terça-feira, 26 de maio de 2009

A notícia que abalou o Brasil (e o mundo)

Nunca vou me esquecer do 25 de maio de 2009. E da sensação de vazio que me deu quando vi na TV anunciarem a ida do Obina para o Palmeiras. Parecia que ele nunca iria sair do Flamengo, parecia que iria se aposentar lá, ganhar um busto de bronze, virar nome do futuro CT, do futuro estádio. Mas agora, sem mais nem menos, o Brasil é surpeendido com a notícia de que o casamento entre o Obina e o rubro-negro acabou. O que será de ambos daqui para frente?

Talvez o Palmeiras obtenha alguma vantagem nessa negociação, porque pode ser que o Obina faça alguns gols por lá, hipótese que não deve ser descartada, como também não deve ser descartada a hipótese de que ele não faça gol nenhum. Fora isso, são irreparáveis os danos para o jogador, para o Flamengo e para o futebol brasileiro.

Obina deixa o clube e a torcida que o transformaram em um mito. Ao vestir outro uniforme, enfraquece a imagem que conquistou no imaginário do torcedor brasileiro. Já o Flamengo perde o maior símbolo que teve depois da era Romário. E o futebol brasileiro perde o personagem mais folclórico que apareceu na década. Longe do Flamengo, Obina é só mais um centroavante atrapalhado.

Por toda a graça que trouxe para os gramados, torço pelo Obina. Tanto que em 2007, quando ele rompeu os ligamentos do joelho fazendo um gol contra o Vasco, eu fiquei triste a ponto de pensar que trocaria de bom de grado a minha rótula com a dele.

Para a lenda não morrer, dois cenários seriam ideiais. No primeiro, Obina faz o gol do título do Palmeiras na Libertadores, ou então no Mundial interclubes, contra Manchester ou Barcelona. No segundo, Obina, que até agora não fez gol em 2009, continua sem marcar até o fim do ano e terminara a temporada como único artilheiro "virgem" do Brasil. Viraria santo. Obina, o Imaculado.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dunga, mais uma vez, faz lambança

A nova convocação da seleção brasileira tem a mesma característica básica de todas as outras feitas na Era Dunga. É capenga. O treinador gosta de dizer que pauta o trabalho pela coerência, razão pela qual não faz mudanças radicais no time. A coerência de Dunga é insistir nos erros. A esse tipo de atitude os dicionários dão outro nome, menos nobre.

A principal falha é a lista de convocados para o meio-campo: Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano, Josué, Júlio Batista, Kaká, Ramires e Anderson. Quem deles se notabiliza por armar o jogo? Onde está a criatividade, o drible, a inteligência? Fora o Kaká, os outros sete são jogadores rigorosamente comuns. Gilberto Silva e Josué, aliás, são menos que isso, são abaixo da média. Esse não é um meio-campo para a seleção brasileira. Se me disserem que não temos nada melhor para pôr no lugar, então a crise em nosso futebol é seríssima e talvez seja a hora de decretar falência técnica.

A ausência do Diego é imperdoável e a do Hernanes também. Dunga parece ter aversão à técnica e ao requinte. É próprio dos brucutus temer a habilidade. Ela pode ameaçar o modelo mecanizado e pragmático que o técnico impõe à seleção.

Com esses convocados de meia-tigela Dunga parte para enfrentar a sequência de jogos mais difícil que já teve à frente do time. Pelas eliminatórias, Paraguai dentro de casa e Uruguai em Montevidéu. Em seguida, a Copa das Confederações na África do Sul. Vai ser talvez a última chance dele balançar no cargo. Se o Dunga sair ileso do mês de junho, será inevitável: vai para a Copa do ano que vem, com toda a sua coerência.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Barcelona: um espírito

O Barcelona, mesmo quando não é brilhante, emociona. No jogo de ontem contra o Chelsea não foi o carrossel das últimas partidas, mas procurou o ataque o tempo todo, pouco ligando se jogava fora de casa. Isso, no futebol de hoje, é coisa para loucos. Há certa carência de loucura no mundo.

Falamos de um time que deu vida à utopia. Graças ao Barcelona, caiu a falácia de que espetáculo e resultado são objetivos inconciliáveis. O estrago causado pela derrota do Brasil em 82 é aos poucos reparado pelas glórias do time catalão. O Chelsea representa exatamente oposto - era fundamental que não triunfasse. Ontem o sonho subjugou a realidade; a fantasia, o pragmatismo.

A seleção brasileira poderia se inspirar nesse exemplo, mesmo porque tem à disposição os jogadores mais hábeis do mundo. Mas o time desperdiça, ano após ano, a oportunidade de encantar e fazer história. Prefere colecionar empates e vitórias pouco convincentes. Dunga chama a isso "o futebol moderno". Falta ao treinador, mas não só a ele, a várias pessoas do nosso tempo, em todos os campos de atividades, um pouco do Espírito Barcelona. Uma força que nos impele a buscar o sublime, mesmo que isso nos coloque ainda mais próximos do fracasso. Eis um exemplo: numa aula da faculdade, o professor, defendendo o pragmatismo e o pé-no-chão na atividade artística, perguntou:

- Por que tentar, a cada trabalho, fazer a obra de nossas vidas?

E um aluno, talvez a mesma pessoa que escreve estas linhas, respondeu:

- Porque pode ser a última.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Enfim, justiça!

A crônica, quando quer, é muito eficiente em rotular personagens do futebol. Nem sempre com o bom senso que tanto lhe caracteriza. Alguns jogadores e técnicos recebem pechas injustas. Mas sabemos que nisso não há maldade.

Cuca, por exemplo. Estava prestes a entrar para a história como o rei dos vices, o grão-perdedor. Não se levava em conta o fato de que para perder finais é preciso chegar até elas, o que dá trabalho. Também ignorava-se (ou esquecia-se, porque sabemos que lapsos de memória podem acometer também as melhores mentes) que o Botafogo, antes da chegada do Cuca, estava cada vez mais firme no seu papel de mero coadjuvante do futebol nacional. E que foi, graças ao técnico, recolocado no mapa. Mas isso também parecia não ter importância e a própria torcida alvinegra fez questão de deixar claro que, longe de gratidão, tem mesmo é ressentimento do Cuca.

O título do domingo fez justiça a um técnico competente que vinha sendo perseguido. Além do mais, o Botafogo aguentaria ser tri-vice; Cuca, não. Seria demais para um homem só.