quinta-feira, 17 de julho de 2008

O sorvedouro

Este terrível período em que se abre a temporada de contratações no mercado europeu é mais que uma janela, como vem sendo denominado - trata-se antes de um sorvedouro. Uma boca maligna que de repente se abre sob os pés do desavisado e engole impiedosamente o que vê pela frente.

É medonho. Assistimos a um jogo do nosso time, as coisas correm bem, vamos dormir satisfeitos com o desempenho da equipe e esperançosos de uma boa campanha no campeonato. Na manhã seguinte abrimos os jornais e descobrimos que um de nossos jogadores prediletos foi contratado por um time de fora. E na semana seguinte dá-se o mesmo. E ainda na próxima, e na outra. O tormento dura até o dia trinta e um de agosto.

Nenhum time está livre desse mal.

Contudo há uma incongruência aí. Por que os clubes do Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, não conseguem oferecer aos seus jogadores propostas mais atrativas financeiramente do que agremiações da Ucrânia, do Catar ou da Grécia, por exemplo? Os clubes daqui não conseguem desfrutar do aquecimento econômico do país. Talvez porque sejam mal administrados. Ou amaldiçoados.

Menos mal que, no futebol brasileiro, tudo vira folclore. Até os dramas. A tal janela, ou sorvedouro, como propomos aqui, está se consagrando como um elemento apimentador do campeonato. Comenta-se "ah, seu time está bem, mas será que sobreviverá à janela?". Ou ainda, "vamos mal das pernas, mas oxalá a janela deixe os outros times tão ruins quanto o nosso". A Janela, doravante grafada em maiúscula, virou mais um ente do futebol, mais ou menos nos moldes da Altitude.

Chegamos ao ponto em que o torcedor não só vibra com as vitórias do seu time, mas também com cada jogador que recusa uma oferta do estrangeiro. E, sobretudo, reza-se para que os euros ou petrodólares de além-mar apontem seus olhos cobiçosos sempre para o plantel do adversário. Jamais para o nosso. É quase uma torcida insana contra o destino. Nada mais futebolesco.

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