol brasileiro é de valor inestimável.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sim, é possível

De repente, no lugar de uma tristeza quase certa, uma alegria inesperada.

Assim foi a vitória do Flamengo sobre o Cienciano, nas alturas insondáveis de Cuzco, coração do império Inca, berço e jazigo da última grande civilização da América do Sul.

Os antigos incas, quando depararam-se com os espanhóis pela primeira vez, vendo aqueles homens implacáveis montados em cavalos e empunhando pistolas fumegantes, julgaram tratarem-se de demônios. Os jogadores do Flamengo devem ter causado a mesma impressão na quarta-feira.

E eu que já dava a derrota como certa. E eu que achava impossível vencer os 3.800 metros de altitude. E eu que achava que a falta de oxigênio prejudicaria os pulmões de aço dos atletas flamenguistas. Perdão, ó valorosos mártires.

Solapar o Botafogo no domingo será apenas um mero desdobramento de uma avalanche que começou no Peru e terminará no Japão.

Como costumam dizer nas arquibancadas andinas:

Sí, se puede.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Um bom domingo, por que não?

Me diverti como um menino com a solapante derrota do São Paulo.

Vejam bem, não é nada pessoal, até tenho amigos tricolores, mas é que o time do Morumbi, com sua gestão de primeiro mundo, é um terrível exemplo para os outros clubes.

Lamentavelmente os três pênaltis realmente existiram. Muito mais prazeroso teria sido se o juiz os tivesse inventado. Fica para a próxima.

Fiquei satisfeito também com o resultado no Rio de Janeiro. Na minha qualidade de flamenguista era de se pensar que hoje estivesse chorando a derrota. Chorar não é bem a especialidade dos rubro-negros, ainda que o mesmo não se possa afirmar de outras torcidas espalhadas por aí. Em verdade, foi muito bonito ver a atuação do time reserva do Flamengo dar aquele trabalho todo para o Botafogo. No final das contas os 3 a 2 fizeram bem para a rivalidade crescente entre os dois times. E, quando a partida for mesmo para valer, a relação de forças deve voltar à configuração habitual.

O gato brinca com a presa antes de engoli-la.

Até quarta-feira, amigos, quando o mundo do futebol nos deverá brindar com mais alegrias e agradáveis surpresas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Foi desagradável enquanto durou

Depois de longos 3 anos, enfim acabou a supremacia do São Paulo no futebol brasileiro. Era natural que acontecesse, porque as coisas, irrevogavelmente, um dia chegam ao fim. A lamentar, apenas o fato de ter demorado tanto.

E que nunca mais ouçamos "os clubes deveriam aprender um pouco de organização com o São Paulo, esse gigante da gestão responsável, da vanguarda, da seriedade." Oxalá os times bagunçados e atrasadores de salários voltem a ser campeões.

E quem estaria mais apto a ocupar o trono deixado pelo tricolor? Um clube do Rio, paulista, quem sabe um novo e surpreendente São Caetano? Ou será que se aproximam dias de equilíbrio entre as potências?

O que me leva a proclamar assim de chofre as exéquias do São Paulo - talvez precipitadas para muitos - é o jogo deste domingo, contra o Palmeiras. Qualquer que fosse o adversário, talvez o time de Muricy agüentasse mais algumas semanas no Olimpo. Talvez o processo de decadência galopante pudesse ser ao menos suavizado. Mas, contra o Palmeiras, não.

Porque ninguém mais, no atual momento do campeonato paulista, tem a capacidade de aplicar no São Paulo a surra com a qual o Palmeiras certamente nos brindará. E para um time que já começa a duvidar do próprio potencial, cheio de jogadores que, longe de conferir estabilidade, tumultuam o ambiente ao menor sinal de problemas no campo, ser humilhado por um rival significa, sem qualquer atenuante, o fundo do poço - moral e técnico.

Ou eu poderia simplesmente dizer que Adriano apresentou diarréia neste sexta-feira, de acordo com os jornais. E esse único fato, para qualquer um dotado de senso poético, é instrumental - não confundam com estrumental - suficientemente substancioso para vaticinar as agruras que esperam o São Paulo nos próximos dias.

Anotem: Muricy cai antes do crepúsculo de inverno. Adriano, ao fim do contrato, volta para a Europa, só que para a parte primo pobre do continente - aposto Galatasaray. Rogério Ceni mostrará o frangueiro que sempre foi e até a imprensa bajuladora reconhecerá as limitações dele.

E a torcida, enfim, vai ter motivos de sobra para fazer o que sempre fez com maestria: comparecer em número ridículo ao Morumbi.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Pela graça no futebol

A celeuma criada em torno da comemoração do Souza é mais um irritante capítulo da ditadura do politicamente correto que toma conta do Brasil.

Por falta de criatividade, coragem ou inteligência, as pessoas preferem adotar posturas e opiniões que não firam o lugar-comum. Quando alguém tenta ir além da pasmaceira, é porque está sendo “polêmico”.

Desde que não haja ofensas, baixaria ou violência, não vejo problema algum em suscitar polêmica. Ainda mais no futebol, que é, sobretudo, um espetáculo de entretenimento - e não uma assembléia de lordes, como alguns jogadores, técnicos e dirigentes parecem estar convencidos.

A provocação do Souza é daqueles temperos que fazem do futebol mais que um esporte. Tenho certeza que, a partir de agora, milhões de peladeiros Brasil afora vão levar as mão aos olhos e simular um choro copioso quando marcarem seu gols. O próprio Valdivia já incorporou a comemoração ao seu repertório. Isso sem falar nas inúmeras discussões que o gesto tem rendido desde a última quarta-feira. O Souza prestou uma valiosa contribuição para o vasto e singular folclore do futebol brasileiro.

Atribuo ainda outro mérito para o polêmico camisa nove rubro-negro. Ele está ajudando a resgatar um elemento fundamental para a emoção no futebol: a raiva pelo adversário. Até outro dia mesmo, eu, que sou flamenguista, não via muita graça em ganhar do Botafogo, porque tinha pena do Cuca e de seus comandados. A rotina de desilusões alvinegras despertava minha compaixão. Tanto que eu achava mais divertido enfrentar o Fluminense na final da Taça Guanabara. Agora, espezinhados pela irreverência do Souza, os profissionais de General Severiano finalmente começaram a dar declarações capazes de reacender a rivalidade. A ponto de que as duas torcidas, a crônica esportiva e mesmo os jogadores esperam ansiosos pelo próximo clássico entre Flamengo e Botafogo.

Caso os ânimos acirrados redundem em violência no campo e nas arquibancadas, seria um erro atribuir a responsabilidade ao Souza. As pessoas que sabem tirar um sarro sem ofender não podem pagar pela ignorância daquelas que, desprovidas de recursos mentais mais sofisticados, respondem à qualquer ato de irreverência apelando para a brutalidade

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Drama em preto e branco

O dramalhão encenado pelo Botafogo no domingo é daquelas coisas que fazem o futebol valer a pena: foi ridículo, insólito e emocionante.

E, para a infelicidade dos alvinegros, o gesto, cujo objetivo era jogar água na festa do campeão, virou motivo de chacota no país inteiro.

Mas será que a indignação do Cuca, do Bebeto de Freitas e dos jogadores é justificada? Teria sido o Botafogo surrupiado pela arbitragem?Vejamos:

O juiz tem culpa se o zagueiro resolve despir o Fábio Luciano em plena grande área?

O juiz tem culpa se o Lúcio Flávio, ciente de que já tem um cartão amarelo, desfere, em seu próprio campo de ataque, um pontapé no Juan?

E, finalmente, que parcela de culpa tem o juiz no gol irretocável do Diego Tardelli, esse sim o verdadeiro responsável pela derrota do Botafogo?

Além disso, lembremos que, na confusão após o gol do Íbson, o jogo ficou parado por quatro minutos, mas o juiz deu apenas cinco de acréscimos ao final da partida. Deveria ter dado, no mínimo, nove. Essa postura do árbitro beneficiaria o Botafogo, que tinha um a menos em campo e para quem a disputa por pênaltis já era desejada àquela altura.

Em todo o caso, obrigado, Botafogo, pela dose de fantasia com a qual o mundo do futebol foi brindado no domingo à noite. Essas histórias de intrigas e conspirações, vítimas indefesas e vilões cruéis ficam ainda mais empolgantes quando os atores realmente se esforçam para acreditar nelas.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Entra em campo a Velha Máxima do futebol

Quando eu era pequeno e ouvia de um comentarista a clássica frase "como diz aquela Velha Máxima do futebol...", achava que ele se referia a uma senhora idosa e venerável, titular do gabinete mais importante da FIFA, responsável em formular não as regras técnicas do futebol, mas sim os imperativos filosóficos que regem o esporte.

Para mim, a Velha Máxima do futebol era uma espécie de rainha Elizabeth.

Mais tarde, descobri que existiam várias velhas máximas do futebol, versando sobre os mais diversos aspectos do jogo, e que elas não eram exatamente respeitáveis senhoras de carne e osso, apenas formulações criadas pelas mentes dos cronistas esportivos.

Com o tempo, concluí também que não precisamos desses cronistas para fazer o intermédio entre nós, o público, e as velhas máximas do futebol. Nós mesmos, com um pouquinho de vivência, ficamos aptos a saber exatamente o que elas vão dizer. Por exemplo, para o jogo de hoje entre o Flamengo e o Botafogo, sei que tem uma velha máxima do futebol que está bradando, para quem quiser ouvir: "Em clássico não há favorito! Em clássico não há favorito!"

Desculpe, velha máxima do futebol, mas terei que discordar. O Flamengo tem pelo menos três vantagens sobre o rival deste domingo: entra em campo com o mesmo time da boa campanha do ano passado, enquanto o Botafogo, que perdeu vários atletas importantes de 2007, ainda tem desfalques hoje por causa de contusão; o Flamengo também tem mais opções - e de qualidade - no banco, como Jônatas, Tardelli e Klebérson, além de contar, certamente, com a maioria na arquibancada.

Tudo isso conspira para uma vitória rubro-negra.

Mas, é claro, se o Botafogo faz um gol logo início, se fecha atrás e fica jogando no contra-ataque a partida inteira, a história pode ser diferente. Afinal, futebol é uma caixinha de surpresas, como diria aquela velha - talvez a mais anciã de todas - máxima do futebol.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Gotejam lágrimas no Crepúsculo das Carreiras

Imagine uma sala confortável, ampla, toda mobiliada de confortáveis poltronas e um frigobar. Seus freqüentadores são senhores um pouco acima dos trinta anos, com a barriguinha já começando a se insinuar, reunidos ali para assistir a um bom futebol enquanto petiscam alguma coisa.

Essa é a sala do Crepúsculo das Carreiras. Personalidades como Cafú, Romário e Vampeta são figurinhas fáceis ali. Viola, brincalhão, banca o mordomo.

Dois grandes do esporte brasileiro reservaram essa semana mesmo suas poltronas nesse ambeinte festivo - não sem antes derramarem algumas lágrimas de relutância: foram os casos do Guga e do Ronaldo. Um vencido pelo quadril, o outro pelo joelho. (Como é impotente o homem).

As pessoas, eternamente propensas a fazerem certa confusão, costumam alçar uma personalidade à condição de herói quando ela chega no Crepúsculo das Carreiras. Tenhamos discernimento. Apesar de se tratar de uma sala distinta, é bem possível entrar ali pela porta dos fundos.

A noite em que os filhos de Papai Joel cruzaram armas contra os homens do terrível Coronel Bolognesi

Começou a fase de grupos da Taça Libertadores da América (o torneio de futebol que tem o nome mais bonito, ainda que inapropriado, uma vez que a América a que se refere ainda não foi de fato libertada).

A Libertadores desperta tanto interesse porque é o mais próximo que a humanidade conseguiu chegar de um ponto de intersecção entre os duelos de gladiores da Roma antiga e o futebol contemporâneo - as duas maiores paixões de massa ao longo da história.

Ter mantido a selvageria da arena e, ao mesmo tempo, abolido as mortes. Ter casado a civilização com a barbárie. Esses são os grandes méritos da Libertadores.

Infelizmente, em nenhum momento da noite de hoje Flamengo e Coronel Bolognesi lembraram os grandes embates que fizeram a fama do torneio. O jogo terminou num zero a zero tão modorrento que, mal comparando, foi como se o leão e o gladiador se sentassem no meio da arena e decidissem resolver suas diferenças numa partida de buraco - tem gente que apreciaria, daí o vôlei.

Prefiro acreditar, e vou dormir aferrado a essa convicção, que os filhos de Papai Joel estão guaradando o melhor para domingo.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O caminho da desordem

Bizarrices à parte, o Campeonato Carioca continua o mais empolgante do Brasil.

E o clássico dos reservas, com tempestade no céu e nas arquibancadas, foi apenas um prelúdio do que vem no final de semana.

Por que existe uma animosidade tão grande entre os defensores do futebol carioca e os do paulista?

Desconfio que nessa oposição estejam sintetizadas todos os dilemas da existência: de um lado, a vida que queremos levar; de outro, a vida que nos obrigamos a levar.

A bagunça, o descompromisso - e, ao mesmo tempo, a graça - do futebol carioca, ofendem o senso de organização da sociedade.

Como fazem com tudo aquilo que põe em dúvida sua conduta de vida, as pessoas preferem debochar do campeonato do Rio.

Melhor seria se admitissem a acachapante verdade que ele traz: a busca pela eficiência pode não coincidir - e, de fato, na grande maioria dos casos, não coincide - com a conquista da felicidade.