quinta-feira, 11 de junho de 2009

As notas do jogo

Jogo da seleção sempre tem nota para os jogadores. Eu, que sempre quis fazer isso, resolvi não perder mais tempo:

Júlio César: 7,5. Não foi exigido e não teve culpa no gol. Talvez devesse ter colocado um homem a mais na barreira, que só teve quatro jogadores, número pequeno para uma falta frontal e, ainda por cima, cobrada pelo Cabañas.

Dani Alves: 8,5. Apoiou com eficiência e compôs bem a defesa. Deixou bem claro que tem muito mais habilidade do que o Maicon, além de enxergar melhor o jogo. É também a melhor opção que o time tem para as bolas paradas.

Lúcio: 8,5. Esteve muito raçudo, como sempre, e implacável na marcação, como de costume também. Não obstante, nas vezes que se aventurou no ataque criou boas jogadas. Isso já é mais raro.

Juan: 7,0. Me dói dizer, mas percebi um começo de instabilidade no desempenho dele. Fez a falta que originou o gol do Paraguai depois de tomar um drible do Cabañas. Fiquei com a impressão de que a velha segurança do Juan pode estar no começo do declínio. Talvez tenha sido só impressão. Espero.

Kléber: 7,0. Entrou com a clara intenção de preencher o espaço defensivo pela esquerda e não comprometer. Não comprometeu e preencheu o espaço. Mas é pouco para um jogador de seleção.

Gilberto Silva: 4,0. Não toma a bola de ninguém, é lento, só dá passe para trás, isso quando não entrega a bola para o adversário. Não dá para entender o que continua fazendo ali.

Felipe Melo: 9,0. O melhor do jogo. Parece que veste a camisa da seleção há seis séculos e não há seis jogos. Um maestro. Vide a postagem abaixo.

Elano: 5,0. A exemplo de Gilberto Silva, não jusitifica a presença no time. Qual é a função dele? Não vejo o Elano desarmar os adversários nem criar jogadas para o Brasil. E quando pega a bola, faz um passe burocrático. Hernanes já!

Kaká: 8,0. Infelizmente não é um craque. Dizer isso me dói também. Não podemos contar com o Kaká para armar, porque ele não tem a habilidade e a visão de jogo para isso. O negócio dele é correr em direção ao gol. Ontem errou passes, principalmente no primeiro tempo, mas no segundo deu duas arrancadas que o redimiram. Ponto positivo: Kaká é inteligente e tem personalidade para chamar o jogo e tentar resolvê-lo. Não se esconde. "Mete os peitos" .

Robinho: 8,0. O gol foi bonito e não era uma bola fácil. Mas o Robinho errou alguns passes e não soube dar continuidade a alguns bons contra-ataques no segundo tempo. Duas bolas que deveria ter tocado para o Kaká, preferiu a jogada individual e prejudicou o ataque.

Nilmar: 7,0. O gol e mais nada. Mas vale a pena continuar investindo nele. (Ainda que o Pato seja melhor.)

O monstro da camisa nº 5

Amigos, estou abalado pelo que fez Felipe Melo no jogo da seleção. É tamanho o meu assombro que acho difícil até de encontrar palavras, mas se disser que ontem tive a impressão de ver o Gérson em campo acho que não estaria exagerando.

Em tempo: nunca vi o Gérson jogar. Só que imagino que os volantes de classe sejam todos parecidos entre si. Desarmam com eficiência e sem faltas, pegam bem na bola, têm um passe refinado, chutam de fora e, sobretudo, correm com elegância.

Dois lances do Felipe foram geniais. O passe para o gol, claro, e uma trivela que ele dá na bola virando o jogo da esquerda para a direita, no pé do Dani Alves. Que trivela! Quis abraçar meu irmão naquela hora, de tanta emoção, mas ele jé estava abraçando meu outro irmão.

Felipe Melo é uma inteligente descoberta do Dunga. Ou seria do Jorginho? Prova de que alguém na comissão técnica realmente acompanha o futebol mundo afora e não se prende apenas aos jogos dos grandes times. E mais: que alguém lá sabe identificar um grande jogar quando vê um pela frente. Quem diria!

Hoje ouvi comentaristas dizerem que o Felipe firulou em alguns lances e que estava seguro até demais. Quer dizer, poderia ter sido mais brucutu. Não dá para entender. Será que o Dunga também pensa assim? Ontem ele deu uma esbravejada depois de um toque um pouco mais rococó do volante. Era só o que faltava: quando uma das invenções do Dunga finalmente dá certo, ser sacada do time por excesso de habilidade.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O futebol não morreu

Tem alguns velhos saudosistas que adoram dizer que o futebol perdeu a graça. Que de 82 pra cá ninguém mais se interessa pela seleção. Como se a geração deles fosse a única com o direito de torcer. Velhotes, lamento, muita gente ainda gosta do bom esporte bretão, mesmo depois da aposentadoria do Zico. Aqui está a prova. Amigos que há muito não se veem encontram um tempo em suas atribuladas rotinas para trocar ideias sobre times, jogadores e campeonatos. Tudo por e-mail, o que também deve ofender o bom saudosista, deprimido até hoje com o fim do telégrafo.

Amigo 1:Com Kaká no Real, o campeonato italiano fica cada dia mais sem graça. A insossa Inter, a decadente Juventus e o envelhecido Milan.

Fetão, que futebol é esse que andam vendo? Os comentaristas falaram maravilhas da atuação do Brasil contra o Uruguai.


Amigo 2:O Kaká tem tudo para se afundar no Real. O time é muito bagunçado, o Flamengo da Europa. Mas boto fé no técnico novo, aquele Pellegrini. Ele fez o Villareal voar baixo há duas temporadas, quem sabe consegue pôr ordem nos merengues.

E talvez o próximo campeonato italiano seja atraente. Com Pato no Milan, Diego na Juventus e possivelmente Felipe Melo na Inter, nós, brasileiros, teremos motivo para assistir aos jogos. Se esses jogadores resolverem destruir, então fica melhor ainda.

Felipe Melo, aliás, não chega a me ofender no meio-campo da seleção. Acho até que o cara merece uma vaga de titular. GIlberto Silva não.Eu escalaria assim: Felipe Melo de primeiro volante, Elano de segundo, Diego e Kaká.

Gostei do Brasil contra o Uruguai, com a ressalva de que o time deles é muito fraco e de que o Brasil só jogou no contra-ataque. Quando precisa furar uma retranca, a seleção se complica. É porque falta jogador criativo e inteligente. Kaká é uma flecha, não um cérebro. Hoje fica 0x0. E não entendo a discussão Pato ou Nilmar. Ninguém vê futebol. Pato é muito melhor.


Enquanto conversas como essa continuarem sendo travadas por puro prazer e com todo o ardor da alma, o futebol sobreviverá.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A notícia que abalou o Brasil (e o mundo)

Nunca vou me esquecer do 25 de maio de 2009. E da sensação de vazio que me deu quando vi na TV anunciarem a ida do Obina para o Palmeiras. Parecia que ele nunca iria sair do Flamengo, parecia que iria se aposentar lá, ganhar um busto de bronze, virar nome do futuro CT, do futuro estádio. Mas agora, sem mais nem menos, o Brasil é surpeendido com a notícia de que o casamento entre o Obina e o rubro-negro acabou. O que será de ambos daqui para frente?

Talvez o Palmeiras obtenha alguma vantagem nessa negociação, porque pode ser que o Obina faça alguns gols por lá, hipótese que não deve ser descartada, como também não deve ser descartada a hipótese de que ele não faça gol nenhum. Fora isso, são irreparáveis os danos para o jogador, para o Flamengo e para o futebol brasileiro.

Obina deixa o clube e a torcida que o transformaram em um mito. Ao vestir outro uniforme, enfraquece a imagem que conquistou no imaginário do torcedor brasileiro. Já o Flamengo perde o maior símbolo que teve depois da era Romário. E o futebol brasileiro perde o personagem mais folclórico que apareceu na década. Longe do Flamengo, Obina é só mais um centroavante atrapalhado.

Por toda a graça que trouxe para os gramados, torço pelo Obina. Tanto que em 2007, quando ele rompeu os ligamentos do joelho fazendo um gol contra o Vasco, eu fiquei triste a ponto de pensar que trocaria de bom de grado a minha rótula com a dele.

Para a lenda não morrer, dois cenários seriam ideiais. No primeiro, Obina faz o gol do título do Palmeiras na Libertadores, ou então no Mundial interclubes, contra Manchester ou Barcelona. No segundo, Obina, que até agora não fez gol em 2009, continua sem marcar até o fim do ano e terminara a temporada como único artilheiro "virgem" do Brasil. Viraria santo. Obina, o Imaculado.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dunga, mais uma vez, faz lambança

A nova convocação da seleção brasileira tem a mesma característica básica de todas as outras feitas na Era Dunga. É capenga. O treinador gosta de dizer que pauta o trabalho pela coerência, razão pela qual não faz mudanças radicais no time. A coerência de Dunga é insistir nos erros. A esse tipo de atitude os dicionários dão outro nome, menos nobre.

A principal falha é a lista de convocados para o meio-campo: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Josué, Júlio Batista, Kaká, Ramires e Anderson. Quem deles se notabiliza por armar o jogo? Onde está a criatividade, o drible, a inteligência? Fora o Kaká, os outros sete são jogadores rigorosamente comuns. Gilberto Silva e Josué, aliás, são menos que isso, são abaixo da média. Esse não é um meio-campo para a seleção brasileira. Se me disserem que não temos nada melhor para pôr no lugar, então a crise em nosso futebol é seríssima e talvez seja a hora de decretar falência técnica.

A ausência do Diego é imperdoável e a do Hernanes também. Dunga parece ter aversão à técnica e ao requinte. É próprio dos brucutus temer a habilidade. Ela pode ameaçar o modelo mecanizado e pragmático que o técnico impõe à seleção.

Com esses convocados de meia-tigela Dunga parte para enfrentar a sequência de jogos mais difícil que já teve à frente do time. Pelas eliminatórias, Paraguai dentro de casa e Uruguai em Montevidéu. Em seguida, a Copa das Confederações na África do Sul. Vai ser talvez a última chance dele balançar no cargo. Se o Dunga sair ileso do mês de junho, será inevitável: vai para a Copa do ano que vem, com toda a sua coerência.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Barcelona: um espírito

O Barcelona, mesmo quando não é brilhante, emociona. No jogo de ontem contra o Chelsea não foi o carrossel das últimas partidas, mas procurou o ataque o tempo todo, pouco ligando se jogava fora de casa. Isso, no futebol de hoje, é coisa para loucos. Há certa carência de loucura no mundo.

Falamos de um time que deu vida à utopia. Graças ao Barcelona, caiu a falácia de que espetáculo e resultado são objetivos inconciliáveis. O estrago causado pela derrota do Brasil em 82 é aos poucos reparado pelas glórias do time catalão. O Chelsea representa exatamente oposto - era fundamental que não triunfasse. Ontem o sonho subjugou a realidade; a fantasia, o pragmatismo.

A seleção brasileira poderia se inspirar nesse exemplo, mesmo porque tem à disposição os jogadores mais hábeis do mundo. Mas o time desperdiça, ano após ano, a oportunidade de encantar e fazer história. Prefere colecionar empates e vitórias pouco convincentes. Dunga chama a isso "o futebol moderno". Falta ao treinador, mas não só a ele, a várias pessoas do nosso tempo, em todos os campos de atividades, um pouco do Espírito Barcelona. Uma força que nos impele a buscar o sublime, mesmo que isso nos coloque ainda mais próximos do fracasso. Eis um exemplo: numa aula da faculdade, o professor, defendendo o pragmatismo e o pé-no-chão na atividade artística, perguntou:

- Por que tentar, a cada trabalho, fazer a obra de nossas vidas?

E um aluno, talvez a mesma pessoa que escreve estas linhas, respondeu:

- Porque pode ser a última.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Enfim, justiça!

A crônica, quando quer, é muito eficiente em rotular personagens do futebol. Nem sempre com o bom senso que tanto lhe caracteriza. Alguns jogadores e técnicos recebem pechas injustas. Mas sabemos que nisso não há maldade.

Cuca, por exemplo. Estava prestes a entrar para a história como o rei dos vices, o grão-perdedor. Não se levava em conta o fato de que para perder finais é preciso chegar até elas, o que dá trabalho. Também ignorava-se (ou esquecia-se, porque sabemos que lapsos de memória podem acometer também as melhores mentes) que o Botafogo, antes da chegada do Cuca, estava cada vez mais firme no seu papel de mero coadjuvante do futebol nacional. E que foi, graças ao técnico, recolocado no mapa. Mas isso também parecia não ter importância e a própria torcida alvinegra fez questão de deixar claro que, longe de gratidão, tem mesmo é ressentimento do Cuca.

O título do domingo fez justiça a um técnico competente que vinha sendo perseguido. Além do mais, o Botafogo aguentaria ser tri-vice; Cuca, não. Seria demais para um homem só.