quinta-feira, 7 de maio de 2009

Barcelona: um espírito

O Barcelona, mesmo quando não é brilhante, emociona. No jogo de ontem contra o Chelsea não foi o carrossel das últimas partidas, mas procurou o ataque o tempo todo, pouco ligando se jogava fora de casa. Isso, no futebol de hoje, é coisa para loucos. Há certa carência de loucura no mundo.

Falamos de um time que deu vida à utopia. Graças ao Barcelona, caiu a falácia de que espetáculo e resultado são objetivos inconciliáveis. O estrago causado pela derrota do Brasil em 82 é aos poucos reparado pelas glórias do time catalão. O Chelsea representa exatamente oposto - era fundamental que não triunfasse. Ontem o sonho subjugou a realidade; a fantasia, o pragmatismo.

A seleção brasileira poderia se inspirar nesse exemplo, mesmo porque tem à disposição os jogadores mais hábeis do mundo. Mas o time desperdiça, ano após ano, a oportunidade de encantar e fazer história. Prefere colecionar empates e vitórias pouco convincentes. Dunga chama a isso "o futebol moderno". Falta ao treinador, mas não só a ele, a várias pessoas do nosso tempo, em todos os campos de atividades, um pouco do Espírito Barcelona. Uma força que nos impele a buscar o sublime, mesmo que isso nos coloque ainda mais próximos do fracasso. Eis um exemplo: numa aula da faculdade, o professor, defendendo o pragmatismo e o pé-no-chão na atividade artística, perguntou:

- Por que tentar, a cada trabalho, fazer a obra de nossas vidas?

E um aluno, talvez a mesma pessoa que escreve estas linhas, respondeu:

- Porque pode ser a última.

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