domingo, 23 de novembro de 2008

Do outro lado da savana

Por ter passado a semana inteira repetindo que o Vasco ganhará do São Paulo, fui acusado de fanfarronice. Alegam os detratores que minha estratégia é prever um resultado praticamente impossível para o caso de, se por milagre, ele vier a acontecer, eu emerja como um visionário do futebol. E, se o resultado não se concretizar, tudo bem, ninguém esperaria mesmo que fosse diferente e assim minha imagem permaneceria intacta. Só que eu não preciso apelar para um plano tão mesquinho como esse.

Digo que o Vasco vai derrotar o São Paulo não baseado em achismos ou bravata, mas em argumentos. Quais sejam: São Januário vai estar lotado e a torcida vascaína é uma dessas poucas no Brasil que empurram o time para frente, fazendo que mesmo o mais limitado dos jogadores consiga extrair de si alguma força para contribuir com o time; o Vasco está deseperado para fugir do rebaixamento e é notório que clube grande à beira da zona de degola joga com empenho multiplicado; o Renato Gaúcho é um técnico inteligente e não custa lembrar que foi um time comandado por ele, o Fluminense, que impôs ao São paulo a derrota mais doída da temporada até aqui, a das quartas de final Libertadores; e, finalmente, o Vasco, apesar da fragilidade da defesa, tem alguns bons atletas do meio para frente e que são capazes de decidir a partida, como o Lenadro Amaral, o Mádson, o Alex Teixeira e o Wágner Diniz. Além de tudo isso, devemos lembrar que o São Paulo não é mais o rolo compressor das últimas duas temporadas. Pelo contrário, tem se mostrado uma equipe muito irregular.

Portanto, não me venham dizer que emito opiniões sem fundamento. Uma das minhas lutas é contra a superficialidade nos comentários sobre futebol, não seria eu próprio a contribuir ainda mais com ela.

Ao longo de toda a semana, ao defender o Vasco, ouvia de todos os interlocutores que eu estava apostando na zebra. Ao final do jogo de hoje, vocês verão que, o tempo todo, estive do outro lado da savana: o do leão.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Será?

A esta altura o título do São Paulo parece fato quase irremediável. Ainda mais levando em conta o histórico recente do time paulista, o grande bicho-papão desta década no futebol brasileiro. Mas a rodada do final de semana botou nuvens escuras no céu tricolor. Apesar da vitória convincente contra o Figueirense, o São Paulo viu dois rivais diretos crescerem no retrovisor: Flamengo e, principalmente, Grêmio.

Esses são os concorrentes mais temíveis que o São Paulo poderia encontrar na reta final do campeonato. Isso porque cariocas e gaúchos são, dos times da ponta, os que têm os jogos teoricamente mais fáceis nas últimas rodadas. Além disso, vêm embalados pelo furor da torcida e pelas boas vitórias obtidas no domingo. A do Flamengo, contra o Palmeiras, foi daquelas para botar fogo no time.

Não é demais lembrar que o São Paulo ainda pega Vasco e Fluminense, dois grandes desesperados para fugir do rebaixamento. Aposto que essas partidas custarão valiosos pontos para o atual líder.

O campeonato de 2008 foi o mais acirrado da era dos pontos corridos. Mas depois de muita disputa, oscilações e alternância de posições, o campeão parecia ter despontado. Faltando míseras três rodadas, uma nova surpresa se esboça. E o que todo fã de futebol está se perguntando Brasil afora nesta segunda-feira é se o São Paulo chegará mesmo ao hexa.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Chora o futebol

Algumas verdades sobre os rumos que vem tomando o Campeonato Brasileiro precisam ser ditas. Principalmente para abrir os olhos do torcedor para o terrível cenário que se desenha. Vamos a elas.

O São Paulo não pode ser campeão. Seria a catástrofe completa, o pior dos mundos, o fim do futebol. A própria torcida tricolor, se tem o mínimo de apreço ao esporte, deve torcer para seu time não terminar o torneio na ponta. O São Paulo sepulta tudo aquilo que o futebol brasileiro demorou anos para construir, o improviso, a desorganização, a irreverência, a irresponsabilidade, a malandragem, a peraltice, a ironia. Em suma, a graça.

O pior nisso é que o torcedor reflete exatamente as características do time. E se o São Paulo continuar ganhando títulos todo o ano, lamentavelmente sua torcida tende a aumentar. Cada criança que escolhe ser são-paulina e não corintiana, palmeirense ou flamenguista, contribui um pouco mais para a tristeza do futebol brasileiro.

Um são-paulino a mais no mundo representa um torcedor a menos nos estádios, porque sabemos que eles não são lá muito afeitos a ver o jogo in loco. Representa também o fim dos gritos de guerra nas arquibancadas, porque também é notória a falta de verve poética dos tricolores. Isso sem falar na extinção dos jogadores que falam errado, dos dirigentes canastrões, dos técnicos churrasqueiros, do pagode na concentração, da provocação ao adversário.

Poderíamos ficar o dia inteiro aqui listando os malefícios da ascensão do São Paulo.

Os torcedores tricolores gostam de se vangloriar dizendo que seu time, graças a todos os títulos que vem papando, é o Bayern de Munique do Brasil. Minha opinião não é diferente. O São Paulo me passa exatamente essa imagem: a de um time alemão.