quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Falar mal de quem agora?

Faz muito bem para a saúde de um país ter inimigos públicos. Alguém que cumpra a nobre função de bancar o para-raio da frustração e da indignação nacional. Isso une as pessoas, nos faz irmãos. E permite que a sociedade encontre sempre um bode expiatório para seus males.

Esse papel historicamente coube aos políticos. Mas tem ficado cada dia mais sem graça enxovalhar as excelências. A classe política, em mais um golpe de mestre, resolveu ela mesma execrar seus membros comprovadamente corruptos e prevaricadores, privando o populacho de tão sublime prazer. O caso do deputado do castelo, por exemplo. O partido resolveu desfiliar o sujeito antes mesmo que desse tempo da gente se indignar com a história, ir para as ruas com faixas de protesto, cantar Vandré a plenos pulmões. Peraí! E a nossa primazia consagrada de esculachar todos os políticos e seus partidos? Até isso querem nos tirar.

Outro que sempre serviu de Judas no sábado de Aleluia é o técnico da seleção. E desde que o Dunga assumiu estávamos muito bem servidos nesse ponto. Não faltava motivo para falar mal, extravasar nosso descontentamento, aplacar nossa fúria. Aquela incompetência parecia inesgotável, um prato cheio para todas as antipatias. Mas olha o que a seleção fez ontem! Assim não dá.

Foi a melhor partida do Brasil desde 2006. Um futebol de dar gosto, com toque de bola vistoso, dribles, criatividade, marcação inteligente, até parecia... a seleção brasileira! Quase todos os jogadores foram bem. O caso mais intrigante, no entanto, foi o do Felipe Melo. Ele nunca tinha jogado pela seleção e era inimaginável que um dia sequer passasse perto de ser convocado. Escondido nos rincões do futebol europeu - teve passagens por equipes sem expressão da Espanha até se transferir para a Fiorentina -, foi lembrado pelo Dunga para o amistoso contra a Itália. Ninguém entendeu nada. Pois Felipe Melo não só foi convocado, como entrou de titular. E pior: jogou muito.

Portanto está ficando constrangedor falar mal do Dunga. Só nos dois últimos jogos, a seleção fez 6 a 2 em Portugal e 2 a 0 na Itália. Se as coisas continuarem assim, o brasileiro vai ter que procurar outra pessoa para espicaçar, e urgentemente. Ou pelo menos até o próximo jogo das Eliminatórias.

Um comentário:

Guilherme Sousa Rocha disse...

Você tá de brincadeira que o Felipe Melo jogou bem. Que flamenguismo.