Fiquei em vias de me emocionar com a chegada da seleção brasileira em Hanói. Saber que um símbolo aqui da nossa terra viaja para um país tão distante, geograficamente e culturalmente, e ainda é recebido com absoluta devoção, fanatismo mesmo, mexe com meu patriotismo de ocasião. Isso mostra que, escorregões à parte, a seleção brasileira ainda preserva sua aura como o futebol mais fantasista do planeta. Fama conquistada graças principalmente à geração do Pelé e aos dois recentes títulos mundiais que, vencidos em menos de uma década, fizeram parecer que o Brasil é um rolo compressor.
Até quando essa reputação sobrevive ao Dunga? Mesmo não acreditando no treinador, a quem considero despreparado e instável emocionalmente, acho que talvez as Olimpíadas sirvam para que o trabalho dele comece a ganhar ares mais promissores. Explico o por quê: por obra do acaso ou por competência, o Dunga conseguiu reunir um bom plantel para os Jogos, especialmente para posições nas quais o time principal é carente, como as laterais e o meio-campo de contenção. Lucas, Hernanes e Anderson, se derem certo - e precisam dar - preenchem várias lacunas ao mesmo tempo. Melhoram a saída de bola, dão criatividade à intermediária, fortalecem o apoio ao ataque - sem enfraquecer a marcação - e conseqüentemente, conferem maior consistência ao time. Além disso, já que o Dunga entende que não é possível escalar o time com menos de três volantes, que pelo menos os três sejam esses, e não Josué, Gilberto Silva e Mineiro. Nisso tudo eu concordo com o companheiro Sousa Rocha(www.nacovadosdragoes.blogspot.com).
É claro que ainda não há base para prever, mas pressinto que o time da Olimpíada vai dar certo. E aí já projeto minha escalação ideal para o time principal: Júlio César, Rafinha, Lúcio, Juan e Marcelo; Lucas, Hernanes, Anderson e Kaká; Ronaldinho e Pato. O Kaká como homem de ligação entre o meio-campo e o ataque, exatamente como ele faz no Milan. O Gaúcho mais adiantado, mas sem posição fixa, porque um talento como ele não pode ficar limitado a uma faixa do campo. Robinho vai para o banco mesmo e junto com o Diego fica como arma para o segundo tempo.
Eu, que iria torcer contra o Brasil nas Olimpíadas, que era para ver se o Dunga caía de vez, agora desejo o sucesso do time. Tem muita coisa em jogo. Além da consolidação do promissor meio-campo, a volta por cima do Ronaldinho Gaúcho e o aceno com um esquema tático não tão covarde são outros ganhos que viriam na carona da medalha de ouro. Caso o Brasil fracasse, esses jovens jogadores podem ficar queimados e a comissão técnica deve continuar insistindo em jogadores ultrapassados e posturas defensivas demais. A Olimpíada, que até então estava com pinta de torneio insosso, fica bastante atrativa.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
domingo, 27 de julho de 2008
Façanhas
O Flamengo conseguiu achar alguém que dê dinheiro pelo Sousa. A empreitada se compara a vender geladeira para esquimó. Mas, no frio da análise, infelizmente não posso deixar de lamentar. O Sousa não é nenhum, digamos, Obina, mas compõe elenco. Vai fazer falta. A não ser que tragam um bom substituto para seu lugar. Fiemo-nos na megalomania do Kléber Leite.
As façanhas do sábado não pertencem só ao Flamengo. Contra todos os prognósticos, o Ipatinga conseguiu fazer 1 a zero no Internacional, justo quando o colorado parecia ter decolado de vez. Bom para quem briga com os gaúchos na parte de cima da tabela; ruim para quem, como o Santos, patina do lodaçal das últimas posições.
As façanhas do sábado não pertencem só ao Flamengo. Contra todos os prognósticos, o Ipatinga conseguiu fazer 1 a zero no Internacional, justo quando o colorado parecia ter decolado de vez. Bom para quem briga com os gaúchos na parte de cima da tabela; ruim para quem, como o Santos, patina do lodaçal das últimas posições.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Ainda assim, paira a dúvida
Pode parecer que a goleada do Grêmio em cima do Figueirense ontem à noite e a consequente tomada da liderança são razões suficientes para calar aqueles que teimam em não acreditar no time gaúcho. Mas a mim o 7 a 1 não convenceu. O Grêmio é a lebre na corrida de cachorros. Puxa o ritmo para ser ultrapassada antes do fim.
A crítica já chegou mais ou menos a um consenso de que uma característica fundamental desse campeonato de pontos corridos são as oscilações que os times inexoravelmente apresentam ao longo da campanha. Os momentos de baixa, comuns aos 20 times, tendem a ser mais profundos e a durar mais quanto mais fraco for o elenco. É o problema do Grêmio. Assim que a maré ruim vier - e ela há de vir - deixará cicatrizes indeléveis.
(A palavra indelével aprendi na quarta-feira e não podia esperar mais para botar em prática)
O campeonato esquenta. Essa última rodada teve média de público de 19.500 pagantes, patamar quase da série A italiana. O torcedor, além de estar empolgado com a disputa, percebeu que, com a atual fraqueza técnica dos elencos, se não encher as arquibancadas o time não vai para frente. E fica provado também que aqui no Brasil a paixão pelos clubes é de um tamanho tal que não importa quem veste as camisas das agremiações, se é um craque, se é um perna-de-pau, o que conta é que o time do coração vai estar em campo.
Como diz meu pai, cujas habilidades de filósofo deixo a cargo do leitor avaliar: "Chegará o dia em que pagaremos ingresso para ver a camisa do Flamengo entrar em campo." Notem que ele se refere apenas à camisa, sem jogador algum para recheá-la. Dá-lhe, papai.
Atualizado às 17:31: Fui avisado de que a lebre na corrida de cachorros nunca é alcançada. Aliás essa é justamente a finalidade dela, manter os bichos em desabalada perseguição durante o trajeto inteiro, sem jamais deixar a correria cessar. Fato que estraga minha metáfora e dinamita por completo qualquer eventual interesse que eu poderia alimentar por essa modalidade esportiva.
A crítica já chegou mais ou menos a um consenso de que uma característica fundamental desse campeonato de pontos corridos são as oscilações que os times inexoravelmente apresentam ao longo da campanha. Os momentos de baixa, comuns aos 20 times, tendem a ser mais profundos e a durar mais quanto mais fraco for o elenco. É o problema do Grêmio. Assim que a maré ruim vier - e ela há de vir - deixará cicatrizes indeléveis.
(A palavra indelével aprendi na quarta-feira e não podia esperar mais para botar em prática)
O campeonato esquenta. Essa última rodada teve média de público de 19.500 pagantes, patamar quase da série A italiana. O torcedor, além de estar empolgado com a disputa, percebeu que, com a atual fraqueza técnica dos elencos, se não encher as arquibancadas o time não vai para frente. E fica provado também que aqui no Brasil a paixão pelos clubes é de um tamanho tal que não importa quem veste as camisas das agremiações, se é um craque, se é um perna-de-pau, o que conta é que o time do coração vai estar em campo.
Como diz meu pai, cujas habilidades de filósofo deixo a cargo do leitor avaliar: "Chegará o dia em que pagaremos ingresso para ver a camisa do Flamengo entrar em campo." Notem que ele se refere apenas à camisa, sem jogador algum para recheá-la. Dá-lhe, papai.
Atualizado às 17:31: Fui avisado de que a lebre na corrida de cachorros nunca é alcançada. Aliás essa é justamente a finalidade dela, manter os bichos em desabalada perseguição durante o trajeto inteiro, sem jamais deixar a correria cessar. Fato que estraga minha metáfora e dinamita por completo qualquer eventual interesse que eu poderia alimentar por essa modalidade esportiva.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Frustrações de quarta à noite
Na noite de ontem vivi um turbilhão de emoções. Alimentava então uma dupla expectativa: ser sorteado na mega-sena e ver o Flamengo massacrar a Portuguesa. O Flamengo empatou e a mega-sena ficou acumulada, o que de certa forma é um empate também, porque ninguém leva.
É cedo demais para dizer que o Flamengo é um cavalo paraguaio. Muitos dos recentes reveses do time, incluindo aí o de ontem, estão mais ligados a lances fortuitos do que a uma suposta incompetência. Contra a Portuguesa, por exemplo, tomou dois gols de pênalti e quando teve um marcado a seu favor não soube converter. Azar? Tem gente atribuindo a urucubaca à "maldição Marcinho", porque desde a saída do meia o Flamengo não ganhou mais. Eu prefiro acreditar na "maldição Tardelli".
Da rodada de ontem posso dizer ainda o seguinte: a vitória do Inter foi uma faca de dois gumes. Porque, se de um lado contém o ímpeto do São Paulo, do outro coloca o colorado cada vez mais na briga. Devemos temer a tríade Alex, Nilmar e D´Alessandro.
A rodada continua hoje. Flamenguistas, como eu, vão concentrar esforços para secar o Grêmio, que vai a Florianópolis pegar o Figueirense. Não tenho medo do clube gaúcho a longo prazo, porque ninguém tem o Celso Roth como técnico impunemente. Mas perder a liderança, por uma rodada que seja, joga uma pressão e uma desconfiança muito grande pra cima de qualquer time. O Flamengo e a torcida lutam deseperadamente, rodada após rodada, para evitar que o sonho desvie do caminho agora cada vez mais provável: o fim.
É cedo demais para dizer que o Flamengo é um cavalo paraguaio. Muitos dos recentes reveses do time, incluindo aí o de ontem, estão mais ligados a lances fortuitos do que a uma suposta incompetência. Contra a Portuguesa, por exemplo, tomou dois gols de pênalti e quando teve um marcado a seu favor não soube converter. Azar? Tem gente atribuindo a urucubaca à "maldição Marcinho", porque desde a saída do meia o Flamengo não ganhou mais. Eu prefiro acreditar na "maldição Tardelli".
Da rodada de ontem posso dizer ainda o seguinte: a vitória do Inter foi uma faca de dois gumes. Porque, se de um lado contém o ímpeto do São Paulo, do outro coloca o colorado cada vez mais na briga. Devemos temer a tríade Alex, Nilmar e D´Alessandro.
A rodada continua hoje. Flamenguistas, como eu, vão concentrar esforços para secar o Grêmio, que vai a Florianópolis pegar o Figueirense. Não tenho medo do clube gaúcho a longo prazo, porque ninguém tem o Celso Roth como técnico impunemente. Mas perder a liderança, por uma rodada que seja, joga uma pressão e uma desconfiança muito grande pra cima de qualquer time. O Flamengo e a torcida lutam deseperadamente, rodada após rodada, para evitar que o sonho desvie do caminho agora cada vez mais provável: o fim.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Outra vez o fantasma
O São Paulo conquistou mais do que respeito nos últimos anos - sua perfomance de rolo compressor nas temporadas recentes ajudaram-no a despertar principalmente o medo nos rivais.
Grande triunfo. Hoje, quando olham para trás na tabela e vêem o São Paulo no encalço, os outros times sentem-se como alguém que foge de assombração: mais cedo ou mais tarde o bicho vai pegar. E quanto mais se teme a tragédia iminente, mais forte ela fica. Não dá para escapar. É como areia movediça.
O São Paulo é um pesadelo, um fantasma, uma sina. Que o diga o Flamengo. O rubro-negro, mais do que ninguém nesse momento, deve estar sentindo os suores causados pela assombração. Na Gávea estas simples sílabas causam terríves sobressaltos: tri-co-lor.
O Flamengo e todos os outros na frente do São Paulo na tabela vão jogar as próximas rodadas contra os adversários em campo e o medo na mente.
Alguém precisa deter o São Paulo, sob pena da assombração ganhar cada vez mais e mais vulto, até o ponto de tornar-se invencível. Mas não é com medo que se combate esse tipo de terror. É com coragem. Aproprio-me aqui de uma estratégia já consagrada pela biologia de choque no que diz respeito ao encontro com tubarões. Diz a ciência que, ao toparmos com uma dessas feras no meio do oceano, devemos não nos intimidar, mas partir para cima num combate encarnecido e furioso. Só assim temos chances de sair com vida. O mesmo vale para tentar deter o São Paulo. O bicho pode parecer feio, até que lhe acertemos o primeiro soco no focinho.
Grande triunfo. Hoje, quando olham para trás na tabela e vêem o São Paulo no encalço, os outros times sentem-se como alguém que foge de assombração: mais cedo ou mais tarde o bicho vai pegar. E quanto mais se teme a tragédia iminente, mais forte ela fica. Não dá para escapar. É como areia movediça.
O São Paulo é um pesadelo, um fantasma, uma sina. Que o diga o Flamengo. O rubro-negro, mais do que ninguém nesse momento, deve estar sentindo os suores causados pela assombração. Na Gávea estas simples sílabas causam terríves sobressaltos: tri-co-lor.
O Flamengo e todos os outros na frente do São Paulo na tabela vão jogar as próximas rodadas contra os adversários em campo e o medo na mente.
Alguém precisa deter o São Paulo, sob pena da assombração ganhar cada vez mais e mais vulto, até o ponto de tornar-se invencível. Mas não é com medo que se combate esse tipo de terror. É com coragem. Aproprio-me aqui de uma estratégia já consagrada pela biologia de choque no que diz respeito ao encontro com tubarões. Diz a ciência que, ao toparmos com uma dessas feras no meio do oceano, devemos não nos intimidar, mas partir para cima num combate encarnecido e furioso. Só assim temos chances de sair com vida. O mesmo vale para tentar deter o São Paulo. O bicho pode parecer feio, até que lhe acertemos o primeiro soco no focinho.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Ares de Milão
Nunca ninguém vai entender essa necessidade que tem o Barcelona de enxotar do clube seus principais jogadores. Catalães...
Ainda se o Ronaldinho Gaúcho fosse um caso perdido para o futebol, vá lá. Mas, para todos aqueles que acompanharam os campeonatos dos últimos anos, é no mínimo prudente desconfiar que ele ainda tenha algo guardado para o público. Digo público porque está claro que se trata de um artista.
Aliás, eu vi outro dia na internet que um dos períodos mais fecundos da carreira do Leonardo da Vinci foi na época em que ele viveu em Milão. Constam da fase milanesa, por exemplo, os clássicos A Virgem nas Rochas e A Última Ceia. Seriam os ares da cidade propícios à atividade criativa? Torço para que sim. Ronaldinho Gaúcho, inspirado, é o único jogador no mundo capaz de surpreender.
É preciso ainda fazer uma observação sobre a má forma física do craque. Jamais se deve comparar a barriga do Ronaldinho com a do Fenômeno. Uma é fruto da inatividade prolongada; a outra, da irresponsabilidade.
De imediato, já vejo uma grande vantagem do Gaúcho ter ido para o Milan. Lá, a probabilidade de formar um trio implacável com o Kaká e o Pato é muito grande. Bastaria para o Dunga apenas reproduzir a formação na seleção, sem precisar mexer em nada. O infalível ctrl c - ctrl v, única estratégia viável para técnicos, digamos, em fase de amadurecimento.
Ainda se o Ronaldinho Gaúcho fosse um caso perdido para o futebol, vá lá. Mas, para todos aqueles que acompanharam os campeonatos dos últimos anos, é no mínimo prudente desconfiar que ele ainda tenha algo guardado para o público. Digo público porque está claro que se trata de um artista.
Aliás, eu vi outro dia na internet que um dos períodos mais fecundos da carreira do Leonardo da Vinci foi na época em que ele viveu em Milão. Constam da fase milanesa, por exemplo, os clássicos A Virgem nas Rochas e A Última Ceia. Seriam os ares da cidade propícios à atividade criativa? Torço para que sim. Ronaldinho Gaúcho, inspirado, é o único jogador no mundo capaz de surpreender.
É preciso ainda fazer uma observação sobre a má forma física do craque. Jamais se deve comparar a barriga do Ronaldinho com a do Fenômeno. Uma é fruto da inatividade prolongada; a outra, da irresponsabilidade.
De imediato, já vejo uma grande vantagem do Gaúcho ter ido para o Milan. Lá, a probabilidade de formar um trio implacável com o Kaká e o Pato é muito grande. Bastaria para o Dunga apenas reproduzir a formação na seleção, sem precisar mexer em nada. O infalível ctrl c - ctrl v, única estratégia viável para técnicos, digamos, em fase de amadurecimento.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
O sorvedouro
Este terrível período em que se abre a temporada de contratações no mercado europeu é mais que uma janela, como vem sendo denominado - trata-se antes de um sorvedouro. Uma boca maligna que de repente se abre sob os pés do desavisado e engole impiedosamente o que vê pela frente.
É medonho. Assistimos a um jogo do nosso time, as coisas correm bem, vamos dormir satisfeitos com o desempenho da equipe e esperançosos de uma boa campanha no campeonato. Na manhã seguinte abrimos os jornais e descobrimos que um de nossos jogadores prediletos foi contratado por um time de fora. E na semana seguinte dá-se o mesmo. E ainda na próxima, e na outra. O tormento dura até o dia trinta e um de agosto.
Nenhum time está livre desse mal.
Contudo há uma incongruência aí. Por que os clubes do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, não conseguem oferecer aos seus jogadores propostas mais atrativas financeiramente do que agremiações da Ucrânia, do Catar ou da Grécia, por exemplo? Os clubes daqui não conseguem desfrutar do aquecimento econômico do país. Talvez porque sejam mal administrados. Ou amaldiçoados.
Menos mal que, no futebol brasileiro, tudo vira folclore. Até os dramas. A tal janela, ou sorvedouro, como propomos aqui, está se consagrando como um elemento apimentador do campeonato. Comenta-se "ah, seu time está bem, mas será que sobreviverá à janela?". Ou ainda, "vamos mal das pernas, mas oxalá a janela deixe os outros times tão ruins quanto o nosso". A Janela, doravante grafada em maiúscula, virou mais um ente do futebol, mais ou menos nos moldes da Altitude.
Chegamos ao ponto em que o torcedor não só vibra com as vitórias do seu time, mas também com cada jogador que recusa uma oferta do estrangeiro. E, sobretudo, reza-se para que os euros ou petrodólares de além-mar apontem seus olhos cobiçosos sempre para o plantel do adversário. Jamais para o nosso. É quase uma torcida insana contra o destino. Nada mais futebolesco.
É medonho. Assistimos a um jogo do nosso time, as coisas correm bem, vamos dormir satisfeitos com o desempenho da equipe e esperançosos de uma boa campanha no campeonato. Na manhã seguinte abrimos os jornais e descobrimos que um de nossos jogadores prediletos foi contratado por um time de fora. E na semana seguinte dá-se o mesmo. E ainda na próxima, e na outra. O tormento dura até o dia trinta e um de agosto.
Nenhum time está livre desse mal.
Contudo há uma incongruência aí. Por que os clubes do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, não conseguem oferecer aos seus jogadores propostas mais atrativas financeiramente do que agremiações da Ucrânia, do Catar ou da Grécia, por exemplo? Os clubes daqui não conseguem desfrutar do aquecimento econômico do país. Talvez porque sejam mal administrados. Ou amaldiçoados.
Menos mal que, no futebol brasileiro, tudo vira folclore. Até os dramas. A tal janela, ou sorvedouro, como propomos aqui, está se consagrando como um elemento apimentador do campeonato. Comenta-se "ah, seu time está bem, mas será que sobreviverá à janela?". Ou ainda, "vamos mal das pernas, mas oxalá a janela deixe os outros times tão ruins quanto o nosso". A Janela, doravante grafada em maiúscula, virou mais um ente do futebol, mais ou menos nos moldes da Altitude.
Chegamos ao ponto em que o torcedor não só vibra com as vitórias do seu time, mas também com cada jogador que recusa uma oferta do estrangeiro. E, sobretudo, reza-se para que os euros ou petrodólares de além-mar apontem seus olhos cobiçosos sempre para o plantel do adversário. Jamais para o nosso. É quase uma torcida insana contra o destino. Nada mais futebolesco.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
O preço da parceria
Fracassos do Palmeiras no campeonato estão vindo acompanhados da explicação de que muitos jogadores do time, os principais, inclusive, estão com a cabeça em futuros contratos com a Europa. De fato, tem gente contando as horas para pegar o primeiro avião rumo ao velho continente. Mas lembremo-nos que foi o próprio Palmeiras que assim o quis. Quando selou aliança com uma empresa de marketing esportivo no início da temporada, a diretoria tinha ciência de que um dos objetivos do parceiro era fazer dinheiro rápido, comprando atletas para o elenco e então vendê-los em seguida, assim que houvesse valorização do passe.
Conseguir bons jogadores para o time, mas ficar com eles por apenas quatro ou cinco meses, vale a pena? O ônus compensa o bônus? Ou o efeito colateral sobrepuja os benefícios do remédio?
Meu irmão, que é palmeirense e otimista, aprova o pacto com a Traffic. Para ele, enquanto caras habilidosos continuarem indo para o time, não faz mal nenhum que durem por lá apenas o período de algumas rodadas. O que importa é o elenco estar sempre reforçado. Quer um exemplo de que essa filosofia dá certo?, pergunta o sonhador, veja aí o título do campeonato paulista.
Devagar com o andor. Algumas ressalvas não podem ser ignoradas. Primeiro, esse tipo de planejamento destrói qualquer possibilidade do time criar ídolos. E a falta de um ídolo acaba distanciando a equipe da torcida, deixando mais fria a relação entre a arquibancada e o gramado. Acho que do ponto de vista comercial a carência de alguém que se possa identificar com a camisa do clube também causa certo estrago. Fora o Marcos, não tem ninguém de quem hoje se possa dizer "esse aí é a cara do Palmeiras".
Outro prejuízo decorrente da parceria, nos moldes como é conduzida, é exatamente a justificativa usada toda vez que o Palmeiras derrapa. Os jogadores ficam com a cabeça longe, nos futuros contratos, no futuro time. É natural que assim seja, mesmo porque a maioria encara o Palmeiras como um trampolim - o próprio time assumiu para si essa condição, a partir do momento que selou a aliança e concordou com seus termos.
E, por fim, e talvez o mais preocupante, seja isto: como fica o time depois que o parceiro for embora? O próprio Palmeiras está calejado da experiência que teve finda a era Parmalat. O rebaixamento para a segunda divisão em 2002, por exemplo, aconteceu nessa ressaca. O Corinthians, passada a euforia do primeiro impacto da MSI, ficou igualmente aos frangalhos e também foi rebaixado. Isso para ficarmos nos casos mais recentes.
Até aqui, na décima-primeira rodada do campeonato, o Palmeiras ainda é apontado como um dos favoritos. Isso graças aos jogadores que tem. Mas não convence e perde pontos fáceis. Conseguirá o time do Palestra Itália contornar as dificuldades? Entenderão os jogadores que, mais do que um trampolim, é a camisa de um dos maiores clubes do Brasil que eles defendem? De questões assim depende o curto-prazo palmeirense. Enquanto isso, vê a ponta da tabela mais distante a cada rodada.
Conseguir bons jogadores para o time, mas ficar com eles por apenas quatro ou cinco meses, vale a pena? O ônus compensa o bônus? Ou o efeito colateral sobrepuja os benefícios do remédio?
Meu irmão, que é palmeirense e otimista, aprova o pacto com a Traffic. Para ele, enquanto caras habilidosos continuarem indo para o time, não faz mal nenhum que durem por lá apenas o período de algumas rodadas. O que importa é o elenco estar sempre reforçado. Quer um exemplo de que essa filosofia dá certo?, pergunta o sonhador, veja aí o título do campeonato paulista.
Devagar com o andor. Algumas ressalvas não podem ser ignoradas. Primeiro, esse tipo de planejamento destrói qualquer possibilidade do time criar ídolos. E a falta de um ídolo acaba distanciando a equipe da torcida, deixando mais fria a relação entre a arquibancada e o gramado. Acho que do ponto de vista comercial a carência de alguém que se possa identificar com a camisa do clube também causa certo estrago. Fora o Marcos, não tem ninguém de quem hoje se possa dizer "esse aí é a cara do Palmeiras".
Outro prejuízo decorrente da parceria, nos moldes como é conduzida, é exatamente a justificativa usada toda vez que o Palmeiras derrapa. Os jogadores ficam com a cabeça longe, nos futuros contratos, no futuro time. É natural que assim seja, mesmo porque a maioria encara o Palmeiras como um trampolim - o próprio time assumiu para si essa condição, a partir do momento que selou a aliança e concordou com seus termos.
E, por fim, e talvez o mais preocupante, seja isto: como fica o time depois que o parceiro for embora? O próprio Palmeiras está calejado da experiência que teve finda a era Parmalat. O rebaixamento para a segunda divisão em 2002, por exemplo, aconteceu nessa ressaca. O Corinthians, passada a euforia do primeiro impacto da MSI, ficou igualmente aos frangalhos e também foi rebaixado. Isso para ficarmos nos casos mais recentes.
Até aqui, na décima-primeira rodada do campeonato, o Palmeiras ainda é apontado como um dos favoritos. Isso graças aos jogadores que tem. Mas não convence e perde pontos fáceis. Conseguirá o time do Palestra Itália contornar as dificuldades? Entenderão os jogadores que, mais do que um trampolim, é a camisa de um dos maiores clubes do Brasil que eles defendem? De questões assim depende o curto-prazo palmeirense. Enquanto isso, vê a ponta da tabela mais distante a cada rodada.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Mistérios da meia-noite
A respeito do rendez-vous protagonizado pelos jogadores do Flamengo na madrugada de Belo Horizonte, não admira que o Marcinho tenha esbofeteado sua parceira, nem que o Tardelli tenha sido um dos convivas, nem que o Bruno fosse o anfitrião - apenas uma questão me inquieta: onde estava o Sousa que não tomou parte dos festejos?
A reserva de Obina não tem feito bem a esse garoto.
A reserva de Obina não tem feito bem a esse garoto.
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Ibson fica
- Ibson fica.
Com essas doces palavras fui despertado na não menos doce manhã da terça-feira. Meu pai veio trazer a notícia. Eram 7 da manhã? Seis e meia? Não importa. Achei que ainda sonhava. Mas era a mais pura verdade.
Eu e meu pai não temos quase nada em comum, salvo alguns cromossomos e o Flamengo. É bonito quando o futebol une as pessoas. Um dia os céticos ainda vão dar o verdadeiro valor a esse esporte.
A permanência de Ibson é uma vitória para o Flamengo. Ele faz de tudo no jogo, da defesa ao ataque - e com categoria. O hexa amadurece.
Mas dizem que os alemães do Hertha Berlim não se dão por vencidos e vão fazer de tudo para levar nosso camisa 7. Isso significa que continua a luta. Tudo bem, ninguém disse que iria ser fácil. E quando chegar em casa já tenho uma conversa para puxar com o papai:
- E aí? Ibson fica?
Com essas doces palavras fui despertado na não menos doce manhã da terça-feira. Meu pai veio trazer a notícia. Eram 7 da manhã? Seis e meia? Não importa. Achei que ainda sonhava. Mas era a mais pura verdade.
Eu e meu pai não temos quase nada em comum, salvo alguns cromossomos e o Flamengo. É bonito quando o futebol une as pessoas. Um dia os céticos ainda vão dar o verdadeiro valor a esse esporte.
A permanência de Ibson é uma vitória para o Flamengo. Ele faz de tudo no jogo, da defesa ao ataque - e com categoria. O hexa amadurece.
Mas dizem que os alemães do Hertha Berlim não se dão por vencidos e vão fazer de tudo para levar nosso camisa 7. Isso significa que continua a luta. Tudo bem, ninguém disse que iria ser fácil. E quando chegar em casa já tenho uma conversa para puxar com o papai:
- E aí? Ibson fica?
quinta-feira, 3 de julho de 2008
Lágrimas D. U.
Num jogo alucinante, em que o Fluminense foi absolutamente heróico e ficou a apenas um gol de conquistar o maior título da sua história, toda explicação que se tenta dar para o insucesso esbarra nisto: o futebol não tem lógica.
Por mais que os cientistas do futebol tentem traduzir em teses e sistemas os motivos que levaram à tragédia, mesmo que se esmerem em conferir um aspecto de causa e consequência a fatos imponderáveis, nunca conseguirão decifrar por quê um time que precisava fazer quatro gols, fez três em 55 minutos, teve outros 65 para marcar um golzinho que fosse e não conseguiu. Ou por quê três dos jogadores mais decisivos da equipe erraram na cobrança de pênaltis.
Explicações como: o time perdeu por causa do oba-oba do treinador; o esquema tático não foi o adequado; o juiz amarrou o jogo; o Fluminense não deveria ter poupado seus jogadores no Brasileirão etc. - tudo isso é simples demais, e insuficiente.
Quando a ciência não basta, apelamos para outra forma de conhecimento, a poesia. Por isso, peço emprestado o verso de meu compadre Lançarote do Lago, que traduz à perfeição o que aconteceu no jogo de ontem. Diz ele:
"O Maracanã também foi feito para chorar."
Por mais que os cientistas do futebol tentem traduzir em teses e sistemas os motivos que levaram à tragédia, mesmo que se esmerem em conferir um aspecto de causa e consequência a fatos imponderáveis, nunca conseguirão decifrar por quê um time que precisava fazer quatro gols, fez três em 55 minutos, teve outros 65 para marcar um golzinho que fosse e não conseguiu. Ou por quê três dos jogadores mais decisivos da equipe erraram na cobrança de pênaltis.
Explicações como: o time perdeu por causa do oba-oba do treinador; o esquema tático não foi o adequado; o juiz amarrou o jogo; o Fluminense não deveria ter poupado seus jogadores no Brasileirão etc. - tudo isso é simples demais, e insuficiente.
Quando a ciência não basta, apelamos para outra forma de conhecimento, a poesia. Por isso, peço emprestado o verso de meu compadre Lançarote do Lago, que traduz à perfeição o que aconteceu no jogo de ontem. Diz ele:
"O Maracanã também foi feito para chorar."
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