segunda-feira, 14 de julho de 2008

O preço da parceria

Fracassos do Palmeiras no campeonato estão vindo acompanhados da explicação de que muitos jogadores do time, os principais, inclusive, estão com a cabeça em futuros contratos com a Europa. De fato, tem gente contando as horas para pegar o primeiro avião rumo ao velho continente. Mas lembremo-nos que foi o próprio Palmeiras que assim o quis. Quando selou aliança com uma empresa de marketing esportivo no início da temporada, a diretoria tinha ciência de que um dos objetivos do parceiro era fazer dinheiro rápido, comprando atletas para o elenco e então vendê-los em seguida, assim que houvesse valorização do passe.

Conseguir bons jogadores para o time, mas ficar com eles por apenas quatro ou cinco meses, vale a pena? O ônus compensa o bônus? Ou o efeito colateral sobrepuja os benefícios do remédio?

Meu irmão, que é palmeirense e otimista, aprova o pacto com a Traffic. Para ele, enquanto caras habilidosos continuarem indo para o time, não faz mal nenhum que durem por lá apenas o período de algumas rodadas. O que importa é o elenco estar sempre reforçado. Quer um exemplo de que essa filosofia dá certo?, pergunta o sonhador, veja aí o título do campeonato paulista.

Devagar com o andor. Algumas ressalvas não podem ser ignoradas. Primeiro, esse tipo de planejamento destrói qualquer possibilidade do time criar ídolos. E a falta de um ídolo acaba distanciando a equipe da torcida, deixando mais fria a relação entre a arquibancada e o gramado. Acho que do ponto de vista comercial a carência de alguém que se possa identificar com a camisa do clube também causa certo estrago. Fora o Marcos, não tem ninguém de quem hoje se possa dizer "esse aí é a cara do Palmeiras".

Outro prejuízo decorrente da parceria, nos moldes como é conduzida, é exatamente a justificativa usada toda vez que o Palmeiras derrapa. Os jogadores ficam com a cabeça longe, nos futuros contratos, no futuro time. É natural que assim seja, mesmo porque a maioria encara o Palmeiras como um trampolim - o próprio time assumiu para si essa condição, a partir do momento que selou a aliança e concordou com seus termos.

E, por fim, e talvez o mais preocupante, seja isto: como fica o time depois que o parceiro for embora? O próprio Palmeiras está calejado da experiência que teve finda a era Parmalat. O rebaixamento para a segunda divisão em 2002, por exemplo, aconteceu nessa ressaca. O Corinthians, passada a euforia do primeiro impacto da MSI, ficou igualmente aos frangalhos e também foi rebaixado. Isso para ficarmos nos casos mais recentes.

Até aqui, na décima-primeira rodada do campeonato, o Palmeiras ainda é apontado como um dos favoritos. Isso graças aos jogadores que tem. Mas não convence e perde pontos fáceis. Conseguirá o time do Palestra Itália contornar as dificuldades? Entenderão os jogadores que, mais do que um trampolim, é a camisa de um dos maiores clubes do Brasil que eles defendem? De questões assim depende o curto-prazo palmeirense. Enquanto isso, vê a ponta da tabela mais distante a cada rodada.

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