segunda-feira, 3 de março de 2008

Pela graça no futebol

A celeuma criada em torno da comemoração do Souza é mais um irritante capítulo da ditadura do politicamente correto que toma conta do Brasil.

Por falta de criatividade, coragem ou inteligência, as pessoas preferem adotar posturas e opiniões que não firam o lugar-comum. Quando alguém tenta ir além da pasmaceira, é porque está sendo “polêmico”.

Desde que não haja ofensas, baixaria ou violência, não vejo problema algum em suscitar polêmica. Ainda mais no futebol, que é, sobretudo, um espetáculo de entretenimento - e não uma assembléia de lordes, como alguns jogadores, técnicos e dirigentes parecem estar convencidos.

A provocação do Souza é daqueles temperos que fazem do futebol mais que um esporte. Tenho certeza que, a partir de agora, milhões de peladeiros Brasil afora vão levar as mão aos olhos e simular um choro copioso quando marcarem seu gols. O próprio Valdivia já incorporou a comemoração ao seu repertório. Isso sem falar nas inúmeras discussões que o gesto tem rendido desde a última quarta-feira. O Souza prestou uma valiosa contribuição para o vasto e singular folclore do futebol brasileiro.

Atribuo ainda outro mérito para o polêmico camisa nove rubro-negro. Ele está ajudando a resgatar um elemento fundamental para a emoção no futebol: a raiva pelo adversário. Até outro dia mesmo, eu, que sou flamenguista, não via muita graça em ganhar do Botafogo, porque tinha pena do Cuca e de seus comandados. A rotina de desilusões alvinegras despertava minha compaixão. Tanto que eu achava mais divertido enfrentar o Fluminense na final da Taça Guanabara. Agora, espezinhados pela irreverência do Souza, os profissionais de General Severiano finalmente começaram a dar declarações capazes de reacender a rivalidade. A ponto de que as duas torcidas, a crônica esportiva e mesmo os jogadores esperam ansiosos pelo próximo clássico entre Flamengo e Botafogo.

Caso os ânimos acirrados redundem em violência no campo e nas arquibancadas, seria um erro atribuir a responsabilidade ao Souza. As pessoas que sabem tirar um sarro sem ofender não podem pagar pela ignorância daquelas que, desprovidas de recursos mentais mais sofisticados, respondem à qualquer ato de irreverência apelando para a brutalidade

Um comentário:

Guilherme Sousa Rocha disse...

Concordo em gênero, número e grau