terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Política e futebol

Até então eu estava me importando muito pouco, ou quase nada, com os chiliques do governo italiano na interminável novela Cesare Battisti. Não que eu tenha sido favorável à decisão de mantê-lo aqui, sob asilo político, achei até que o Tarso Genro foi no mínimo deselegante com o nosso país amigo. Se a Itália, república democrática e soberana, vê motivos em prender o homem, e se é inegável que ele matou pessoas, por que não despachá-lo? Mas, sinceramente, não cheguei a me comover com o tema, a ponto de defender com unhas e dentes este ou aquele ponto de vista.

Até que a política resolveu enfiar os seus bedelhos no futebol. Isso sim é desegradável. Hoje autoridades italianas sugeriram que o amistoso entre a seleção deles e a nossa, marcado para o dia 10, fosse cancelado. Pode? Chamem o embaixador deles de volta, isso é legítimo. Envolver o futebol no meio, aí não. Política e esporte não devem se misturar. O esporte é um espaço sagrado de congregação mundial, onde os povos põem as diferenças de lado em nome de uma paixão comum, nem que seja por noventa minutos, e, eventualmente, os trinta da prorrogação.

Lembram, por exemplo, quando o Santos do Pelé fez um amistoso no Líbano e o país, que estava em guerra, teve um dia de trégua só para assistir ao jogo? Ou a memorável pelada entre judeus e soldados alemães em plena segunda guerra mundial? Ou o Brasil x Haiti, quando as estrelas Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e cia. levaram um pouco de alegria para a combalida cidade de Porto Príncipe?

Por essas e por outras o esporte deve ser preservado dos tentáculos da política. Sabemos o quanto isso é difícil, e é por isso mesmo que vale a pena lutar para que ambos mantenham a maior distância possível um do outro. Agora, não dá para negar que o amistoso contra a Itália, que tinha tudo para ser mais um jogo insosso - como têm sido os confrontos entre seleções internacionais nos últimos anos - ganhou tempero graças aos recentes atritos diplomáticos. E já que se chegou a esse ponto, o melhor é aproveitar para tirar chacota com a cara dos italianos. Imaginem a cena: o Robinho faz uma jogada daquelas, mete umas canetas nos zagueirões duros, deixa o Materazzi estatelado no chão, aplica o da vaca no Buffon e empurra de letra para o gol vazio. Na comemoração, tira o uniforme da seleção para mostrar ao mundo inteiro a camisa que ele veste por baixo, estampada com a foto do Battisti e os dizeres " eô, eô, o Cesare é um terror". Seria demais.