domingo, 1 de março de 2009

No futebol e na vida

Um dos clichês mais chatos dos cronistas esportivos metidos a poetas é insistir no futebol como um pequeno universo mágico no qual estão contidos todos os mistérios da existência. Usam sempre aquela frase, "no futebol, como na vida...". Já cansei de ler e ouvir isso por aí. O que esses comentaristas querem é atribuir um ar de grandeza ao trabalho deles. "Eu não falo apenas de futebol, eu falo do universal". Como se escrever "apenas" de futebol fosse pouca coisa.

Mas hoje é dia de dar o braço a torcer e pedir licença aos filósofos da crônica esportiva para usarmos um pouco de sua sabedoria. Porque vendo o jogo do Botafogo contra o Resende, naquele Maracanã emocionante de tão lotado, o que me passou pela cabeça foi o seguinte: no futebol, como na vida, tudo o que as pessoas querem é uma chance para se deixar iludir.

Sabemos muito bem que a final de hoje representa pouquísimo ou quase nada para a história do Botafogo. Um título da Taça Guanabara, atualmente, equivale mais ou menos ao de um torneio de verão, daqueles de tiro curto, que servem só para aquecer os tamborins para o filé mignon da temporada. Ainda se a partida fosse contra um dos grandes rivais, alguma euforia era justificada. Mas do outro lado do campo estava o inexpressivo Resende, um adversário tão fraco que em nada poderia contribuir para tornar o jogo interessante.

Por isso foi surpreendente ver 75 mil botafoguenses cantando no Maracanã. Entendi que, no fundo, o torcedor só quer um motivo, mínimo que seja, para mostrar o orgulho que tem do seu time. Isso é bonito, é como dizer: "eu te amo, mesmo sabendo que seus feitos não valem tanta coisa assim".

Não há dúvida de que os botafoguenses estarão insuportáveis ao longo da semana, comemorando a Taça Guanabara como se tivessem levado a Copa do Mundo. Vai ter gente falando que o time é um dos favoritos para o Brasileiro. Paciência. Alguns deles até sabem que há uma dose de exagero nisso tudo, mas mesmo assim se permitirão viver a fantasia, enquanto ela durar. Pode ser só até o próximo jogo.

Essa foi uma boa lição, ganhei o domingo. Às vezes a gente acha que é ridículo se entregar ao devaneio, que a realidade deve ser encarada com o máximo de rigor e racionalidade. Não surpreende cotidiano ser um fardo para a maioria de nós. Talvez seja hora de nos consentirmos um pouco mais de ilusão. No futebol e na vida.

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