terça-feira, 2 de setembro de 2008

A polêmica da paradinha

As recentes discussões em torno da legalidade ou não da paradinha na hora de cobrar o pênalti pervertem uma máxima que há muito tempo vem sendo repetida no futebol. Ao contrário do que dizem por aí, a regra não é clara. Talvez eu fique famoso defendendo esse contra-jargão: "a regra é obscura".

Tanta discussão tem acontecido justamente porque o livro que dita as normas do jogo não é esclarecedor sobre a conduta do batedor da penalidade. Não fica certo o que pode e o que não pode fazer. Nesse vácuo institucional - expressão que importo das páginas políticas - prolifera o expediente da paradinha. O árbitro fica de mãos atadas, já que, a rigor, não se trata de uma irregularidade prevista em "lei".

O curioso é que toda essa comoção da crônica esportiva com relação à paradinha só ganhou corpo mesmo depois que o Marcos foi vítima de um pênalti batido assim. Enquanto o Alex Mineiro e outros jogadores cansavam de utilizar dessa estratégia, o assunto quase não era comentado na crônica esportiva. Foi preciso o goleiro-ídolo do Palmeiras ter caído no golpe para chamar a atenção das pessoas. E agora tem gente revoltada dizendo que a paradinha é uma deselegância, ainda mais quando "deixa um goleiro do porte do Marcão completamente vendido no lance".

Eu não acho que a paradinha seja deselegante, anti-ética ou demonstração de falta de caráter. Também não estou entre os que vêem nela mais uma manifestação do famigerado jeitinho brasileiro. A paradinha é mais um recurso do jogo, como o drible ou a cobrança de falta ensaiada, que pode ser usado para ludibriar o adversário. Sempre em busca da vitória, claro. Até onde se sabe, o esporte é feito justamente disso: oponentes desenvolvendo estratégias, dentro da regra, para tentar suplantar um ao outro.

Se assim não fosse, os dribles do Garrincha deveriam também ser condenados como anti-desportivos. O futebol não é como o tênis, onde um jogador se desculpa com o outro quando faz um ponto acidental, daqueles em que a bola bate na fita e morre sorrateira na quadra adversária. Ou alguém já viu um centroavante errar o chute, fazer o gol e ir prestar sua solidariedade ao goleiro? O futebol não é um lorde, é um moleque. É aí que está a graça.

Um comentário:

Guilherme Sousa Rocha disse...

A polêmica não aconteceu por causa do Marcos, mas pq o Alex Mineiro foi ameaçado numa partida anterior de levar cartão caso fizesse a paradinha.