terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma questão nacional

Um novo craque brasileiro desponta para o mundo do futebol. É Amauri, o monstro da Juventus de Turim. No clássico de domingo, contra o Milan, quem foi pra ver Pato, Ronaldinho ou Del Piero teve uma surpresa. Viu Amauri, seus dois golaços e mais passes e dribles desconcertantes.

Amauri é mais um desses que a gente nunca assistiu jogar em time brasileiro. Aos vinte e sete anos de idade, construiu toda a carreira na Europa mesmo. Temporada passada defendeu o Palermo da série A italiana. Jogou bem e as atuações lhe renderam a transferência para a Juventus. Em 2007 já se falava no nome dele, a imprensa da Itália especialmente. Mas nós, brasileiros, não dávamos muita importância. Nossa prepotência no futebol nos impede de dar atenção para alguém que se destaca no Palermo e não começou a carreira no Flamengo ou no Corinthians, por exemplo.

Mas Amauri se mostra maior que qualquer preconceito. Ele não sofria com o ataque dos críticos. Pior, sofria com a indiferença. Ninguém falava nele. Amauri é como se não existisse para o noticiário esportivo brasileiro. Domingo, podemos entender assim, Amauri nasceu para o nosso futebol. Muito prazer.

Só lamento que talvez tenhamos sido apresentados tarde demais. É possível que Amauri nunca venha a, enfim, fazer parte do futebol brasileiro. A federação italiana de futebol já namora o jogador. Amauri, que nunca atuou pela nossa seleção, pode se naturalizar italiano para defender a azzurra. Quem pode condená-lo? Ele tem vinte e sete anos, sua carreira até outro dia era mergulhada no mais absoluto anonimato, é natural que a possibilidade de defender uma seleção, a pouco mais de um ano para a Copa, lhe mexa com a cabeça. E quanto ao patriotismo, é bom lembrar que a seleção do Brasil nunca deu mostras de se interessar por Amauri. O enjeitado procura quem o valoriza.

Por isso levanto aqui uma bandeira. Dunga, convoque o Amauri. E é pra já, porque os italianos estão ávidos por naturalizá-lo. Eles não vão perder um só segundo e lançarão mão de todas as seduções e vantagens que o país da bota pode oferecer. Sugiro que a CBF marque um amistoso relâmpago para as próximas semanas, um Brasil e amigos do Ronaldo que seja, só para o que o Amauri seja convocado. De forma que ele não poderá atuar por nenhuma outra seleção do planeta.

Essa sim é uma questão pela qual vale lutar. Nesse final de ano, é um míope político e social aquele que se preocupar com a crise financeira e seus reflexos na economia interna. O Brasil tem que se concentrar em Amauri. Ou então, em 2010, vai ter motivos de verdade para entrar em recessão - moral.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Estrategista das sombras

Não é por ter ganhado o título ontem, é por tudo que mostrou ao longo da carreira que o Tite seria uma alternativa interessante para o lugar do Dunga. Ele já provou não é simplesmente um desses técnicos gauchões, como o Mano Menezes, Adílson ou o próprio Dunga, que montam times mordedores, raçudos, mas sem inspiração. Com o Tite a história é diferente. As equipes dele sabem o que fazer com a bola no pé e, apesar de defenderem com competência, têm vocação ofensiva. Ideal para o reerguer futebol brasileiro.

Este atual Inter é o melhor time do país. Teria levado o campeonato brasileiro se não tivesse demorado tanto tempo para terminar de montar o elenco. Por merecimento, é o campeão de 2008. Se algum técnico deve sair consagrado do torneio, este é o Tite.

Eu me lembro de um caso, quando ele era treinador do Corinthians, lá por 2004. À noite o noticiário esportivo trouxe a seguinte informação: no último treinamento antes de enfrentar o adversário do fim de semana, Tite faz coletivo entre titulares e ninguém. Eram onze contra zero. Não se tem notícia, em todo o futebol mundial, antes ou depois daquele dia, de tática sequer parecida. Foi quando eu vi que ali havia um treinador diferenciado. Alguém que soube trazer para o futebol a eterna batalha entre o homem e o nada.